Espere-me pelo caminho

Cale a boca, soldado

Giovana estava tendo um dos melhores dias de sua vida.

Colocou o documento no bolso e respirou fundo. Havia finalmente conseguido. Era uma cidadã americana.

— Estadunidense — corrigiu sua melhor amiga, Ana.

— Me deixe em paz — resmungou a menina — você está com inveja.

Ana revirou os olhos e riu.

— Precisamos comemorar! — Automaticamente a língua falada mudou para o inglês cheio de sotaque texano. — Vamos sair e beber muita tequila! — Sharon Ann, sua colega de quarto, comentou batendo palmas.

— Amanhã pego cedo no hospital, não posso. — Giovana disse enquanto colocava alguns uniformes na máquina de lavar.

— Vá virada, não custa nada — Sharon retrucou.

— Sabe que eu posso matar alguém na mesa de cirurgia, não sabe?

As duas amigas entreolharam-se.

Estava certa, afinal.

— Ligue e diga que está doente — Ana tentou.

— Vai estar doente mesmo se beber bastante — a gringa deu de ombros.

A médica sabia que não conseguiria vencer as duas amigas.

— Está bem, está bem, mas não vamos beber demais, não quero parar na cama de um homem que eu nem conheço — Giovana comentou lembrando-se da última vez em que saiu com as amigas. Sentiu-se no primeiro episódio de Grey's Anatomy em que a personagem principal transou e nem sabia o nome do cara. Era o amor da vida dela, no final das contas. Mas na vida real, em Austin, não foi o que aconteceu.

Antes de sair com as meninas fez questão de ligar para sua mãe, que morava no Rio de Janeiro, no Brasil, para contar a boa nova.

— Você é meu orgulho! — Comentou antes de desligar a chamada.

Giovana sabia disso. Imaginou-se abraçando a mãe, que tinha um cheiro peculiar e uma mania de soltar uma risadinha sempre que terminava de agarrar alguém. Saudades era a palavra certa.

Já passava das seis horas quando acabou a ligação. Tomou um banho e começou a arrumar-se. Colocou um vestido vermelho que tinha uma saia midi rodada, adorava aquele vestido. O salto era pequeno, mas bem bonito. Pegou uma jaqueta para esquentar-se na noite fria texana.

Sharon apareceu com o telefone na orelha e apenas com a cabeça para dentro do quarto.

— Meu primo vai com a gente, titia disse que ele acabou de voltar do Iraque e precisa sair, não se importa, né?

Giovana negou com a cabeça.

E não se importava mesmo, todos os integrantes da família de Sharon eram muito educados e carinhosos com ela, estavam sempre perguntando como estava e o que queria fazer, pensou que ele não seria diferente.

Com a noite escura e sem estrelas desceram do apartamento e encontraram um carro alto e grande, na cor prata, parada na portaria. Era o tal primo.

— Olha o motorista da rodada aí! — Comentou Sharon dando uma batidinha no vidro, que foi prontamente aberto por ele.

Não parecia assustador, pensou Giovana.

Gio tinha um preconceito enorme quanto aos soldados americanos. Os imaginava com caras de mau, pensamentos retrógrados e um patriotismo enorme. Será que era apenas um estereótipo que ela tinha na cabeça?

Ele sorriu para a prima.

— Acho que vou começar a beber para deixar de ser chofer — comentou descontraído.