— Liv, faça as honras, sem desmaiar por favor... — ironizou Marina, sinalizando um jogo de cartas em cima da escrivaninha.
Lívia balbucia num tom propositalmente inaudível, em seguida, dá sua clássica bufada. Automaticamente os olhos se viram, acompanhados da expressão de desdém e insatisfação da moça.
O galpão-cenário era enorme. Aproveitava o espaço de maneira magistral! Eram quatro cômodos divididos em: sala, cozinha, banheiro, lavanderia e suíte.
A sala era bem ampla, aparentemente uma mansão — com certeza era uma mansão.
Os candelabros pendurados ao teto, a vitrola vintage tocando "Get up offa that thing" de James Brown e um sofá invejável de uma espécie de couro que Mário nunca soubera haver, ao lado de uma escrivaninha onde se encontravam as orientações da primeira fase:
— Sejam todos bem-vindos! A casa dos Murssittore os recebe humildemente. Talvez 60 minutos não baste, talvez o caso seja arquivado e vocês gastem o valor da entrada atoa. Por isso, aproveitem que estou bonzinho, os darei 40 minutos a mais...
— Eles podem fazer isso? — perguntou Beatriz com um risinho desconfiado
— Devem poder, e acho que é melhor não reclamar, porque é de graça... — respondeu Marina com sua ignorância refinada
— Posso continuar? — alfinetou Lívia, como de costume, de saco cheio — A família Murssittore acabara de viajar para suas tradicionais férias na Toscana. Mellissa, a mais nova da família, não pode ir, já que aparentemente tinha muitas responsabilidades na faculdade e trabalho.
— AH! EU NÃO ACREDITO — berrou Marina — vocês tão de brincadeira?! De quem foi essa ideia?
— Qual ideia? — perguntou Mário
— Pergunta pra elas que 'tão' de sacanagem comigo!
Lívia soltou o prenúncio do que viria a ser uma risada longa e esculachada
— Você acha que tudo no mundo gira em torno de você, 'né' minha doce e amada Marina? É a história da sala, sua doente! Tá escrito aqui, dá uma olhada se quiser... maluca!
Mário usualmente não se intrometia nos problemas individuais da irmã e Lívia sempre foi muito boa com a mão e desenfreada com a língua. O costume de se afastar e deixar que a irmã resolvesse seus problemas, naturalmente, o isentava a responsabilidade da prestação de contas de seus pais em casa (que era tudo o que Mário mais queria evitar desde a reconciliação que os dois tiveram)
— Bom... eu vou dar um rolê pela casa, e ver se eu acho alguma coisa que possa nos ajudar a resolver esse 'bang' — argumentou Marina
— Resolver o quê, se eu não terminei de ler? — contra-atacou Lívia
— O tema é assassinato, minha querida... Alguém morreu, e provavelmente temos que descobrir antes de nos matarmos aqui dentro...
Nesse exato momento as luzes se apagam. Antes mesmo que Mário pudesse pronunciar a última palavra.
A mesma vitrola, que por meio das caixas de som, mantinha James Brown em uma calorosa ambiência, recebe repentinamente o acompanhamento de uma microfonia aguda causada pelo skating da agulha sobre o disco, simultânea a um baque surdo e intenso seguido do grito de Marina em algum lugar da casa.
— ACENDE A LUZ PELO AMOR DE DEUS! — gritou Bia batendo na porta da frente
Portas e janelas, trancadas.
Saídas de emergência, barradas.
O desespero de Lívia toma conta dos sentimentos de Mário por osmose, afinal, o fato de não serem tão chegados não anulava o fato de continuarem sendo irmãos:
— Aí pessoal, isso aí não tem graça nenhuma, minha irmã tem medo dessas paradas. Acho que é legal e tal, mas vamos respeitar, fazendo o favor! — gritou, o mais alto que podia
— Não vai adiantar berrar, sem energia não tem como abrir. As trancas são elétricas, essas portas só vão abrir com energia! — explicou Vinicius
— Jura?! Genial! — lançou Bia com sua pitada extra de sarcasmo, mais uma coisa em que ela e Lívia eram idênticas
— Você tem o dom de ser inconveniente na hora errada, né?! Só você consegue ser tão desagradável! — retrucou o garoto
Um clarão surge no andar de cima. Aos poucos os refletores se energizam, a luz voltou.
— Tá todo mundo bem? — perguntou Liv se levantando do sofá um pouco baqueada
— Acho que não — respondeu Vinícius — aí, algum de vocês viu a Marina?
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Vivos
Mystery / ThrillerMário e Lívia são convidados para uma festa na nova Escape Room que abriu na cidade, para comemorar o aniversário de um dos amigos. Tudo vai bem até acontecer um apagão... A partir daí, ninguém sai da casa! Até porque, todas as portas estão trancadas
