Olá, estranho!

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O horizonte ia ganhando lentamente todo o contorno de luzes. Cruzou a estrada que dá começo a solidão, o destino se aproxima...

Kimberly dirigia á toda velocidade pela autoestrada. Sentia o frio cortante congelar suas mãos no volante. Não estava acostumada ao clima frio do país e tinha certeza que jamais se acostumaria. Ainda não acreditava no que tinha se metido sem querer.

Poderia questionar? Não. Nem sequer sabia que não poderia haver questionamento.

Era o pagamento de uma dívida. Um acordo firmado, passado através das décadas, ou era um século? As coisas se embaralhavam na sua mente. Era algo semelhante a aconselhar: quando alguém pede um conselho, por exemplo, conseguimos ver diversas saídas, tangentes e atalhos. Olhando de longe, vendo de todos os ângulos. Ou quando a pessoa perde o emprego, é simples dizer ‘Calma, vai ficar tudo bem. Você vai conseguir outro emprego. ’ Difícil é estar dentro da situação, olhar para todos os lados e não ver um atalhozinho sequer. Difícil é ter que pagar as contas com data marcada, e saber que o salário não vai estar no banco.

A garota nunca tinha sido dramática. Nunca! Era simples. Tinha sonhos simples, mas ainda assim eram delas. Era a única coisa que possuía! Ou melhor, não possuía mais. Não teria mais voz. Fora calada antes mesmo de gritar. Se era injusto?

Ah se era.

Viu a curva em frente e o animal preso num tronco caído no meio da estrada. Freou, mas a camada de gelo que se formava na pista fez com que o carro aquaplanasse. Kimberly sentiu o choque do cinto de segurança e o líquido quente escorrendo na testa. Olhou a escuridão, um mundo de cabeça para baixo e a última coisa que viu foi o animal caído há um metro e meio da onde estava presa no carro que havia capotado.

...

- Não se levante! – Ouviu a voz no meio da escuridão.

- Onde estou? Não estou vendo nada!!! O que está acontecendo? – A garota se desesperou sentindo o corpo moído.

- Chama-se cegueira temporária. Você bateu a cabeça, mas não se preocupe. – O rapaz disse num tom prático. Não havia sentimento nenhum, mas ele parecia saber o que estava dizendo.

- Perdoe-me senhor, estou num hospital?

- Não. Está em minha casa, sou médico e a encontrei no meio da estrada presa no carro.

- E porque não me levou até o hospital? – Sentiu o coração acelerar.

- Porque eu sou médico. E também porque minha casa estava mais próxima. Há uma grande tempestade acontecendo nesse momento, e eu não queria que você chegasse ao estado de hipotermia.

- Minha cabeça dói muito!!! – Ela levou a mão até a testa e sentiu que estava enfaixada.

- Provavelmente sua visão está voltando, suporte. Já te dei os medicamentos necessários. Vou deixá-la descansar, se precisar de alguma coisa estou na sala ao lado.

A garota acompanhou o som da voz e viu que tudo se clareava devagar, estava embaçado, mas conseguiu ver o rapaz vestido de branco saindo da sala onde estava. Ficou encarando o teto e suportou a dor conforme havia sido instruída, sentiu o sono se aproximar, mas não queria dormir. Estava assustada, estava num lugar no meio do nada com um homem que dizia ser médico e provavelmente com a polícia coreana em seu encalço.

Não soube por quanto tempo ficou ali antes de levantar e ir até a janela comprovar o que o médico havia dito. Estava nevando. Viu um bosque imenso, e a neve branca cobrindo tudo que seus olhos conseguiam alcançar... a dor era insuportável.

Bloodline - Imagine JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora