Como as ondas.

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É só mais um dia.

É só mais um dia.

Nari repetia a si mesma enquanto criava forças para abrir os olhos. Sentia um raiozinho de sol aquecer um pequeno ponto em seu braço esquerdo. Levou um dos braços ao rosto e suspirou. E lá estava ela.

A primeira lágrima do dia.

‘Eu sinto muito, mas somos diferentes demais. Você não serve para mim! Esperei que você mudasse durante muito tempo. ’

‘Você não me aceita como eu sou? Não acha isso um pouco egoísta?'

O amor doía sim, chegou a essa conclusão da maneira mais difícil possível. Enfrentava seus demônios particulares dia após dia. Houve uma época em que costumava sorrir. Em que costumava sonhar e encarar a vida com esperança. Era engraçado como tempo funcionava e quanto mais ele passava, mais pensava em desistir.

Encarou o reflexo no espelho, a maquiagem tinha deixado as marcas negras no rosto pálido por onde tinha escorrido com as lágrimas. Era sua alma vazando pelos olhos. Simples assim. Que mundo era esse? Era tão complicado assim encontrar alguém que a amasse por quem era e não por quem queriam que fosse? Tinha MESMO que se padronizar ao resto das garotas do mundo?

Estava cansada da vida. Estava cansada da própria vida, como uma pessoa que já tinha vivido 150 anos e não houvesse mais nada que a surpreendesse.

É só mais um dia.

Repetiu mais uma vez antes de vestir seu All Star velho e encarar aquele mundo sombriamente ensolarado.

Deu um passo, e outro, e outro.

Parou.

Tinha mesmo que continuar andando? Precisava disso? Era tão errado assim desistir? Girou nos calcanhares e decidiu voltar. Iria se por embaixo do edredom e esperar que algum ser alado resgatasse sua alma do limbo vergonhoso que estava. Não conseguiria sozinha, já não era capaz. Já não era a mesma pessoa forte, corajosa e decidida que um dia fora. Sentia saudade da adolescência...

Então era assim? Era apenas uma dose por vida?

Mas que merda de vid...

- Oi gatinha!

Virou para encontrar o par de olhinhos castanhos e brilhantes. O batom vermelho vinho era a primeira cor a encontrar, já que o resto do seu mundo era apenas cinza.

- Nana...

- Precisa de um abraço e um selo de qualidade? – Nana encarou Nari séria.

- Selo de qualidade?

- Selo de qualidade melhor amiga de ser. – Nana brincou. Mas conhecia a amiga tempo suficiente para saber que nada estava bem.

- Poderíamos não ir para a faculdade hoje? – Nari pediu baixinho.

- Podemos ir ou não ir para onde você quiser gatinha. Vem, eu sei de um lugar perfeito!

Sentou no banco do carona e apenas observou a cidade passar como um borrão. O clima estava frio, mas o sol esforçava-se para dar seu parecer. Nana tagarelava sobre a nova boate e como tinha adorado as paredes em preto e roxo. Reclamou um pouco da mãe que a colocou para fazer faxina em plena quinta feira.

Nari apoiou o cotovelo no vidro do carro e a cabeça na mão. Encarou a amiga e apenas ouviu, era um dos poucos momentos em sua vida sem graça em que sentia-se confortável. Em paz. Nana continuou falando com seu batom vermelho, ligou o rádio do carro e trocou de música mil vezes até encontrar uma que soubesse cantar.

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⏰ Última atualização: Mar 15, 2018 ⏰

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