Era fim de tarde quando o vi cruzar a porta pela primeira vez. Lembro-me bem de sua expressão cansada e de como parecia apressado; tão absorto em pensamentos que nem notou minha presença ali. Na hora não me importei, não queria ser vista, só queria vê-lo. Queria mesmo era observar seu rosto tão concentrado naquele caderninho. Quase que imediatamente quis ler o que tanto escrevia.
Eu quis ler você.
Ao passo que o sol ia subindo a parede, eu desejava conhecer sua mente, saber seus conceitos - eu ainda me pego pensando sobre eles - e compartilhar com você os meus.
Hoje quando me recordo deste primeiro contato me forço a conter um sorriso, nós dois sabemos que manter a chama do afeto acesa não seria prudente.
Balanço a cabeça, sinto o vento em meu rosto e olho pro lado. Vejo olhos de ternura e um doce sorriso, me inclino para dar-lhe um beijo. Sinto seu sorriso contra meus lábios e me permito sorrir também; embora não seja o beijo, nem tão pouco os lábios que me beijam, a causa da minha alegria momentânea.