A Peste Negra: Da História à Biologia Molecular Autor: Luís Miguel Sousa Orientador: Professor Joaquim Pinto Machado Capa: Marta Gonçalves (Designer)
Peste Negra: Uma visão da história à biologia molecular
Índice:
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A Peste Negra: Da História à Biologia Molecular
Introdução
Unir as ciências da vida às ciências humanas foi uma das razões primordiais que me levou a realizar este projecto. História, medicina, microbiologia, imunologia, genética, farmacologia, todas surgem unidas em prol de um tema tão marcante, quanto interessante.
Quem é o agente responsável pela peste? Qual a sua constituição genética? Como infecta o ser humano? Quais as consequências da infecção? E do ponto de vista clínico, como se manifesta a doença? Como se trata actualmente? Há fármacos disponíveis para a combater? E vacinas, existem? São perguntas para as quais tentei dar respostas. Mas nem tudo é presente. Procurei também viajar no tempo em busca da História, ir às origens da doença. Onde e quando surgiu pela primeira vez? Quais as suas consequências do ponto de vista político, social e económico? Como era encarada no passado? Que tratamentos havia então?
A Peste Negra: Da História à Biologia Molecular é, no fundo, uma visão de largo espectro que nos lança uma perspectiva holística sobre uma só doença que crucificou a humanidade e nos atormenta a memória com o caos e a tragédia.
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Peste Negra: Uma visão da história à biologia molecular
Y. Pestis e o seu genoma
O género Yersinia, pertencente à família das enterobacteriácias, contém um conjunto de 11 espécies, três das quais são patogénios humanos (Y. Pestis, Y. Pseudotuberculosis e Y. enterocolitica).
Fig. 1 Yersinia Pestis
Y. Pestis foi isolada, pela primeira vez, por Alexandre Yersin, em 1984 em Hong Kong. Estudos subsequentes permitiram conhecer melhor esta bactéria, desde o seu genoma até ao seu ciclo de vida. Y. Pestis é um bacilo gram-negativo, intracelular facultativo (nas fases iniciais da infecção é intracelular e nas fases mais tardias desenvolve-se extracelularmente), que cresce em temperaturas compreendidas entre 4 e 40ºC (as temperaturas óptimas de crescimento situam-se entre os 28 e 30ºC). Três plasmídeos foram identificados na Y. Pestis. Um plasmídeo (pCD/pYV) contém os genes LCR (low calcium response), que codificam 12 proteínas que actuam especificamente a 37º C (temperatura basal corporal dos mamíferos) e na presença de reduzidas quantidades de cálcio. Estas proteínas incluem o 4
A Peste Negra: Da História à Biologia Molecular antigénio V (LcrV) e 11 Yops (Yersinia outer – membrane – proteins). As Yops correspondem a um conjunto de toxinas bacterianas que, entre outras funções, têm actividade antifagocítica (YopH), citotóxica (YopE) ou de ligação à trombina humana (YopM). Os outros dois plasmídeos codificam o activador do plasminogénio (Pla), a murine toxin (Ymt) e o antigénio se superfície F1.
Fig. 2 Representação esquemática do genoma da Y. Pestis
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Peste Negra: Uma visão da história à biologia molecular De seguida, explicar-se-ão metabolismo da Y. Pestis: Pigmentação A Y. Pestis não produz nenhum pigmento, porém, absorve grandes quantidades de heme extracelular que permite a formação de colónias pigmentadas a 26º, mas não a 37ºC. O locus necessário para absorção do heme (um átomo de ferro contido no centro de uma porfirina), e consequentemente para a pigmentação, é designado de hms (haemin storage locus). Este locus contem 4 genes estruturais que codificam 4 proteínas (HmsH, HmsF, HmsR e HmsS). As proteínas HmsH e HmsF atingem níveis mais elevados a 26 do que a 37º C e constituem proteínas de superfície. Por outro lado, as proteínas HmsR e HmsS têm a função de regular os níveis de HmsH e HmsF. alguns aspectos relacionados com o