Eles caminham por vários quarteirões, dobrando esquinas, virando a direita, dobrando a esquerda. Meredith tenta decorar cada passo, cada casa, cada rua, mas tudo passa muito rápido diante seus olhos. Seu corpo entra numa inércia. Ela não se sente mais humana e sim um boneco sendo conduzido por alguém que ela sabe que não tem boas intenções.
Os passos de Cason são pesados. Seguem por uma rua deserta. Apenas um gato negro que se esgueira pelos muros avista ambos passarem com passos apressados em frente a uma casa fechada sem nenhum sinal de luz ou vida.
Meredith esboça cansaço enquanto é arrastada. Cason segura sua mão firme.
ᅳ Quando chegaremos? ᅳ ela diz . Sua voz doce some, dando lugar à uma receosa e cansada.
Cason não responde.
Dobram uma esquina, e seguem em frente por outra rua deserta.
ᅳ Onde está me levando? ᅳ ela faz uma careta. Seu pé está doendo.
Deslizam para um beco escuro e Cason para. Meredith esbarra nele, mas não diz nada.
Um silêncio reina. A meretriz se sente sufocada pelo breu, mas logo sua visão se acostuma à escuridão e consegue decifrar a silhueta do cliente à sua frente.
Estão num beco sem saída. Um muro se estende alto logo a frente de ambos. Umas latas de lixo se mexem, e em seguida dois rato emergem do escuro. Passam apressados, um seguindo o outro. Meredith abafa um grito de horror ao perceber os animais passarem correndo. Mas dois ratos são os menores de seus problemas. Ela olha para o céu e vê apenas um manto escuro, com três estrelas lucilantes. Um ímpeto sentimento de sair correndo invade o coração de Meredith. Ela sabe que isso não é uma boa ideia, já que deixaria ele enfurecido, mas seria melhor que ficar ali esperando o que quer quê viesse a acontecer.
_Eu vou fugir. Que se dane_, pensa Meredith. Mas rapidamente cai para trás. Uma dor invade seu corpo, começando pela testa. Ela gesticula, tentando pedir socorro, mas a martelada em sua cabeça fez um estrago horrível. O sangue espesso corre rápido do ferimento perto das sobrancelhas. Goteja no chão sujo, formando uma pequena poça intensa de um sangue grosso. Qualquer chance de fugir se esvai, e Meredith ver, dessa vez, Cason desferir uma segunda martelada com força, dessa vez em sua costela.
O objeto pousa como um meteoro em seus olhos e a dor se intensifica a cada segundo. Ela não grita, não mexe o corpo, apenas fica imóvel, procurando o ar. Tosse sangue, e mais sangue sai por suas narinas. O gosto é salgado e se sente afogada no próprio líquido que serve para mantê-la viva. Ergue a mão no ar, movimentando com gestos aleatórios. Cason sabe que ela está pedindo para parar. Ele rebate o martelo em seus dedos, quebrando-os com o impacto súbito.
Meredith força a voz e apenas um gemido sai por sua boca. Uma onda de sangue desce por seus lábios enquanto ela emite silvos e gemidos baixos. Tenta respirar e apenas se afoga ainda mais, sentindo a torrente de dor por onde o objeto pesado passou. O sangue tem cheiro ruim, então ela para de respirar, não porque a morte a tomou em seus braços, mas porque não quer mais ter que aguentar o gosto péssimo do líquido escarlate.
Cason dispara mais marteladas, dessa vez nos braços de Meredith. Os ossos estalam, indicando que estão quebrados. Quebra também as pernas, e ela apenas geme em meio ao mar de dor.
Ele observa sua prostituta suplicando misericórdia, e sorri; um sorriso frio como uma tempestade de neve. Ver nos olhos dela a dor incendiando-a, como um fogo que não pode ser domado. Ver também resquícios da morte se espalhando e a vida se esvaindo, finalmente, dando fim a uma dor cáustica.
Então Meredith sente o beijo mortal que só a morte é capaz de dá. Um beijo que todos querem sentir, mas ao mesmo tempo tem receio de receber. Um fim para todo sofrimento de uma vida medíocre e miserável. Uma vida que se resume passar noites em claro, chorando, deprimida, pedindo misericórdia para a própria vida. Mas uma coisa é certa, somente a morte é misericordiosa; somente ela consegue dá fim a todos os problemas.
Meredith morre, mas antes uma linha tênue se forma em sua boca e ela esboça um sorriso minucioso bem no canto de cada lábio. Um ato de agradecimento. Seus olhos abertos não demonstram mais terror ou medo e sim irradiam um brilho intenso de descanso e paz. A lua reflete em cada olho, longínquo.
— Obrigado — ela quis dizer, mas a frase ficou apenas na sua mente antes de dar seu último suspiro.
The End.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Esperança
Short StoryÀs veses a esperança se encontra nas ruas, mas nem sempre ela pode ser gentil. O destino pode ser tão mortal quanto você pensa.