Um bolo gostoso.

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— Eu sou um lixo humano mesmo.

Youngjae juntou as gemas de ovo que escaparam de sua mão e as jogou na pia de forma desajeitada, logo procurando um pano úmido para limpar toda a sujeira. Enquanto o fazia pensando que estava sozinho, Jaebum o observava da porta da cozinha com um sorriso nos lábios, segurando o riso. Youngjae terminou de ajeitar as coisas e começou a reclamar baixinho, se xingando e também culpando sua falta de atenção com as coisas. Por mais que o Im odiasse a mania autodepreciativa do Choi precisava dizer: era muito engraçado e fofo vê-lo frustrado consigo mesmo. Certas vezes ele até se beliscava para tomar jeito, tudo para depois ficar com um bico nos lábios por ter feito muito forte. Youngjae era muito fofo aos olhos de Jaebum e nada mudaria isso.

— Tendo dificuldades? — pronunciou-se pela primeira vez, aproximando da frustração em pessoa que era Youngjae.

— Bom dia hyung — resmungou contrariado, limpando os dedos sujos. — Eu estou bem.

— E o meu beijo? — Perguntou sentando-se na parte limpa da bancada, sorrindo.

O Choi fez pose mole e aproximou-se do mais velho, ajeitando-se entre as pernas abertas dele e ficando na pontinha dos pés para conseguir alcançar os lábios róseos do Im. Jaebum segurou-o pela cintura sem curvas, sorrindo bobo ao ver o moreno reclamar do carinho excessivo que sempre recebia. Na cabeça de Youngjae não fazia sentido ser tão amado por alguém como Jaebum — o homem alto, de porte forte, belo e educado, tipo ideal de muita gente —, então sempre ficava extremamente envergonhado quando ele simplesmente tirava alguns bons minutos para ficar beijando e abraçando, dizendo coisas bestas. Youngjae simplesmente não conseguia entender, de todas as pessoas do mundo, como Jaebum poderia simplesmente escolhe-lo dessa forma?

Afinal não tinha nada de especial. Não sabia cozinhar, tinha dificuldade para aprender matemática, física e química, o que o tornava extremamente de humanas. Não gostava nem um pouco de sair, introvertido de carteirinha, coisa que fazia Jaebum passar a maior parte do tempo em casa — e o Choi sabia que ele adorava sair. Tinha alergia a gatos e não podia ficar no mesmo ambiente que eles sem espirrar constantemente, então precisava de vários remédios para controlar alergia, coisa que Jaebum sempre pagava porque tinha o motivo pronto: os gatos são meus, Youngjae, eu deveria pagar seus remédios. O mais novo simplesmente não conseguia compreender porque ele se prestava a fazer tantas coisas por si, o tal do lixo humano, aquele desajeitado da sala que sempre dá um jeito de derrubar todas as coisas no chão no primeiro dia de aula.

— O que você estava aprontando?

Youngjae saiu de seu transe autodepreciativo para fitar o namorado, logo soltando um suspiro pesado.

— Queria fazer um bolo, mas mal quebrar ovo eu consigo sem derrubar tudo — resmungou. — Eu sou um fracasso.

— Você não é um fracasso, meu amor — Jaebum soltou um risinho. — Você só não tem jeito pra cozinhar.

— É a mesma coisa — disse manhoso, com um bico enorme nos lábios. — Você namora um idiota.

Jaebum segurou o rosto de Youngjae e ficou o fitando por longos segundos, talvez até minutos. O Choi não conseguia olha-lo de volta nos olhos, então mirava qualquer coisa que não fosse a bela face do namorado, inutilmente tentando controlar o rubor louco nas bochechas. Seus dedos inquietos ficavam tamborilando na bancada da pia, era assim que o garoto ficava tentando se acalmar, mas ele sabia que era em vão. Mesmo que não fitasse Jaebum de volta o mais novo sabia bem o que ele fazia e só o pensamento de estar sendo analisado e julgado o deixava extremamente nervoso. Se não amasse tanto Jaebum como amava com certeza seria mais fácil, contudo a situação era justamente ao contrário do que desejava. Youngjae amava tanto aquele homem que certas vezes jurava não entender como poderia o fazê-lo mesmo sendo tão insuficiente em várias coisas.

— O que eu disse sobre sempre se colocar para baixo, hm? — Jaebum perguntou em tom firme, fazendo certa graça — Ein, Youngjae?

O Choi mordeu o lábio inferior envergonhado, ainda não o fitando.

