00| Prelúdio

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Prólogo
PRELÚDIO  (Indicar a vinda ou existência de algo; prélude)

      Lá estava eu novamente no topo daquele prédio que nunca foi, nem nunca irá ser, acabado

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      Lá estava eu novamente no topo daquele prédio que nunca foi, nem nunca irá ser, acabado. Empoleirado na margem da parede do terraço; de cabeça erguida a observar o panorama da cidade. Este prédio é uma excelente representação do quão auto-destrutiva a ambição pode ser. Tinham grandes planos para este edifício, que claramente falharam; era suposto ser um hotel de quatro estrelas mas tudo o que sobra é uma estrutura inacabada que é agora um ponto de encontro de toxicodependentes e sem-abrigos. Francamente não sei porque é que ainda venho a este local, não é como se a vista daqui de cima fosse bonita. Na verdade, eu acho que chega a deturpar a beleza urbana da cidade. Isso reconforta-me, sinto que valida a minha opinião. 

     Saltei para dentro do terraço. Talvez eu apenas goste do conforto do silêncio e do distanciamento daquilo que é citadino; mas também tenho noção que não sei viver de outra forma se não numa civilização urbana. A minha própria hipocrisia ratifica a crítica que tenho contra o ser humano.

     O sol começou a pôr-se e eu fiquei com frio. Desci a escadaria do prédio que estava vandalizada com as memas tags de grafifiti que via em todas as outras ruas da cidade e atravessei o que seria o parque de estacionamento do hotel. Era aí que de tarde a aparente pequena comunidade de sem-abrigos, que só tendia a aumentar, se reunía para partilhar os poucos recursos que têm e se aquecerem junto da fogueira improvisada com um contentor de metal e lixo; um bando de desconhecidos que vive mais em família que muitos nós. Continuei a andar até ao sítio por onde entrei; empurrei um pouco as grades enferrujadas do portão de entrada e pulei para um poste de cimento caído no meio da erva que rodeava o local. Passei o matagal e fui em direção a casa, que ficava a uns dez minutos a pé desdo Urtiga-Vermelha .

     "Urtiga-Vermelha" não era o nome verdadeiro do hotel, aliás, quem lhe deu esse nome foi a Alda, uma amiga minha de infância, costumávamos vir aqui frequentemente mas já há mais de um ano que venho sozinho.

     Estava distraído a olhar para o télemovel até que a inauguração de uma nova loja na minha rua me chamou à atenção. Chama-se OSAP e ao que parece é uma loja de velharias. Cativado pelo distanciamento desta loja com o resto das montras, cheias de manequins repletos de roupas mais caras do que parecem custar, decidi entrar. Ao abrir a porta ouvi o tocar de um espanta-espíritos que se ecoou pela loja toda enquanto eu olhava em redor- cheirava a bafio, era de esperar.

     "Boa Tarde." - Disse um homem que saiu de uma porta que ficava ao lado do balcão. A pele dele parecia suave e tinha um bonito tom de castanho. O seu cabelo era negro e encaracolado, parecia bastante composto; até os cabelos pequenos e finos que nascem perto da testa estavam num prefeito caracol. A sua face estava coberta de sinais, usava óculos, os olhos eram castanho claros, as sobrancelhas dele eram peludas mas estavam arranjadas, os seus lábios eram grossos e possuíam um brilho natural. Aparentava ser mais velho que eu, dáva-lhe vinte e um anos.              "Boa Tarde." - respondi-lhe, e quase como se estivesse a falar com um robô que responde automáticamente assim que acabamos de falar ele disse:
     "Por acaso estava prestes a fechar a loja, está à procura de algo?"
     "Não, estava apenas a dar uma vista de olhos. Eu vou-me já embora, não quero atrapalhar o seu trabalho."
     Ele sorriu e disse que não o estava a atrapalhar, contudo foi um sorriso tão distânte e frio que me senti mal e saí logo da loja. A loja parecia ter coisas interessantes mas não interessante ao ponto de voltar a lá ir.

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⏰ Última atualização: Apr 26, 2020 ⏰

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