– Caralho Dobe, o que merda tu pensa que tá fazendo?
O grito que Sasuke soltou assustou Naruto. O carro derrapou na curva sinuosa e, por pouco, o louro conseguiu realinhar o volante. Mais um pouco o carro teria derrapado, o que acarretaria em um capotamento desfiladeiro abaixo, o que não seria nada bonito.
– Não faz assim, teme! Eu quase mato a gente agora por causa desse seu desespero.
O rosto do moreno mostrava pura descrença. Quase os matou?
– Porra nenhuma, seu bosta. Você quase matou a gente mil vezes desde que saímos de casa.
Sasuke deixou um grunhido exasperado sair de sua garganta. Estava estressado, o carro em alta velocidade o incomodava, sem falar que Naruto não era um motorista tão bom assim.
Naruto, no entanto, riu desavergonhado. – É pela aventura Sas, pela aventura.
Os olhos negros queimaram em fúria. Porque ainda seguia aquele maldito Usuratonkachi por aí? Sempre soube que acabaria ferrado por causa disso.
E, agora, ali estavam eles, fugindo em alta velocidade em uma estrada cheia de curvas perigosas e enormes desfiladeiros por todo lado.
Isso tudo porque Naruto teve mais uma das suas brilhantes ideias: Roubar um banco as duas da manhã.Doze horas antes
Estava a vinte minutos esperando aquele maldito louro e nada dele. Nunca, ele nunca chegava no horário combinado. E, como sempre, Sasuke se perguntou o porquê diabos ele esperava aquele maldito Dobe.
Em bem da verdade, sabia sim o motivo de continuar a esperar por ele; seu coração trouxa escolheu logo aquele poço de desastre pra se apegar.
Conheceu a causa da sua insanidade mental no começo do ensino médio. Naruto acabara de chegar na cidade de Konoha; seu pai foi eleito prefeito e todos os Uzumakis o seguiram.
O louro era o ser mais espontâneo, radiante e extrovertido que já conhecera, e não demorou com que ele ficasse popular.
Ate os dias atuais, Sasuke não sabia o que em si havia chamado a atenção dele, a única coisa que sabia era que um dia depois que ele começou na sua escola ele já era seu incômodo pessoal.
Sim, incômodo. Sasuke não gostava de barulho, nem agitação e muito menos bagunça. Naruto, por ironia do destino, era justamente tudo isso e mais um pouco.
Tentou se livrar dele de todas as formas possíveis; o tratou mal, o humilhou pelas notas baixas e pela lerdeza, insultou a sua aparência estranha – mesmo que o louro fosse muito bem apessoado –, e chegou no auge de maldade em namorar Sakura, uma garota irritante que Naruto estava muito apaixonado na época.
Nada que fizesse espantava aquele idiota, ele continuava lhe seguindo, fazendo tudo na escola ao seu lado.
E, sem mais alternativas, depois de dois anos nessa tortura, Sasuke aceitou sua derrota e passou a atura-lo.
Não demorou pra que Sasuke percebesse o quanto era divertido ter o Uzumaki ao seu lado. Era divertido jogas no vídeo game e jogos em geral, era divertido discutir e depois cair na gargalhada, era divertido irrita-lo e sair aos socos de mentirinha. Tudo ao lado dele ficava divertido e Sasuke se sentiu grato por ele ser o Dobe mais teimoso que conhecia.
Eles eram praticamente inseparáveis, e Sasuke gostava disso. Gostava muito.
Observando aquele Dobe andar em sua direção com um sorriso tímido e coçando a cabeça, sinal de vergonha, Sasuke percebeu que naquela brincadeira ambos já eram melhores amigos a cinco anos.
Realmente o tempo passava rápido.
– A madame decidiu dar o ar da vossa graça? – perguntou cínico.
Naruto mordeu os lábios, engolindo um xingamento. A culpa era sua, de qualquer forma, não era novidade o tanto que o amigo detestava atrasos.
– Foi mal teme, meu chefe tava um demônio hoje, quer dizer, mais do que ele normalmente é.
O moreno revirou os olhos.
– Isso porque ele obviamente quer seu corpo nu e vosmecê se faz de desentendida.
Naruto fez uma careta de desagrado, repudiando totalmente a ideia.
– Nem brinca com isso Sas.
Tudo o que recebeu de volta foi um sorriso ladino do moreno.
– Cretino. – murmurou, enquanto se sentava.
Os olhos se encontraram e, segundos depois, ambos estavam rindo.
Ali estava; aquela cumplicidade, a conexão, a intimidade construída em base solida de amizade e companheirismo. Não precisavam abrir a boca, não precisavam falar nada, apenas um olhar era o suficiente para que se entendessem.
Esses eram Naruto e Sasuke, Sasuke e Naruto; melhores amigos e muito mais.
Seu sorriso esmoreceu e olhos negros abaixaram.
Pensar no 'muito mais' sempre causava um reboliço dentro do seu peito (e da sua mente). Estavam naquele 'muito mais' a dois longos anos e Sasuke se sentia perdido; perdido dentro da sua mente, perdido dentro das sensações que Naruto lhe causava, perdido no meio daquela relação incerta.
