Parte 1

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Cason caminha devagar. O som causados pelos passos lentos ecoa pela calçada solitária. Dobra uma esquina e para. Observa as mulheres mais à frente; um grupo delas.

      Ele avança mais um pouco pela rua e para ao lado de um poste. A lua está alta no céu, emanando seu brilho prateado pelas ruas solitárias e tristes da noite.

      Um vento gélido sopra fazendo as mulheres se envolverem ainda mais dentro de seus casacos que cobre todo seu corpo, deixando apenas as pernas à mostra.

      Pobres coitadas, esquecidas pelos cantos, vagando solitárias pelas ruas desérticas escondendo-se da sociedade que tanto as repudia.

      Os moradores pensam que esta raça está extinta, que já não existe mais. Porém elas ainda vagam pelas ruas da cidade na calada da noite, espreitando-se pelas vielas das casas, esperando algum cliente, os poucos que ainda sabem das suas meras existência.

      Cason observa cada uma das mulheres. Algumas parecem ter menos de 20 anos. Tão novas, mas já jogadas neste mundo miserável, vivendo uma vida precária e imunda. Outras até devem ter uma vida por trás destes roupões, uma totalmente diferente desta realidade que é vagar pelas ruas. Talvez elas se refugiem nestas roupas simplesmente para esquecer uma ainda mais miserável. Será? Talvez.

      Cason divaga nas possibilidades de vida que alguma delas devem ter por trás de tudo isso. Uma, com aparência jovial, se distancia do grupo de quatro mulheres e caminha silenciosa rumo a ele.

      Ele recua um pouco com a aproximação da prostituta, mas não se detém e mantém a postura ereta abaixo do poste, com sua luz enfraquecida, como se fosse apagar a qualquer momento.

      ᅳ Boa noite ᅳ diz a jovem com uma voz doce. Ela tem cabelos negros, pele branca. A luz opaca do poste incide sobre seus olhos, fazendo-os brilhar tristemente.

      Cason usa um capuz, fazendo com que seu rosto seja encoberto por uma sombra negra, mas ela consegue sentir seus olhos fulminantes fitando-a com desejo. Desejo esse que vai muito além da compreensão da pobre jovem. O destino não é misericordioso com elas.

      Uma esperança abre no sorriso da meretriz. Só de pensar que esta noite ela poderá ter seus momentos prazerosos satisfeito deixa seu corpo todo arrepiado.

      Um ar gélido sopra, e os lábios da jovem tremem por causa frio, ela os morde levemente, numa insinuação sexy, os seus cabelos negros dançam no ar.

       ᅳ Qual seu nome? ᅳ diz Cason depois de um certo momento de silêncio. Sua voz grave não passa de um sussurro quase inaudível. Ele sente os olhares curiosos das amigas da jovem observando-os. São como vagalumes sobrevoando as trevas.

      ᅳ Meredith ᅳ responde a jovem. Ela o fita atentamente, tentando decifrar a feição escondida por detrás das sombras, mas é inútil. Parece que a cada segundo ele desce mais para as profundezas escuras do capuz.

      ᅳ É um lindo nome.

      Meredith rir ao ouvir o elogio do futuro cliente. Ela sabe que precisa ser mais eficiente para não perder o homem de sua teia. Tem que conseguir, ao menos dessa vez. Quantas noite já passou sem obter resultado? Três semanas? Não quer e não pode deixar passar esta oportunidade.

      ᅳ Obrigada! ᅳ ela sorri. Estende a mão para Cason poder pegá-la, mas ele a ignora.

      Meredith baixa a mão, sentindo as bochecha corar. Nunca tinha passado tal vergonha, até então. Mas, não. Sei instinto é maior e sabe que pode vencer. Esconde a vergonha e mantém a postura altiva.

      Cason olha para cima, e seu capuz desliza um pouco para trás. Meredith vê os olhos negros dele e fica extasiada. Ele parece ser um homem interessante, e seu desejo ascende.

      ᅳ Sabe, você ainda não me disse o seu nome ᅳ diz Meredith.

      Por um breve momento, Cason emana um calor, e Meredith sente todo frio se desfazer, dando lugar a um ar cálido e angustiante. Ela recua um passo. Mas novamente o frio penetra por entre seu casaco castigando sua pele pálida. Respira fundo espalmando as mãos.

      Cason nota a impaciência no semblante da prostituta. Ele sabe que não pode desperdiçar seu tesouro, ainda mais quando vem tão fácil.

      ᅳ Leo ᅳ mente.

      Meredith o olha com receio, e o brilho que mostrava há poucos minutos nos olhos some. Teme que o homem está à sua frente não seja verdadeiro, que seja um espectro que vai desaparecer no ar a qualquer momento, mas ela não recua, apenas decide seguir em frente.

      Cason estende a mão num movimento lento. Sua mão está coberta por uma luva preta, áspera, que demonstra ser velha. Meredith assente, engolindo em seco, recusando mentalmente a oferta, desejando ardentemente que o homem apenas vá embora e a deixe por mais semanas sem cliente. Ela pega na mão dele, relutante.

      ᅳ Não tenha medo ᅳ diz Cason. ᅳ Tenho um lugar que podemos usar para fazermos o nosso trabalho. ᅳ Continua. Sua voz ressoa da escuridão do capuz que se desfaz nos ouvidos de Meredith.

      Ela está hesitante. Mesmo no frio, sente calor e o suor se acumula na sua testa. Mas se deixa ser levada pelo seu mais novo cliente, se deixa ser levada pelo destino incerto.

     

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