flor de cerejeira

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O garoto estacionou o carro perto da ponte e decidiu fazer o resto do trajeto a pé. Por inúmeras vezes visitara aquele local, perdeu a conta de quantas e quantas vezes repassou aquela noite na memória. A noite que mudara o curso da sua família, que mudara o curso do seu coração.

Entrou nos escombros e começou a perambular pelas cinzas que os anos não foram capazes de levar. Olhou o que restava das paredes brancas e os cacos dos tubos de ensaio que estavam num cômodo, onde a destruição do fogo não fora tão ruim. Jimin parou de frente para a foto presa por uma fita na porta do armário e ficou encarando. A garota pequena e sorridente abraçada ao seu pai, que vestia um jaleco sujo com uma pasta de tom azulado. Pela milionésima vez ficou criando histórias em sua cabeça, tentando imaginar o que estavam fazendo antes daquilo, sobre o que estavam conversando, o porquê ela sorria daquela maneira para a foto...

Quem segurava aquela câmera?

Queria perguntar mais ao seu irmão, queria saber mais. No entanto, sabia que se pedisse por respostas teria que responder às perguntas. E isso estava fora de questão. Omitiria, mas jamais mentiria. Jimin era a última pessoa na face da terra que poderia ser cética, ainda assim suas crenças eram um tanto limitadas. Sabia que não havia nada tão antigo quanto o tempo, e tão misterioso quanto o destino. Sabia que os séculos perdidos escondiam segredos e que aquela noite um deles lhe foi revelado. Não tinha muita certeza sobre nada, fugira tão desesperadamente quanto uma presa foge de seu predador. Sem êxito obviamente.

O jovem médico fugira de muitas coisas, muitas mesmo. Mas nunca conseguiria fugir disso. Não agora. Não naquele lugar cheio de entulhos e cinzas. Não naquele lugar cheio de segredos e tragédias. Não naquela mesa onde viu aquele sorriso tão lindo, desaparecer por suas próprias mãos.

- O que faz aqui? – O rapaz perguntou tirando o jovem médico de seus devaneios.

Jimin encarou o topo da escada e o viu parado com as duas mãos nos bolsos. O sobretudo preto ainda estava salpicado pela neve, o que significava que não estava ali há tanto tempo.

- Perguntei o que faz aqui Jimin?

- O mesmo que você. – Deu de ombros.

- Nós prometemos nunca mais voltar a esse lugar.

- Prometemos, mas pelo visto não sou o único a não cumprir. – Jimin viu o garoto saltar e cair feito um gato na sua frente.

- Ela veio? – Perguntou o recém-chegado sem tirar a mãos dos bolsos.

- Sim. Fiquei com ela por dois dias na casa de campo. Ela perdeu o controle do carro e capotou.

- VOCÊ O QUE? – Se alterou. – Jimin você enlouqueceu?

- Enlouqueci Taehyung, enlouqueci sim! Achou mesmo que eu a deixaria lá para morrer?

- Jimin você é meu melhor amigo, eu espero que saiba no que está se metendo.

- Nós não sabemos absolutamente nada sobre isso Tae, não sabemos. Ninguém sabe! Estou hesitando há anos em perguntar para os anciães.

- Sabe que não pode. Todos nós morreríamos por isso, e você seria o primeiro. Hoseok acha melhor você contar a ele.

- Jamais. Prefiro morrer a envolvê-lo nisso. Vamos esquecer essa história Taehyung, por favor!

- Recebi hoje o convite de casamento. Porque acha a data foi marcada para daqui trinta dias?

- EU NÃO SEI TÁ LEGAL! Não sei! Deixe-me sozinho, por favor.

Os garotos ouviram os passos pelos tijolos.

Bloodline - Imagine JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora