{o tempo da imensidão azul}

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É normal os seres humanos terem medo, seja de algo racional ou não. Nunca podemos classificar como algo bobo, pois para alguns parece simples e para outros é extremamente complicado. Temos medo de coisas que para alguns pode ser algo maravilhoso, como borboletas, e de outras que alguns julgam como bobagem e coisa de criança, assim como o medo de escuro.

E Chanyeol tinha medo do mar.

Ele se lembrava especificamente da primeira vez em que notou que não gostava daquela enorme quantidade de àgua salgada e natural, também se recordava de quando tinha descoberto que tinha Talassofobia.

Toda sua família iria para a praia naquele final de semana, como geralmente outras pessoas faziam. Yoora, sua irmã mais velha – que na época tinha 13 anos – insistiu tanto, que os pais acabaram cedendo. Chanyeol até se sentia feliz e ansioso para ver as pessoas, sentir a areia nos dedinhos pela primeira vez e a brisa marítima, balançando suas pernas – na época curtas – por todo o trajeto de carro, até cair no sono alguma hora. Tudo parecia incrível de primeira. O resort, as camas com molas perfeitas para pular e até mesmo a comida. Bom, isso acabou quando Yoora decidiu o puxar pela mão para ver a imensidão azul de perto.

O garoto simplesmente paralisou ao ver as ondas, mesmo baixas. Os raios solares que estavam um tanto fortes naquele dia queimavam suas costas e um pouco de suas retinas, mas ele nem se importava com esse pequeno detalhe comparado a água salgada e cristalina calma que vinha em sua direção. Era um enorme estado de choque, sentia tremores por todo o seu corpo e não sabia nada sobre isso. Ele era apenas um garoto de dez anos, afinal. Então ele tomou consciência do que estava acontecendo, saindo de seu estado catatônico e correndo um pouco desengonçado para perto de onde seus pais estavam em cadeiras de praia e guarda-sóis, sentindo os olhos lacrimejarem de modo contínuo.

Bom, e foi assim que ele havia ido parar naquele consultório barato e com papel de parede antiquado lascado e perdendo a cola. O estofado dos pequenos sofás que imitavam couro pinicavam a bunda e as costas de Chanyeol, porém ele nem ligava mais, estava acostumado com aquilo fazia sete anos. Sete maltidos anos que tinha de olhar para aquele pequeno bolor no teto que havia sido pintado de brancos tantas vezes para tampar, que simplesmente desistiram por sempre voltar a reaparecer. Ninguém iria reparar em algo tão minúsculo e sem importância daquele modo, certo?

Com exceção do Park.

— Nenhuma palavra, Chany?

Seus pensamantos foram interrompidos pela voz macia de Kim Junmyeon, seu psicólogo. Eles se viam a tanto tempo que eram práticamente amigos. Ou quase isso. Era um encontro inevitável, toda quarta-feira. 

— O que eu vou dizer? Você já sabe de toda a coisa. Nem sei o motivo de eu vir aqui ainda, é só algo normal, não é? — Deu de ombros.

Ele sabia que, de certo modo, não era nada normal aquele medo. Por algumas vezes, ele se sentia uma aberração e Yoora sempre o ouvia chorar a noite por causa disso. Era por isso que ele estava lá, por insistência da irmã. Com 23 anos, ela era a filha perfeita para os pais, sem medos idiotas, com ótimas notas na faculdade de jornalismo que recém havia conseguido entrar. O orgulho da família. Já o Park orelhudo, bem, ele e achava tudo de ruim possível e impossível. Cheio de medos, sentimentos ruins e negatividade. 

Ele queria que ter medo do mar fosse simples como achavam que era quando riam da cara dele quando mais novo.

— Sabe que eu não vou te prender aqui, você tem liberdade para andar por toda a clínica. Já te disse isso milhões de vezes.
Doutor Kim lhe lançava um sorriso terno, com as mãos entrelaçadas no joelho das pernas cruzadas. Ele era um homem doce e realmente se preocupava com o grandão.

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