Capítulo Três

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Will mora a quatro quadras da minha casa mas, mesmo assim, insiste em me buscar pessoalmente, ele não confia nos vizinhos.
Ele tem cabelos grandes e ondulados, pretos como seus olhos. É bem mais alto que eu e magrelo, ele é tão branco que suas veias aparecem com facilidade. Ele sempre usa camisas xadrez ou pretas e calças escuras com um All Star de todas as cores. Eu adoro o estilo dele.
  O céu alaranjado do fim de tarde anunciava a chuva que viria, a brisa gélida já soprava em nossos rostos e sabíamos que a noite seria fria. O velho gol bolinha da mãe de Will veio bem a calhar, ele é aconchegante e cheiroso. Peguei um óculos de sol no guarda luvas do carro e experimentei.
—Seu estilo é inegavelmente intrigante, mas inovador. — Comentou Will ironicamente.
—E você é um comediante desperdiçado pelos talk-shows.

Menos de quinze minutos e já estávamos na frente do portão da garagem de Will, a casa dele não é tão grande quanto a minha mas é tão linda quanto, é estilo vitoriana antiga, o piso de madeira dá vida ao lugar.   
Desci do carro e só agora me dei conta de que ainda estou de pantufas e, para piorar, é de coelhinho rosa. A mãe do Will, dona Ana, apareceu na porta para me comprimentar.
—Quanto tempo Serena! Você está linda, vamos, entre. E a propósito, adorei suas pantufas, queria ter essa idade para usar esse tipo de coisa de novo.
—Obrigada, eu acho.
Entramos para o quarto dele e ligamos a TV, fiquei escolhendo o filme enquanto ele buscava o que comer.
—Temos doritos, refrigerante, doces, balas e tudo a que você tem direito.
—Maravilha! Vamos assistir It, a Coisa?
—Eu comprei exatamente para isso, mas você não tinha medo de palhaços?
—É, tinha. Acho que palhaços são pessoas tristes, sendo obrigadas a aparentarem felicidade o tempo todo.
Eu liguei o filme e nos deitamos em meio aos travesseiros e cobertas em cima do tapete felpudo, confesso que me assustei em algumas partes do filme mas nada que passasse do gritinho seguido de risadas bobas. É normal rir em filmes que transmitem medo? A cada susto Will me abraçava mais forte, e quem se assustou mais? Ele, claro. Quando vi já estava deitada no peito dele, acho que me deixei levar, mas isso não pode acontecer de novo.
  Me levantei assim que o filme acabou.
—Mais uma rodada Senhorita Nova Integrante da banda? — ele perguntou.
—Não, já é tarde. Preciso ir.
—Antes — ele se levantou e colocou minha música favorita pra tocar, Pumped Up Kicks da banda Foster The People. — precisa dançar loucamente comigo, essa é a melhor maneira de celebrar a sua entrada para a banda. Vai me dizer que não quer dançar?
É verdade, essa música é tão envolvente que eu não pude recusar. Demos as mãos e dançamos loucamente por 4 minutos e 15 segundos. Foi revigorante, mas eu tinha mesmo que ir. Entramos no carro e ele me levou até em casa no som de Pink. Dona Lúcia estava na porta me esperando, o que não é muito comum.
—Precisamos conversar. — Disse ela num tom sério depois que passei da porta.
—Do que se trata? É sobre o papai? — espero que não seja.
—Não, é bem mais sério.
Nos sentamos no sofá e ela começou.
—Quando iria me contar que entrou em uma banda? E pior ainda, de garagem! Não tem nem futuro!
—Estava esperando o melhor momento, mas como você soube?— perguntei intrigada.
—Um garoto chamado Bob ligou depois que você saiu. Disse que amanhã começam os ensaios.
—E o que você disse? — arregalei os olhos.
—Disse que era um engano, que nenhuma filha minha estava em uma banda e desliguei. Você não achou que eu iria deixar, achou? Você não se parece com a minha filha mais.
—Mas a escolha é minha, eu não quero fazer faculdade agora. Eu já tenho quase dezoito anos mãe, quando vai entender que não se trata da sua vida mas sim da minha? Eu amo a música, e isso não vai mudar.
Ela pensou por um momento, esperei que ela gritasse comigo ou me entendesse e dissesse "É sua escolha, tudo bem." ou "Eu não gosto mas fazer o quê." mas foi bem pior.
—Já que a vida é sua e já tem quase dezoito, não precisa mais de mim, nem da minha casa e nem do meu dinheiro. Tem uma semana para arrumar um lugar pra ficar, não quer ser independente? É a sua chance de fazer o que quer.
—Tudo bem, Lúcia.
Subi as escadas chorando. Eu não quero decepcioná-la, mas é o meu sonho que está em jogo e ela deveria saber disso. Quero lutar por ele, com ou sem a ajuda dela.

Meu Futuro Pertence À MimOnde histórias criam vida. Descubra agora