Disse que eu não deveria fazer isso porque sou muito especial.

— E o que mais?

Que eu sou a pessoa que o hyung mais ama no mundo e não sou inútil.

— Olhe pra mim — Pediu, logo vendo os olhos escuros o mirarem incertos. — Eu não minto quando digo que te amo mais que tudo, também não minto quando digo que você não é inútil. Pelo contrário, você é uma das pessoas mais talentosas que eu conheço. Canta bem, desenha bem, tem muito conhecimento literário e é absurdamente inteligente quando o assunto é a sociedade e a forma como ela se porta. Eu fico até surpreso quando te vejo pesquisando filosofias loucas, me enche de orgulho sabia? Você também é prestativo e educado, nunca te vi respondendo as pessoas de forma grosseira, mesmo aquelas que de alguma forma queriam te atingir. É dedicado a família e aos amigos, sempre disposto a ajudar qualquer um que pedir uma mão amiga. Você é bem mais do que eu, sabia?

— Mas—

— E também sei que você é desajeitado, mas se quer saber isso te deixa ainda mais fofo do que naturalmente é. Seu jeitinho todo desleixado de andar para lá e para cá me deixa sorrindo o dia inteiro mesmo longe de você, só de lembrar no trabalho eu morro de saudade e quero correr para te abraçar e encher de beijinhos. Todos os meus amigos te adoram, sério, o Jinyoung todo dia me diz que quer te adotar só porque você é a pessoa mais fofa do mundo na concepção dele.

— Mas o Bambam é muito fofo e o Jinyoung hyung namora ele.

— E o Jinyoung diz que você é mais fofo, viu como você é extremamente adorado por ele e pelos outros? — Desceu da bancada, abraçando Youngjae. — Eu gostaria que você pudesse se ver como eu te vejo, sério. Seria tão mais fácil explicar o que eu sinto toda vez que você abre esse sorriso maravilhoso capaz de iluminar todo o meu ano.

— Hyung você fica me iludindo com essas palavras — resmungou retribuindo o abraço.

— Eu sei que seu último relacionamento foi difícil — Sorriu ameno. — Sei que aquele cara te disse muita coisa idiota, que ficou falando besteiras sobre você, sua aparência, seu jeitinho lindo, mas ele estava mentindo, certo? — afastou-se do menor, o olhando nos olhos — Você é todo perfeito do jeito que é, mesmo que fragmentado, e eu não poderia amar alguém mais do que amo você. Mesmo com suas piadas autodepreciativas, eu ainda te amo muito, apesar que desejo que elas parem, afinal você não pode se colocar para baixo dessa forma.

— Você é um bobo — Escondeu seu rosto no peito de Jaebum, escondendo os olhos marejados. — Muito muito muito bobo.

— É? — Sorriu. — O que mais?

Youngjae sorriu ameno, respirando fundo.

— E eu te amo muito.

— Assim que se fala — Puxou-o para fitar a si, secando as lágrimas teimosas que sempre apareciam quando falavam sobre o ex idiota de Youngjae. — Agora nós vamos fazer o melhor bolo do mundo juntos e eu vou te ensinar certinho para não parecer complicado.

— Eu vou destruir tudo e—

Jaebum o fitou repreensivo.

— Vai dar tudo certo — Sorriu envergonhado, fazendo um sinal positivo. — Vai dar tudo certo, ok?

— Bom mesmo — Estreitou os olhos, abrindo um enorme sorriso em seguida. — Tão lindinho — Apertou as bochechas de Youngjae. — Nós vamos fazer o bolo e depois eu vou me sentar com você na frente do espelho da sala e te mostrar tudo de perfeito que você tem.

— Hyuuung — disse manhoso, desgostoso. — Por favor, não.

— Ah, vamos sim — Sorriu, beijando as bochechas vermelhinhas. — E depois eu vou ligar para os meninos e fazer eles te elogiarem bastante, assim você aprende a se amar o tanto quanto eu te amo.

— Mas Jaebum hyung eu—

— Cadê os ovos? — perguntou fitando o Choi, ainda sorrindo.

Youngjae retribuiu o sorriso, apontando para a geladeira. Sentia-se melhor por não saber cozinhar tão bem quanto o restante das pessoas, mas sabia que seria difícil acabar com sua mania de se desprezar.

— Ali hyung.

— Obrigada meu bebê, agora mãos a obra!

Mas pelo menos tinha Jaebum.

AutodepreciativoWhere stories live. Discover now