Perdido dentro daquele sentimento que tinha muito medo de rotular.
– Já pediu alguma coisa? – Naruto perguntou.
Sasuke negou com um aceno, os olhos ainda abaixados. Sabia que Naruto leria seu olhar, e não queria que ele visse suas dúvidas e seus temores.
– Estava esperando a celebridade resolver aparecer.
Naruto resmungou; Sasuke nunca mais pararia de fazer essas piadinhas ridículas sobre seu atraso.
– Concentra na comida e para de ser retardado.
Mais uma reviradas de olhos e Sasuke já estava bem o suficiente para jogar uma olhada mortal na direção do louro.
Deixando o comentário do idiota a sua frente, passou os olhos rapidamente pelo cardápio, mas decidiu que era perca de tempo; sempre pediam o mesmo prato desde que foram ali pela primeira vez.
Sasuke chamou a garçonete. Ela veio tímida, o rosto vermelho, os olhos claros colados no louro.
Sasuke fez uma careta, impondo a voz um pouco mais do que o aceitável:
– Traga dois rámen de porco.
A garota estremeceu, o rosto ainda mais vermelho anotando os pedidos com os dedos trêmulos.
Naruto o fuzilou com o olhar. As vezes Sasuke era realmente assustador, não precisava falar com tanta seriedade e mal humor com a menina!
– Não precisa descontar seu mal-humor nos outros teme. – ralhou com o moreno, mas este apenas deu de ombros, sem se importar com a bronca. – Não ligue para ele, Hina-chan, você está uma graça nesse uniforme, como sempre.
Sasuke lançou um olhar magoado em direção ao louro. Era sempre assim! Ele jogava charme para toda e qualquer pessoa mais bonitinha que encontrava, e quando a pessoa caia nos encantos dele, Sasuke poderia esquecer do louro, ele só voltava a dar sinal de vida um dia depois.
Massageou as têmporas, cansado. Aguentava aquela situação a dois anos e já estava de saco cheio.
– Gostaria que fizesse sua função, estou com fome e o cozinheiro não vai preparar minha comida se você não levar meu pedido.
Curto e grosso. A garota de assustou com o tom raivoso, e andou de pressa em direção ao balcão de pedidos. Queria ficar o mais longe o possível dele. Pena que Naruto só aparecia ali com aquele homem assustador.
– Qual seu problema? – Naruto esbravejou. Estava mesmo com raiva do amigo agora, – Não se fala com uma garota assim, especialmente se forem tímidas como a Hinata é.
Sasuke não pode impedir a risada zombeteira que escapou de seus lábios.
– Tenho certeza que 'você está uma graça com esse uniforme, como sempre' também não é forma de se falar com uma garota tímida, especialmente quando ela está totalmente caidinha por você.
O tom venenoso do moreno fez com que o cenho do louro franzisse. Alguém poderia, em nome de qualquer divindade existente, explicar o porquê do moreno estar com aquele olhar mortal?
– Do que diabos tu tá falando, seu estranho?
Os ombros do moreno caíram, e Sasuke negou com a cabeça. A lerdeza do louro, as vezes, o deixava a beira de um ataque de nervos.
O silêncio pairou na mesa, mas Sasuke sentia os olhos azuis do Naruto em si. Não olhava para ele de propósito. Não sabia o que seus olhos transpareceriam agora.
Hinata deixou o pedido na mesa e saiu em seguida, praticamente correndo. Naruto suspirou, sabendo que ela estava com medo do teme.
Logo hoje que pensava seriamente em chamá-la para sair.
– Tô falando porque cê anda mega estranho ultimamente. Juro que no outro dia você rosnou pro Neji, você rosnou.
Sasuke apertou o hashi com força, impedindo de outro rosnado sair só com a lembrança.
– O cara tava praticamente te comendo Naruto, de roupa e tudo, tu que é tapado e não percebe o quanto ele quer te traçar.
A sobrancelha loura subiu e Naruto pareceu genuinamente confuso.
– E isso era ruim por que...?
O semblante do moreno se fechou completamente, e dessa vez Sasuke quebrou o hashi.
– Você e essa maldita lerdeza. – murmurou. Se debruçou na mesa, chegando mais perto do louro. – Ou será se tu faz isso só pra me ver desse jeito, Dobe?
Naruto analisou seu rosto. Na verdade, por muitas vezes, ficava perdido nas conversas que tinha com Sasuke. O maldito sabia que não era lá muito inteligente e vivia com esse joguetes de palavras.
– Você faz isso só pra me humilhar né? Cê sabe que eu não entendo esses jogos de palavras, teme.
Sasuke piscou algumas vezes, percebendo o que tava fazendo. Estava mesmo fazendo jogo de gato e rato quando na verdade Naruto não entenderia.
Voltou a recostar na cadeira, a mandíbula travada. O nervosismo o atingiu como uma bala e precisou respirar fundo três vezes para não surtar.
