Carmesim [EM BREVE]

I

 

  As pernas esbeltas da dama atravessaram a janela de seu quarto, seu corpo sendo atraído pela gravidade enquanto dedos seguravam seu peso através do peitoril. Soltou-se e seus pés tocaram o chão com brutalidade, adrenalina e queimação passeando por suas veias.

Katherine apreciava a dor assim como a qualquer coisa que a fizesse sentir-se viva.

Sabia que poderia sair quando quisesse, ninguém a iria impedir, mas gostava de fingir que o que fazia todas as noites era errado, com a emoção de praticar algo que não lhe era permitido.

A barra da camisola branca se arrastava pelo chão a cada passo seu, olhos inspecionavam todo o canto por onde vagava. Seus cabelos brilhavam sob a luz da lua, tornando-a semelhante a algum tipo de criatura divina com sua aparência mordazmente angelical. 

Minutos depois Katherine chegara a um dos seus lugares favoritos da cidade. Numa deserta e maltratada estradinha de pedras oscilantes e cercada por uma limitada e sombria floresta, ela se sentia livre.

Seguindo seu rumo, a moça adentrou no lúgubre bosque. As árvores altas dificultavam a visão e serviam como obstáculos durante todo o caminho. Em alguns pontos no qual a luz da lua se infiltrava e marcava sua presença timidamente, era possível enxergar as folhas secas e alguns gravetos que soltavam pequenos ruídos a cada passo dado.

Katherine não costumava ir até lá durante a semana, mas nesta sexta ela sentiu que precisava abrir uma exceção. Ao receber a notícia que o pretendido de sua irmã almoçaria em sua casa no dia seguinte, apenas precisava espairecer e tentar organizar o misto de sentimentos que invadiam o seu interior por todos os lados.

Após um longo tempo andando sobre o solo arenoso, Katherine avistou uma luz procedente do lugar que era o seu destino a partir do instante em que pisou os pés para fora de sua casa.

Ao se achegar com cautela, captou uma bela fogueira no centro do vasto círculo circundado de árvores que limitavam sua visão do espaço. Ao avistar alguns homens sentados em troncos ao redor da fogueira, se escondeu atrás de uma das centenas de árvores que ali haviam e aguçou sua audição para ouvir sobre o que conversavam.

  — Mais um corpo foi encontrado, desta vez nas florestas próximas ao rio Severn. Se não fizermos nada para pegar a besta que está gerando isso, a população descobrirá a verdade e o caos será inserido de uma maneira que seremos inaptos para deter.

  — Nós precisamos encontrá-los. Esses malditos demo...

Katherine parou de prestar atenção quando avistou um vulto a sua direita e os passos da sombra se aproximando. Estava tão atenta à conversa que não percebeu alguém a chegar perto.

O homem estava a poucos metros de si e se fosse um pouco mais para o lado esquerdo seria capaz de vê-la.

A mulher recuou-se  apressada e cautelosamente para longe das pessoas dali e quando estava relativamente distante, seus pés esmagaram um graveto que se quebrou em um ruído cortado pelo silêncio da floresta.

Olhando para trás alarmada, Kath viu o homem que estava entre as sombras se deter e olhar em  sua direção. O olhar de ambos se cruzaram sob a luz do luar e Katherine correu o mais rápido que pôde segurando seu vestido agora encardido. Apesar de seus esforços, o sujeito a alcançou quando já estavam consideravelmente longe da fogueira com o agrupamento de quatro homens.

Katherine parou sua corrida repentinamente quando seu tronco atingiu a sombra a sua frente. Ia caindo quando fortes mãos a seguraram brutalmente e impeliram até um grande tronco que atingiu suas costas.

  — Quem é você?

  — O que está fazendo aqui? — Katherine indagou de volta ignorando a pergunta que havia sido feita a ela.