My sweet little marvelous diary,Era 1980 e morávamos no Rio de Janeiro, e, OMG, como eu amava aquele lugar. Eram tantas pessoas sorridentes, tantos casais apreciando um bom passeio na Praça Paris e eu só sabia ficar encantada, até porque eu sabia que um dia eu teria aquele mesmo passeio com o amor da minha vida; o que realmente não sabia era que para chegar nesse tão sonhado dia, eu iria ter grandes e horrorosos desafios pela frente...
Sabe do que eu mais gostava de fazer quando criança? De ir à Biblioteca Nacional, que por sinal, era a melhor coisa da nossa cidade, ao menos pra mim né? Confesso que era uma criança estranha e, por falar em criança, estou no auge dos meus oito anos e feliz da vida porque tenho a quem me levar para esse mundo encantador da biblioteca, por poder conhecer Moby Dick, Dorian Gray, Sherlock Holmes... mas a seção que REALMENTE me encantava (perceba minha felicidade) era a de romance. Eu juro... poderia passar horas ali que nem via o dia escurecer.
Meu pai foi uma grande ajuda nessa minha saga. Não sei porque ele passava tanto tempo em casa, mas passava...
Brianna achou seu diário que estava amontoado com umas roupas que seriam doadas para a Igreja no dia seguinte. A cada folheada que dava, uma memória a surpreendia, porém foi nesse relato da sua paixão pela biblioteca, que a fez perceber a ingenuidade existente na mente de uma criança. Relembrou também porque seu pai estava sempre disposto a leva-la em todos os lugares que queria ir e porque sua mãe não podia fazer isso.
Nessa época, seu pai havia optado por ficar em casa enquanto sua mãe ficava o dia todo sufocada entre os livros, catalogando-os e os colocando em suas devidas estantes, e era por conta desse esforço que Brianna sempre colocava os livros no mesmo lugar em que os pegava, sabia que sua mãe trabalhava duro e que nem todo mundo tinha essa noção de arrumação, o que sempre atrasava sua volta para casa.
Já estava indo para os seus dezesseis anos e estava na hora de pensar o que queria ser quando fosse adulta. Havia pensado em todos os tipos de trabalho, desde ser professora, porque adorava literatura e queria propagar esse amor em outras pessoas, até em ser advogada, já que era a melhor do time de debate de sua escola.
E por falar em escola... aquele era seu segundo lugar preferido pelo simples fato de Ben ser o mais belo capitão de futebol que já havia visto em toda sua vida. Ele era alto, os olhos mais verdes do que uma esmeralda, um cabelo castanho tão bem alinhado que parecia que ele era bem mais velho e possuía o corpo tão definido que a blusa chegava se alinhar em seus músculos, e o mais importante é que ele gostava da atenção e de todos os olhares por onde passava.
O time de futebol era praticamente formado pelos bad-boys da escola e t-o-d-a garota era louca para receber um simples "Oi" de qualquer um deles, o que Brianna achava bem idiota, mas se Ben fizesse isso ela teria um ataque no meio do corredor da escola. Por mais que todo mundo soubesse que haviam onze pessoas no time de futebol, só prestavam atenção em apenas quatro deles: Ben, Phillip, Clark e Julian. Clark e Phillip eram os piores, reclamavam de tudo que era possível e viviam competindo entre si sobre quem namorava mais e, claro, as garotas sempre ajudavam nesse quesito pensando que era uma "honra" em ser motivo de competição. Julian era o mais legal deles, sempre era simpático e não participava dessa competição dos amigos; cresceu na mesma rua de Brianna e talvez seja por isso que eles sempre se cumprimentavam ao passar um pelo outro, até porque por muitos anos foram melhores amigos um do outro.