– Porra Naruto, a gente tá transando tem dois anos, cara. Tá na hora de resolver essa merda.
Foi a vez do louro piscar várias vezes, os hashis esquecidos na mesa. Passou a torci, a garganta fechada.
– O... o q-que?
Ainda estava em choque. O que o teme queria dizer com 'resolver essa merda'?
Sasuke, então, pareceu bem entediado.
– Não faz a desentendida pro meu lado não, tu sabe bem que eu tô falando de a gente tá fodendo e você também estar fodendo com só Deus sabe mais quem.
As bochechas ficaram vermelhas e Naruto olhou ao redor, ficando aliviado com o fato de ninguém estar prestando atenção neles.
– Fala baixo cara, ninguém precisa saber da minha vida sexual.
Os olhos negros brilharam perigosos e Naruto sentiu medo do rumo daquela conversa.
– Sua vida sexual? Agora eu só mais um buraco que tu entrou é só mais um pau que te fodeu?
Naruto engoliu em seco; – Não...?
Sasuke soltou uma risada dura. Levantou com pressa e saiu quase que correndo do restaurante.
A merda do restaurante em que percebi o quanto o Dobe era bonito, na merda do restaurante que deixou sair sem querer um 'não de esse sorriso pra mais ninguém, Usuratonkachi', na merda do restaurante em que as mãos se tocaram não mais como de melhores amigos e sim como de amantes, a merda do restaurante que saíram com pressa para ficarem aos beijos no carro, e então agarrados na cama.
Sasuke não se importou com os passos apressados atrás de si. Entrou no carro e deu partida, sem olhar para trás em nenhum momento.
Os olhos negros lacrimejavam enquanto o moreno assistia Titanic pela milésima vez.
Sasuke sempre assistia Titanic quando estava na fossa. E como detestava todo e qualquer doce, se afogava em tomates bem cortados e bem temperados, o maior copo da sua casa cheio de refrigerante; já que também detestava o gosto do álcool.
E era assim que curtia sua dor de cotovelo. Ora, escutar do cara que você está apaixonado praticamente dizer que você é só mais um na cama dele, isso ainda que você estava com ele a dois anos praticamente vivendo como casados, não estava na sua lista de 'melhores coisas que podem acontecer no meu dia'.
Já estava na cena em que a velhinha jogava o colar no mar e Sasuke prendeu a respiração. Sempre era doloroso ver os olhos fechando e então lá estava ela de volta ao navio com Jack e todos os outros, que representava o céu de Rose.
Os segundos seguinte se passou com Sasuke se desmanchando em lágrimas murmurando coisas como 'você finalmente se encontrou com o seu Jack', 'ele não deveria ter morrido', 'ela morreu de velhice e mesmo assim é tão triste',
Estava deitado em posição fetal quando a porta da sala foi aberta com pressa. Em primeiro momento se assustou, mas então lembrou que a única pessoa que poderia entrar daquela forma na sua casa tinha nome e sobrenome.
Não que quisesse vê-lo tão cedo.
– O que faz aqui Dobe? Não tem ninguém na sua cama, e ai você lembrou do idiota aqui? – Sasuke riu, o nariz escorrendo e a voz embargada pelo choro compulsivo. – Faz sentido sabe?! Eu sou facinho né? Melhor do que ter o trabalho de distribuir charme.
Naruto seguiu em passos vacilantes para o sofá onde o Uchiha estava jogado, encontrando-o em condições que seriam consideradas humilhantes se não fosse o seu Dobe ali.
– Não faz assim teme, cê sabe que você sempre vai ser único pra mim, desde que eu bati o olho em você eu senti que estaríamos pra sempre juntos.
Sasuke concordou, mas soltou um gemido sofrido.
– Eu sou único pra você, mas não sou o único na sua vida, não sou o único na sua cama e posso ate ter toda sua atenção, mas seu coração não é meu.
Naruto se ajoelhou, acariciando o rosto vermelho pelo choro intenso e, depois, passou a acariciar os fios negros.
– Sasuke eu sempre te vi como um melhor amigo, e então a gente entrou nessa 'amizade colorida' aonde o sexo é o melhor, mas você nunca me pediu exclusividade e nunca demostrou querer algo mais sério ou que se incomodava com minhas saídas, então me explica teme, onde foi que você achou que eu deveria saber o que cê tá passando?
Sasuke chegou mais perto do louro, se aconchegando como um gatinho manhoso.
– Você sabe que eu não sei demonstrar essas coisas.
Naruto então riu.
– E você sabe que não consigo manter a atenção muito tempo em uma coisa, quiçá perceber algo assim.
Sasuke, por sua vez, limitou-se a assentir, os olhos pesando de sono.
Naruto sorriu com carinho, pegando o corpo (bem pesado por sinal) do melhor amigo nos braços e o levando para o quarto.
Caiu na cama e logo adormeceu também.
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Delírios na Madrugada
Fanfiction- Sas, tá acordado? - Hm? - Vou roubar um banco, cê vem?