Faziadias que ela não estava bem, podia ver em seus olhos. Dias que minha mulherparecia não ter mais motivos para sorrir verdadeiramente. Não que eu já nãosoubesse do "problema", mas apesar dos tantos livros que li sobre o assunto, ficava sem saber o que fazer, para que aquelebrilho em seus olhos voltasse, para que sua animação voltasse.
Ela sempre chegava do trabalho, me dava um beijo suave nos lábios, tomava um banho demorado, enquanto eu fazia a janta e depois jantávamos em silêncio.
— Como foi seu dia, querida? – perguntei a ela, que mexia na comida em seu prato.
— Foi muito exaustivo e o seu?
— Consegui mandar o segundo livro para a editora.
— Isso é ótimo querido, quando terá que mandar o terceiro?
— Daqui a seis meses, mas creio que consigo terminar amanhã, já que fui escrevendo junto com o segundo.
E mais uma vez fomos envolvidos pelo silencio doloroso. Suspirei cansado.
— E como você está? – percebi, no segundo em que terminei da fazer a pergunta, que de todas as perguntas possíveis a se fazer, eu fiz a mais proibida. Raquel engoliu em seco e seus olhos viraram uma represa, que ela não ousou liberar. — O que tem de errado, meu amor?
— Nada, está tudo certo. – sorriu sem mostrar os dentes, sem vida, daquele jeito que demonstrava o quanto ela estava deprimida, então se levantou da cadeira, recolheu seu prato e o deixou na pia. — Se me der licença, vou me deitar, estou muito cansada.
— Claro. – ela sorriu novamente, sem mostrar os dentes, sem o brilho no olhar e foi para o nosso quarto.
Terminei de comer, lavei a louça, guardei a comida na geladeira e caminhei até nosso quarto. No momento em que coloquei minha mão na maçaneta, escutei seus soluções sofridos e senti vontade de chorar, pela impotência que sentia em não conseguir tirar essa dor que ela sentia desde quando nos conhecemos, porém respirei fundo, dei duas batidinhas na porta e entrei.
Fiz todo o ritual que se faz antes de dormir e me deitei. O que a fez virar imediatamente de costas para mim, em uma tentativa de me esconder sua face inchada, pelo choro. Suspirei e cheguei mais perto, a envolvendo em meus braços.
— O que tem de errado? – perguntei bem baixinho para não quebrar aquele momento. Ela não respondeu, resolvi conforta-la. — Querida, você não precisa mais segurar, pode ir em frente e liberar tudo o que está te afligindo. Você sabe que depois que liberar, vai ficar bem. Desabafe, meu amor.
E ela chorou a noite toda em meus braços, mas não me disse, qual era o motivo, do que a afligia.
No dia seguinte, acordei mais cedo, fiz um café da manhã magnifico, levei o café na cama para Raquel e dei um beijo de bom dia para acorda-la.
— Bom dia, meu amor! – disse, depositando a bandeja em cima da cama.
— Bom dia, querido! – me sorriu com os dentes a mostra e se sentou a cama, arregalou suavemente os olhos. — Hoje é alguma data especial, que eu não me lembre?
— Não é não, só quero um café da manhã ao lado de minha esposinha, com uma boa conversa. — Ela me olhou por cima da xícara de café, desconfiada.
— E a conversa séria sobre o que rolou ontem? – fiz que sim com a cabeça. Ela sorriu de uma maneira que a muito tempo, não via. — Eu estou bem, sério. – me deu um beijo rápido nos lábios.
— Sim, meu amor... Hoje você está bem, mas já faz um bom tempo que não está. – a puxei para mim. — Você, me mantem a distância, mesmo eu estando por perto. – suspirei e beijei sua testa. — Eu estou sempre escutando seus choros, apesar de você pensar que não escuto... Sei que as vezes fica confuso com esse turbilhão de sentimentos que sente, está se sentindo perdida... – Olhei fundo, dentro de seus olhos. — Mas gostaria que soubesse, que não vou perder você, não precisa mais segurar, não precisa ter medo, pode e deve liberar todo esse sentimento que está guardado, lhe afligindo, porque isso te fará bem.
— Obrigada amor! – sorriu chorosa. — Eu... Eu não sei o que te dizer. – me beijou.
— Não diga nada, apenas se lembre dos meus votos de casamento. – sorri.
— "Vou manter sua mão firme, quando estiver perdendo o controle, e mesmo se eu não entender, pode falar comigo, pois estarei aqui para ampara-la, protege-la, compreende-la e ama-la para o resto de nossas vidas". – repetimos juntos.
— Então, por favor, desabafe comigo, querida!
FIM
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Fire Away
FanfictionQuando Raquel me contou sobre sua depressão, em nosso primeiro encontro, eu tinha certeza de duas coisas: 1) Desde o primeiro momento que coloquei os olhos nessa mulher, soube que ela era a mulher da minha vida. 2) Eu necessitava saber mais sobre es...