Andando pelas ruas, todo dia as mesmas ruas, seguia a bela florista.
Mas ela não era bela por seu aspecto físico, como cabelo, unha ou pele; estes eram adicionais a ti. O mais belo nesta era teu coração, tão belo, tão puro, que jorrava de tal energia indescritível.
Esbanjando simpatia e roubando suspiros, a bela florista seguia seu caminho, pelas mesmas ruas, sempre as mesmas ruas.
Certo dia notou que, em certa rua, todo dia, no mesmo horário, havia uma senhora. Sempre debruçada em sua janela, olhando para o nada, e sorrindo por qualquer coisa.
A florista não era petulante, mas se sentiu tentada a matar a curiosidade diante de tal postura da idosa, e assim, tomou a decisão de lhe fazer a seguinte pergunta:
- Senhora, o que tanto fazes ai na janela?
Ela dispôs de um grande sorriso, e lhe respondeu:
- Estou aguardando meu filho, bela florista. Este que foi fazer uma grande viagem, tarda a voltar, e eu me mantenho aqui na janela, esperando com ansiedade tua chegada para poder revê-lo.
- Oh - exclamou impressionada com a resposta - então tome aqui, - disse pegando uma rosa de tua cesta - fique com esta flor, para dar-lhe quando retornar.
E a partir daquele dia em diante, depois do desabafo daquela senhora, desconhecida aos olhos, mas uma velha amiga diante do coração da florista, esta sempre que passava por aquela rua, sempre deixava uma flor a ela, como símbolo do apreço ao amor daquela pelo filho.
Às vezes margaridas, às vezes girassóis, tudo dependia da demanda do dia.
A bela florista tinha noção que muitas murchariam com o passar do tempo, mas pouco se importava a isso.
E esta rotina se repetiu por dias, semanas, e quem sabe meses...
Porém, num certo dia, viu duas moças muito formosas, aparentemente de classe média-alta, trocando palavras que, por um motivo incerto, atraiam a atenção da florista que, mesmo não sendo de ouvir a conversa alheia, foi tentada pela sua curiosidade e ousou ouvir parte do assunto:
- A Dona da casa 696 ainda está idealizando a volta de seu filho? - perguntou a loira.
- Sim - respondeu a outra, enquanto penteava os longos cabelos ruivos de uma garotinha, que deveria ser tua filha, levando em conta a mesma tonalidade de cabelo de ambas - Os filhos e netos ainda não tiveram coragem de contar o que ocorreu com o coitado para ela - completou detalhadamente, fazendo feições que deixavam nítidos suas rugas e linhas de expressão, dando a ideia de que esta deveria beirar a meia idade.
- Nossa! - exclamou - És tão errada esta atitude! Por que não contam logo a ela que teu filho não irá voltar?
A bela florista já estava muito longe quando foi dada uma resposta. Sentia uma dor incompreensível no peito, como se absorvesse o sentimento de perde ainda não sentido por aquela pobre senhora.
Ela não conseguia mais passar por aquele mesmo bairro, por aquela mesma rua, por aquela mesma senhora sem sentir pena, dó, e também vontade de abraça-la com toda sua força, que em tão pouco tempo, havia conquistado de tal maneira o coração da bela florista, que não entregar aquelas flores com o amor de antes, a deixava melancólica de uma maneira que já não se denominava mais bela, pois não havia dentro de ti uma bela aura, e sim mágoa, tristeza e escuridão.
Aos poucos, a moça parou de frequentar aquele ambiente que retirava da mesma toda sua luz, toda sua beleza, tirava-lhe a vida. Mas não a vida no sentido literal, mas sim, no sentido de viver.
A vida na forma de amar, de sentir, de transmitir, a vida no modo de ser.
(...)
A bela florista pensou que estava bem, mas não, não estava! Sentia falta de sempre ver o sorriso no rosto daquela senhora, pois nela, havia algo que faltava em nossa garota, em mim, e em você também: esperança!
Esperança de ver seu filho passando pela porta, lhe dando um abraço caloroso enquanto as lagrimas de ambos caem, a emoção de reencontrar aquele ser que tanto lhe fazia falta...
Mas ela não vai o encontrar. Ele não entrará pela porta e as lagrimas não irão cair. Isto jamais vai acontecer, ele não voltará!
Ela decidiu reencontrar a senhora para lhe contar a verdade que ninguém havia lhe contado, nem sua família ou talvez suas vizinhas fofoqueiras, ninguém!
E chegando lá, no mesmo bairro, na mesma rua, no mesmo horário, encarou a janela, e.. Espera, ela não estava lá?
Paradas diante da casa, mil coisas passaram em sua mente, mas sua reação foi apenas uma: ir bater na porta.
Três batidas foram suficientes para a porta se abrir, mas não havia ninguém, a casa estava vazia, mas aberta.
Ou algo havia aberto?
Invés de ir embora, a bela florista adentrou, reparando em casa detalhe rustico e aconchegante da casa, enquanto sentia alguma força maior que a puxava para um cômodo específico: o quarto principal.
Em cima da cama, havia um vaso com dezenas de flores, e logo reconheceu as mesmas, percebeu que era as que deixava todo dia para ela.
Como haviam sobrevivido por tanto tempo? - se perguntava.
Ao lado, viu uma carta, nela, estava escrito seu nome.
Mas como ela iria saber seu nome se nunca o havia mencionado?
Logo pegou, e começou a ler.
"Olá querida,
Sei que deve estar assustada, mas não se preocupe, eu estou bem. Vim para um lugar muito agradável até, cuido do meu jardim todo dia com todas as flores que tu já me destes.
Por aqui tudo é muito calmo, mas tenho pouca companhia, fora isso, é praticamente perfeito!
Ah meu anjo, eu tive que ir, mas não se preocupe, quando tu tiver que vir também, eu irei te trazer da melhor maneira e preparar uma bela festa de boas vindas!
"Ass- Senhora."
E foi ali que percebi, que seu filho havia a buscado.
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A bela florista e a senhora misteriosa
Historia CortaPessoas se cruzam, olhares se cruzam, sentimentos se cruzam. Mesmo não sabendo praticamente nada dela, a bela florista se sente cativada pela senhora misteriosa e a maneira de encarar o mundo com doçura, amor e esperança. Mas todo encontro tem um po...