Brianna sempre foi muito alienada em esportes e principalmente em amizades. Cultivou uma amizade por anos com Julian, até que se separaram após ele entrar para o time de futebol, o que fazia com que ele passasse maior parte do tempo na escola. Com isso, Brianna conheceu Abigail, uma desajeitada que seria o par perfeito para uma amizade duradoura. As duas eram o oposto da outra e a única coisa que haviam em comum era o amor pelos livros, só que Abigail era mais uma nerd por sempre preferir HQ's e livros de ficção científica.
Bree conheceu sua melhor amiga após Abigail se mudar com seus pais a três quarteirões e ser transferida para a sétima série. Abby usava óculos e aparelho nos dentes, possuía uma estatura normal para sua idade, cabelos loiros até o ombro e olhos cor de âmbar, e à medida em que sol os iluminava pareciam que eram frutos recém colhidos. Ela também tinha uma particularidade, não andava sem sua bicicleta, pareciam que estavam grudadas. Bree se sentia estranha por possuir um cabelo avermelhado e sardas em seu rosto, mas nada a animava mais do que seus olhos azuis, que para ela era o oceano que a levava para longe dali. Tudo mudou quando as meninas entraram na puberdade, seus corpos se libertaram definindo cada parte que antes não existia, Abby conseguiu se livrar dos óculos e do aparelho dentário, Bree conseguia passar menos tempo se isolando na biblioteca.
Bree nunca escondeu que tinha uma queda por Ben, era visível e todo mundo já havia percebido, inclusive Julian que havia comentado o interesse dela para o amigo. Por todos os cantos que ele passava, ela parava o que estava fazendo e o seguia com os olhos, mas nunca, nunca mesmo criou coragem para falar com ele, nem que fosse para criar um acidente deixando seus livros caírem perto dele, com a esperança de que ele pegasse e a beijasse no meio do corredor. Abby constantemente alertava a amiga do perigo que isso a causaria, lembrava das constantes competições que Clark e Phillip faziam e ela não sabia o que podia acontecer, apenas pressentia o pior sempre que eles passavam.
O baile de inverno já estava marcado desde o início das aulas, apenas esperavam que o comitê decidisse qual seria o tema e qual seria a roupa específica para a ocasião. De todos os anos que esse baile havia sido realizado, nenhum deles tiveram máscara, era algo estranho porque tiveram vários temas e ninguém nunca pensou em usar máscara. Esse baile só havia uma regra: nada de acompanhantes. Essa era uma estratégia em que a escola forçava aos alunos a conhecerem outras pessoas fora de seu círculo, o que era uma boa coisa, mas não para Brianna.
Bree era de uma tamanha timidez que seus pais nunca tinham visto em qualquer outra pessoa, às vezes eles pensavam que haviam falhado como pais por sua filha não ser tão extrovertida, mas em compensação ela nunca deu trabalho, sempre tirava notas altas, nunca foi chamada na sala do diretor, seus pais nunca souberam de um problema sequer, realmente não tinham do que reclamar. Sua mãe já havia pensado em tudo para o baile, a roupa que sua filha iria usar, o penteado, que cordão iria usar, a hora de retorno e se iria ou não de salto; porém tudo o que Brianna queria era não ir ao bendito baile.
- Mãe, já falei, eu não vou ao baile!
- Porque não? É uma oportunidade única, você não terá outro baile de inverno para ir e ano que vem você se forma.
- Eu não falo com ninguém do colégio e se fosse para me enturmar, já teria feito isso antes. Estou bem como estou e tenho a Abigail do meu lado, não preciso de mais amigos.
Sua mãe desistiu de tentar fazer com que Bree fosse ao baile e apenas suspirou. Bree se sentiu culpada por ver que sua mãe havia ficado chateada e pensou no que custava fazer isso por ela, afinal era só uma noite.

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Um segundo olhar
RomanceVocê já se apaixonou perdidamente por alguém e esse alguém era a pessoa que você confiava? Brianna nunca havia experimentado esse sentimento, na verdade nunca ligou, mas o que ela não imaginava era que uma semana poderia transformar completamente su...