Fantasmas não dormem.

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A morte é algo... Estranho.

Tudo começa com uma dor, depois você não vê mais nada, só sente. Não tem aquilo de "a luz no fim do túnel", eu não vi isso quando morri; era apenas uma escuridão total. Eu não conseguia enxergar nada, nem sequer eu sabia se meus olhos estavam abertos naquele momento. Mas foi algo tão rápido, uma piscada e eu já estava onde eu mais evitei e abominei querer estar em toda minha vida;

No purgatório.

O lugar era legal, mas tranquilo demais... Eu odeio tranqüilidade em excesso, sabe? Dá nos nervos. E morrer aos dezesseis anos, não foi a melhor decisão que já tomei em minha vida. O calor do momento me fez pensar que se fosse rápido ao voltar para o hotel, -já que não me permitiram pular também-, eu conseguiria cometer meu suicídio com rapidez e conseguiria buscar a alma de Taehyung de volta; mas ao chegar aqui, e perceber que foi só perda de tempo, me deixava com remorso e frustado. Às vezes eu fugia por ai, vagar por essa merda de mundo, sem nada para fazer, apenas procurando algo para me divertir.

Já faz duzentos anos que estou nisso e ficar entediado é o que mais me acontece. É estranho quando você para pra pensa em como deve ser estranho um fantasma entendiado. Pois é, agora você sabe.

Eu seria um anjo, mas com toda certeza esse cargo não se adequada à minha pessoa, ou melhor; à minha alma.

Eu costumava ser daqueles fantasmas chatos que fazem o chuveiro da casa pingar, a bica da pia da cozinha abrir sozinha, os barulhos de madruga. Ah! E sem contar sobre os barulhos na cozinha; na madrugada bate "mó" fome e como tenho permissão de ter um corpo para morar, -que por ventura é o meu antigo-, eu acabo fazendo muito barulho procurando algo para comer.

O que foi? Tá achando que só por quê eu sou de mil oitocentos e dezoito que eu também não sei fazer umas gírias maneirinhas? Eu sou atualizado, "morô"!

Mas fala sério, é "mó" chato você ter o trabalho todo, e quando você percebe que não tem nada para comer, dá um desânimo.

Já faz algumas horas que estou fora. YeonHun deve está procurando por mim à essa altura do campeonato. Ai você me pergunta: Jimin, quem é YeonHun? Bom, YeonHun é o deus chato que cuida de mim. E não vem com isso de "deuses" não, porque essa porra nem existe. YeonHun é o único deus, chato, insistente, me trata como um bebê. Praticamente, como uma mãe. Ironia, não? Eu nem nunca havia conhecido ela. Eu simplesmente depois que saí do orfanato -na verdade eu fugi, mas isso ai é outra história-, eu tive que me acostumar com pessoas me olhando torto, me menosprezando por não ter pais e nem sequer morar com eles sendo que nem ao menos os conhecia, -ou tinha alguma vontade de conhece-lôs.

Taehyung foi quem eu mais me apeguei, mais amei, e tudo que ele fez foi simplesmente desistir da sua própria vida. Morrer em 1.818, sem família, sem amigos, porém involuntáriamente com seu amor, era doloroso. Era nessas horas que a famosa "reencarnação" que todos costumavam falar, parecia ser uma ótima idéia para mim. Só que... Eu nem sequer tinha chances. Eu tinha me suicidado, não existe reencarnação para suicidas, meu caro. Eu acreditava tanto que eu pudesse ter isso; pensei até em reencarnar depois de acabar minha busca pela alma de Taehyung, mas nem a alma daquele imbecil eu consegui achar.

A vida -quer dizer; a morte-, não poderia pegar mais leve comigo? Pois é, não podia. Eu estava condenado a ser um fantasma ora sim, ora não. Eu tinha que usar meu corpo quando algum humano chegava por perto, essa era minha sentencia. YeonHun tinha decidido que seria assim para todo o sempre; caso contrário, eu iria para o inferno.

Essa noite estava tranqüila, tranqüila demais... Aquele viaduto costumava ficar movimentado; carros passando para lá e para cá, pessoas namorando as escondidas, entre outras coisas que costumo ver por aqui. Eram mais ou menos umas duas da manhã aqui na Coréia, eu sentia falta do orfanato onde eu vivia às vezes, eu tive muitos momento lá. Tia MinHee me deu todo conforto e carinho de mãe que eu nunca tive, e hoje em dia YeonHun é quem faz o "papel" dela. Eu gostaria de visitar lá mais uma vez, mas fazia duzentos e quatro anos que eu havia dado uma última olhada naquele local. Foi a última vez que dei um beijo na testa e na mão como uma forma de pedir bênção na mulher de olhos castanhos mel e com seus cabelos em um marrom chocolate natural. Ela era linda. Talvez se eu não tivesse fugido em 1.814, ela teria acompanhado minha adolescência também.

The Ghost Of House 212 || JJK+PJM {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora