Não entendo o motivo de escrever em você, talvez seja o hábito de escrever mas de qualquer maneira se isso for usado ou lido por alguém um dia, facilitarei o entendimento do ocorrido e me referirei ao tempo em relação a quantos dias se passaram desde o acidente.
~Fim da primeira Semana~
Entrei mais uma vez naquele ambiente frio e sufocante, aquele excesso de branco que me cercava só me trazia as lembranças dos momentos ruins que passei ali, todas as horas agonizantes esperando um daqueles homens de branco trazerem alguma notícia e todas as horas seguintes a essas, nas quais esperava pra poder ver aquele corpo desfalecido e pálido sob um daqueles leitos para poder constatar que apesar de tudo ela continuava lutando, estava ali e eu podia sentir os sinais claros de que estava viva, sentia seu pulso ao segurar sua mão e seu coração batendo quando, apesar dos avisos dos médicos de que era proibido, eu me deitava ao seu lado e é claro aqueles barulhos das diversas máquinas que a cercavam que não me deixavam esquecer de sua situação.
Após um breve segundo de reflexão sobre o quanto aqueles aparelhos deveriam incomodá-la com todos os seus bipes constantes e sua grandiosidade, voltei minha atenção para a sua mão que infelizmente também já sofria as consequências da estada constante ali, as veias de seu braço já se mostravam difíceis de encontrar (acredito que nem elas aguentavam continuar naquele ambiente desprezível) e sua mão se tornou o novo alvo das enfermeiras ali presentes, apesar do tubo que transportava soro e medicamentos, aquela mão continuava a ser familiar e a me trazer lembranças dos diversos momentos em que esteve ligada à minha com uma quantidade indescritível de afeto.~15 dias após o acidente~
Eu estava mais tenso do que nunca, ver Annie naquela situação, todos aqueles aparelhos monitorando-a, as marcas no seu corpo após a reanimação que se fez necessária após uma parada que ela teve durante a primeira cirurgia...
Cirurgia!Acidente!Tubos!Medicamentos!
Apesar do tempo que se passou ainda não consigo entender tudo que aconteceu, mas esse não é o foco atual, esperar Annie acordar novamente e ter certeza de que está melhorando de alguma maneira é meu...
"Edward"
Por que escuto Annie a sussurrar meu nome se ela não recobrou a consciência ainda?... Isso me despertou de meus pensamentos rápidos e confusos, passei meus olhos com calma por ela,desde sua mão, que agora vejo está tocando a minha, até seus olhos que estão enfim abertos, maa não consegui me deter ali como costumo fazer, seus olhos que sempre me prendem com todo o seu brilho agora estão cansados e fundos, eu poderia pensar no quanto isso é ruim por todo o dia mas escutei meu nome em um sussurro novamente.
Quando finalmente percebi que ela estava realmente acordada e que estava tentando chamar minha atenção pude sentir meu coração saltar de forma incessante dentro de mim afinal ela estava bem, apesar da violência da situação que se passou ela estava acordado e chamando por mim… Eu deveria chamar os médicos? Devo ver oque ela quer dizer… Sua saúde deveria vir prime. .... "Edward, preciso pedir algo a você antes que alerte a todos sobre minha lucidez " - ela disse, como se soubesse o que se passava em minha mente- "preciso que sua profissão se faça útil mais do que nunca "
Não posso entender o que ela quer dizer, após um acidente e diversos momentos mais do que difíceis, essa era a segunda vez que ela acordava e queria que um escritor fosse útil?
Na primeira ela fez algo aceitavelmente comum, perguntou o que tinha acontecido e qual era seu estado mas não fiquei aqui para escutar os médicos explicando tudo o que eu já sabia novamente, apenas sei que quando retornei ela estava pensativa e como escritor sei que não se deve atrapalhar os pensamentos de alguém.
Acordando desses pensamentos que pareceram durar uma eternidade mas foram vistos em apenas alguns segundos, como um filme acelerado diversas vezes, finalmente consegui responder.
"Annie, você está bem? O que quer dizer com tudo isso?"
"Em breve seremos interrompidos então preciso de sua atenção urgentemente "-pude sentir sua mão gélida a pressionar a minha com a força que tinha e seus olhos fundos suplicando pra que eu atendesse seu pedido e diante de tal situação não pude negar.
"Claro...Sem médicos, mas como um escritor pode ser útil nessa situação, meu amor?"
"Ed, sei da minha situação e preciso gravar uma mensagem às pessoas com que me importo - pude sentir um tom de hesitação em sua voz antes de prosseguir-"preciso que grave em um áudio o que vou dizer e que use suas palavras, seu jeito e tudo que fez com que eu me apaixonasse pela sua escrita, para descrever oque eu disse e passar meus sentimentos e desejos aos citados caso algo aconteça"
Eu não conseguia compreender o que ela quis dizer com aquilo, agora eu a fitava com uma expressão que deixava claro que havia entendido o que ela tinha dito mas não queria compreender, apesar de desconcertado pelo o que havia escutado escutado precisava me pronunciar ..."Eu não preciso fazer isso porque não vai acontecer nada com você!"
"Não quis dizer que vai, só preciso que faça isso… Não se preocupe com a sua parte, não farei com que escute o que eu quero que saiba se algo acontecer, ela está junto do restante das coisas que precisa para gravar e escrever as cartas, bem ao seu lado" pude ver que ela tentava apontar para o móvel lateral de sua cama.
Logo após explicar isso sua mão pressionou a minha e se acomodou ali enquanto me contava em meio a lágrimas e soluços o que eu deveria dizer a todos.
As palavras, lágrimas e sentimentos que ela confidenciou a mim naquele dia, jamais sairiam de minha mente.
Após aquele dia passei os dois dias seguintes escrevendo as cartas apesar de estar relutante em fazer isso, foram dias calmos no quarto de Annie, ela me parecia melhor e sua expressão me passava tranquilidade, eu mal sabia que os momentos tranquilos estavam acabando, o dia em que as cartas foram ditadas foi o último em que vi Anne acordada.Ps: Relendo essas anotações agora, anos depois, ainda não acredito que a vida de minha amada se esvaiu.
...
"Meu amado Edward,
A única carta que você não escreveu, é a que está a ler agora, peço que me perdoe por não ser como as outras afinal o escritor é você e quem fica, também."
Enquanto eu terminava a última carta, a da mãe de Annie, pude escutar um som aparentemente distante a me atrapalhar e desfocar meus pensamentos, quando percebi o que era meu coração ficou taquicárdico e não consegui levantar pois não sentia minhas pernas.
Os aparelhos de Annie não faziam bipes padrões, eles estavam fazendo um longo barulho que jamais irão cessar em minha mente.
"espero que me perdoe por te deixar, afinal se está lendo essa carta eu já devo ter partido, eu não queria te deixar, acredito que ninguém iria querer."
Eu tenho uma vaga memória do que aconteceu depois disso, lembro de ter gritado, chorado e implorado para que a salvassem ao invés de ficarem esperando ela realmente ir, mas após a primeira cirurgia ela pediu pra que eu assinasse a ordem de não ressuscitar e claro, eu não queria saber dela agora.
Um acidente de carro… Um estúpido acidente levou a mulher com quem eu estava destinado a ficar, a quem eu certamente era ligado por um fio, ficou numa situação tão complexa que o único jeito era se segurar a esse fio mas infelizmente ela o soltou...
"Eu sei que não está bem agora, lendo isso após minha...partida, espero que saiba que a nossa lenda favorita a de que somos ligados por um belo fio vermelho nunca acabará e que me segurei a você e a vida por ele, durante todas essas semanas que se passaram mas se está a ler isso...eu lamento, mas precisei soltá-lo."
Podia sentir que eu não estava mais perto de Annie, não de sua alma, de seus sentimentos e de toda a loucura que era a mente de minha amada noiva, estava ao lado de uma casca vazia, que durante 22 anos guardou a alma da mulher que amei mas agora era só um vazio no meio de toda a grandiosidade desse mundo.
"Apesar de ter feito você escutar o que eu queria que as pessoas soubessem preciso que leia o que quero pra você, nada melhor para um autor, certo?
Eu espero que não se prenda as minhas memórias e aos sentimentos que tinha por mim, eu amo você e disse isso a você todos os dias, de diversas maneiras e recebi todos os seus "eu te amo" diretos e indiretos também, apesar de todo o amor que senti não quero que viva só, um autor como você precisa de inspiração e amor é inspiração"~1 mês após a partida de Annie~
Eu podia sentir que a tristeza não havia ido embora ainda, podia ver ao longe sua carta, molhada com algumas lágrimas mais recentes e manchada com as primeiras que derramei ao ler seu conteúdo.
Ainda não sei bem como lidar com sua ausência, com a falta de seu cheiro e visão de seus cabelos ou leves traços ao acordar, suas coisas ainda estão perfeitamente arrumadas como se esperassem sua volta tanto quanto eu… Mas não haverá um retorno, você se foi mas me trouxe inspirações, você não sabia que a tristeza de perder o amor da minha vida podia me trazer tanta criatividade quanto o amor que ela mandou que eu tentasse voltar a sentir.
"Lamento ir tanto quanto você lamenta ficar,um dia ainda me encontrará e verá que continuamos ligados por nosso fio,vá em frente mas não o solte como fiz.
De sua estimada e atualmente falecida:
Annie."
Um novo livro, que foi criado a partir de inspirações pós luto, está quase finalizado, sob minha estante nesse exato momento, preciso somente de alguém que se interesse por um diário contando a história de um homem com amor de sobra e falta de vontade de desistir.Meu amor por ti jamais acabará,
E em minha memória pra sempre viverá.Comecei a escrever os meus clássicos dísticos encontrados na parte de agradecimento com minha inspiração… Que só veio graças a ti.
Meu amor por você é eterno, diferente desse diário, já que esse é o fim do mesmo, mas não o de nossa ligação.
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Por um fio
KurzgeschichtenApesar de todos os momentos difíceis de um relacionamento pelos quais eles passaram, um acidente estaria prestes a acabar com uma grande ligação, claro se esse não fosse a história de um jovem, mas promissor, escritor e sua amada.