Prólogo - O Garoto no sótão

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Uma quente luz de verão entrava pela janela do quarto enquanto segurava o anel de bronze dado pelo pai. Na rua era possível assistir as crianças brincando em meio as calçadas e além das cercas vivas devidamente aparadas, em seus joelhos as marcas do dia anterior em meio a brincadeiras na floresta, mas que agora cobravam o preço de ficar alguns dias de repouso enclausurado em seu quarto. Desanimado e chateado por ter de ali ficar, Guittan abre uma de suas gavetas da cômoda ao lado de sua cama e saca algumas cartas de seu pai, Kaus Austris, esparramando-se sobre a cama ele passa a rele-las. As cartas escritas por seu pai descrevem as maravilhas do mundo de Lemuria, as demais raças, seus costumes, culturas e a incrível técnica com arco e flecha aprendida com os Elfos das florestas de Lothloryen, técnicas estas que Kaus lhe ensinaria quando voltasse da guerra. Perdido em seus pensamentos, sonhos e imaginações....

-OOOORCCCCSSSS!!!!

O sino da catedral de Rosie Posie soa alertando do perigo iminente de invasão dos orcs sombrios. Familiares corriam em busca de seus filhos e crianças, janelas se fechavam abruptamente, barulhos de trancas e gritos tornavam-se frequentes na pacata cidade de uma única rua. Assustado o garoto observa o avanço da horda pela rua ladrilhada. Os militares tentam de modo infrutífero dar tempo aos habitantes, para que possam correr e se esconder, buscando sobreviver ao inevitável ataque. De trás do garoto um grande estrondo ecoa pelo seu quarto e a frágil porta jaz arrombada no chão.

-Guittan, rápido venha por aqui! Ordena uma voz sulista firme, mas conhecida, era Cinyd a criada da família, uma moça do extremo sul de Lemuria, que aprendeu desde criança como se manter viva em plena guerra aos demônios de Cordelia. Em um breve puxão Guittan se vê suspenso, seus pés deslizam sobre o chão, quase sem toca-lo, enquanto Cinyd corre escadas acima. Nos andares abaixo é possível ouvir sua mãe, Sper, dando ordens aos demais criados para isolarem a casa e se prepararem para o combate, demonstrando um grande controle diante do perigo, assim como o esperado da esposa do coronel do conclave dos patrulheiros das raças livres de Alexandria.

Escondido em meio as sombras do sótão empoeirado, com medo e inseguro, movimentos inconscientes o fazem esfregar o anel compulsivamente diante das lágrimas que lhe brotam no rosto jovem e assustado. Seu único pensamento era encontrar uma parte dentro de seu ser que pudesse lhe dar conforto em meio a gritos de fúria, dor e ao grunhir das criaturas invasoras. Como em um suspiro de medo e pavor, todo o som nos andares abaixo é subjugado por uma pressão atordoadora, desfocando sua visão. Golpes de lâminas deformadas e toscas, mas portadora de um fio bom o suficiente para separar uma cabeça de seu tronco, irrompem da entrada do sótão, deixando a porta em frangalhos. Em um gesto de pavor o garoto cobre a boca com as mãos engolindo em seco o grito que ansiava por sair. A criatura a menos de um braço de distância, para focada no garoto, mas parece olhar no vazio, apenas sombras é o que seus olhos grandes, vermelhos e incrivelmente amedrontadores conseguem perceber. Com leves movimentos de seu focinho ou alguma outra estrutura que faria as vezes de nariz, o orc busca odores humanos, mas sem nada a notar, a criatura horrenda da meia volta e desce pesadamente as escadas para se juntar a horda.

Incapaz de comandar os próprios membros o garoto se vê preso em uma muralha de carne e osso, desabando sobre seu peso em um sono sem sonhos, para dias depois ser encontrado pelas tropas de Alexandria.

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⏰ Última atualização: Mar 14, 2018 ⏰

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