Arábia Saudita, Março de 1983
O calor era quase insuportável. Era muita areia num só lugar e para piorar não havia sinal da mais recente escavação dos arqueólogos locais.
A cada passo instável do animal com enormes bossas, o enjoo de Christopher parecia aumentar.
Eram em ocasiões como aquela que se arrependia amargamente de ignorar os conselhos de Courtney.— Aguente inglês. — a voz melodiosa se fez ouvir detrás da burka. A mulher que ditava o caminho a seguir era cativante. Montava um garanhão preto, com um temperamento tão terrível quanto o dela. — São mais duas horas até o acampamento.
—Não estou habituado a suportar temperaturas tão altas. — declarou depois de inquirir a possibilidade de fazer uma pausa. Claro que seu pedido foi negado, não haveria como colocar toda a caravana em perigo por causa de um inglês que não aguentava um calorzinho tolerável.
Christopher Shelter enxugou os cabelos ensopados de suor e arreliou-se a resmungar. A pele antes branca, mesmo protegida do sol, apresentava uma pigmentação mais avermelhada. Estava irritada.
— E não suporto mais o balançar deste maldito animal. —reclamou.
Como se tivesse ouvido o que fora dito, o camelo balançou ainda mais fazendo com que Amirah abrisse um sorriso zombeteiro, ainda que o professor britânico não pudesse vê-lo.
— A areia escaldante também afeta as patas do pobre animal. Devem estar em brasa! — Amirah replicou. Christopher apenas observou os olhos escuros dela demonstrarem o quanto se divertia com a situação.
Era óbvia a sua liderança, apesar de contradizer os muitos costumes da época e da região. Árabes como outros tantos, eram seres machistas, para eles, mulheres eram para ser mantidas em casa, protegidas.
Como é que aquela mulher que não mostrava nada além dos olhos, tinha conseguido formar-se nalgo tão raro com arqueologia, era algo que o professor de História Antiga gostaria de saber.
— Estou realmente muito exausto! — confessou Christopher à dada altura.
O sol tinha atingido o pico quando a forma notória de Qaṣr Al-Farīd surgiu no horizonte. Levaram horas para realizar o tragécto de Al Ula à Hegra, mas finalmente haviam chegado.
Como os islâmicos consideram o local como amaldiçoado, não era fácil conseguir um visto de turista para a Arábia Saudita, e mais difícil ainda era arranjar guias sauditas para uma parte como a antiga a cidadezinha nabateia de Mada’in Salih.
Altíssimo e ainda com boa parte de sua estrutura bem conservada, o Qasr al Farid se destacava numa grande área deserta e marrom, no meio do nada — por isso ganhou o nome Castelo Solitário.
Apesar de parecer um, ele foi construído com a finalidade de ser um grande túmulo.Era um dos túmulos mais famosos da civilização nabateia!
Por mais incrível que paresse, o professor Shelter estava mais preocupado com a temperatura infernal do que em apreciar algo que tivesse haver com a expedição em que inscrivera-se, meses atrás.
Antes que o resto da caravana, que consistia num grupo diversificado de arqueólogos, professores de história e historiadores, pudesse notar, os beduínos montaram o acampamento rudimentar com lonas leves e taxas que levavam nas bolsas dos camelos.
As várias tendas, estavam no lugar estratégico que lhes permitia controlar os mais curiosos, e os ladrões de tesouros. Não que ali tivesse, realmente um! Porém, era mais difícil apagar uma lenda mal contada do que qualquer outra coisa.
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AS 1001 NOITES -O Mistério de Amirah
Mystery / ThrillerDurante uma expedição na Arábia Saudita, o professor Christopher Shelter, conheceu a atrevida Amirah Al Faquir, uma arqueóloga reconhecida no Oriente com um espírito aventureiro que lembrava os puro-sangue selvagens do deserto. Foi enquanto aconteci...