Luna estava em um campo com muitas flores, a sua favorita, o girassol. Caminhava sobre esse imenso jardim, com um horizonte infinito de flores. De repente ela encontra uma porta, apenas uma porta no meio daquele oceano de flores. Preta com três fechaduras douradas, mas nenhuma maçaneta. Ela a empurra, mas nada acontece, a porta não abre. Confusa, ela procura alguma chave, mas não encontra nenhuma.
Um som estranho faz Luna virar-se, assustada, ela observa que as flores estavam murchando e o céu ficando nublado. Um ar gelado soprou as flores murchas, transformando-as em pássaros negros, que saíram voando pelo céu. O chão estremeceu e começou a rachar, formando fendas de luz, como se algo brilhante quisesse sair do solo morto. Apavorada, ela andava de costas, tentando fugir das rachaduras, mas acabou tropeçando e caindo numa fenda que a sugou para a luz.
Nada se vira, apenas uma tela em branco, sem paredes, teto ou chão. Luna estava flutuando no vazio. Mas um grito ensurdecedor assustou Luna, a tela em branco começou a escurecer até ficar totalmente sombrio. O medo tomou conta do seu corpo ao sentir que sabia que não estava só, sentia a presença de alguém, possivelmente o dono do grito. Ela ouvia a respiração de alguém, mas não conseguia se mexer. Seu corpo estava paralisado. A respiração foi intensificando-se e aproximando-se, era possível sentir o ar frio na sua nuca. Uma voz fraca sussurrou:
— Cuidado... Cuidado com os Lobos.
Luna despertou do sonho e ficou a procurar pelo seu quarto quem havia falado, estava confusa para diferenciar sonho de realidade. Procurou ficar calma, tentando entender o que estava acontecendo. Sentou-se na cama, usava calça de moletom e uma camiseta. Do nada, sua mão começou a formigar, nunca havia sentido essa sensação, era estranho e incômodo. Tentou aliviar o formigamento fazendo exercícios, fechando e abrindo as mãos repetidamente, mas não resolveu muito. Impaciente, levantou-se, guardou as mãos no bolso da calça e foi em direção à janela.
Chovia, mas mesmo com vidro embaçado, era possível ver a rua molhada e deserta. A saudade tornou-se esmagadora, saudade da sua cidade, da sua escola e dos seus amigos. A mudança trouxe dores, sentiu-se tão vazia quanto a rua. Luna respirou profundamente e deixou uma lágrima escorrer lentamente pelo seu rosto, mas antes de chegar ao fim, ela a enxugou com raiva e grosseria. Detestava o sentimento de perda, de mudanças e, principalmente, detestava chorar.
Procurou pensar em algo diferente, voltou a observar a rua e, com dificuldade, percebeu um homem parado na estrada no meio da chuva forte. Era impossível ver seu rosto, mas ele estava com um terno preto e olhava fixamente para um prédio. Continuou a observar, com curiosidade, o que esse homem olhava, poderia está perdido ou procurando alguém, repentinamente o homem a encarou. Assustada, ela fechou rapidamente a cortina e afastou-se da janela, colocou a mão no peito, respirava freneticamente. Tentou acalmar-se e, novamente, o formigamento nas mãos voltou a incomodá-la, mas dessa vez ela as fechou com força. Aproximou-se da janela e afastou a cortina lentamente, porém o homem tinha desaparecido. Luna procurou, olhando para todos os lados, mas não havia sinal. A rua continuava deserta.
Ela virou-se para o quarto, observou o relógio na mesa e percebeu que se demorasse mais iria chegar atrasada no seu primeiro dia, precisava se arrumar.
O novo uniforme não tinha muito estilo, mas era o único, composto por uma saia azul escura e uma blusa branca com o logo da escola. Vestiu-se, colocou seu all star lilás, penteou seu lindo cabelo ruivo, fez um simples rabo de cavalo e pegou sua mochila. Despediu-se de sua mãe dando um beijo na bochecha.A chuva ainda caía forte e a rua estava escura como crepúsculo. O caminho era curto, a escola ficava no fim da rua. Procurou andar o mais rápido que podia, não queria chegar mais atrasada. Ao olhar para as lojas, Luna ficou curiosa ao perceber que não havia ninguém em nenhuma delas.
A nova escola, Escola Catherine Stephenson era diferente de tudo que ela já havia visto, era enorme. Grandes árvores cercavam os muros, o que a deixava mais imponente. O roll de entrada era grande e iluminado. Luna aproximou-se da recepção e percebeu que a recepcionista tinha uma cicatriz enorme que marcava seu rosto quase por inteiro.
— Com licença, pode me informar onde fica minha sala? — Luna perguntou sorridente.
— Seu nome? — A recepcionista perguntou friamente.
— Luna Birdanc Daves.
— Sala 11, terceiro corredor.
— Obrigada.
O corredor estava vazio e silencioso. Luna procurou sua sala e ao mesmo tempo observava os quadros esquisitos nas paredes que representavam homens de feições fechadas e sérias.
Ao encontrar a sala, entrou e todos a encararam com um olhar de reprovação. Sentou-se e a professora, uma mulher alta de cabelos e vestes negras. Tinha o rosto muito severo e o primeiro pensamento de Luna foi que, a professora era uma pessoa a quem não se devia aborrecer.
— Como ia dizendo, antes de ser interrompida, a disciplina de Literatura Romana irá motiva-los... — A professora fez uma breve pausa e olhou para Luna.
— Trabalhamos com pontualidade e quero que a partir de agora isso seja respeitado. — Completou.
— Sim, senhora. — Respondeu.
— Meu nome é Julianne Coltrane, mas para vocês sou Profa. Coltrane. Agora, apresente-se.
— Luna Birdanc Daves. — Assustada com o acolhimento da professora, sentiu-se constrangida.
— Certo, seja bem vinda, Srta. Daves. — Com um sarcasmo descarado, a Profa. Coltrane deu um sorriso falso e voltou-se para sua explicação.
A aula tornou-se insuportável, os alunos eram estranhos, a professora extremamente antipática e o ambiente confuso. As horas não passavam. O que deixava Luna inquieta e ansiosa para sair dali.
De repente um grito apavorante assustou todos. Luna sentiu uma fisgada forte nas mãos, uma dor quase que insuportável. Logo, lembrou-se do sonho, o grito era idêntico. Isso a deixou aterrorizada.
— Fiquem calmos, vou ver o que aconteceu e não saiam de seus lugares. — A professora saiu da sala.
Todos começaram a cochichar, mas logo pararam quando perceberam que Luna os observava. Minutos depois a professora retornou, pediu para que os alunos guardassem seus materiais e avisou que todos foram liberados mais cedo. Alguns não entenderam o motivo, mas não questionaram, apenas obedeceram.
Ao sair da escola, Luna notou que a chuva passara, guardou seu guarda-chuva na mochila e retornou o caminho de volta à sua casa. Sua mãe ao ver que Luna havia chegado mais cedo, ficou curiosa, queria saber qual o motivo.
— Já chegou filha? — Perguntou Lídia.
— Fomos liberados. Acredito que alguma coisa aconteceu naquela escola esquisita. — Disse Luna.
— Alguma coisa aconteceu? O que?
— Não sei, ouvimos um grito e depois nos liberaram.
— Estranho.
— Também acho. — Finalizou Luna.
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Luna Daves e o Espelho de Zami
FantasyLuna é uma garota de 14 anos que acabou de mudar com a mãe para uma nova cidade. Sem amigos e sem perspectiva nenhuma com o novo ambiente, ela procura distrair-se com os mistérios que rodeiam por ali. Ela vai precisar voltar para 1918 para resgatar...