10 de Agosto de 2010
Em um importante hospital da cidade de São Paulo, mais precisamente na ala pediátrica, um ar pesado e tenso toma conta dos corações de Antônio e Olívia Barreto. Allan, seu único filho acabava de passar por exames detalhados. Não deveria ser motivo de tanta preocupação, afinal de contas, se tratava de um hospital respeitadíssimo, com os mais competentes médicos em seu corpo de funcionários. Muitas crianças passavam por cirurgias delicadas todos os dias com sucesso e pessoas de diversas partes do Estado eram atendidas sem problemas naquelas dependências.
Outro detalhe importante é que Antônio é executivo de uma grande multinacional, ao passo que Olívia é advogada criminal de muito respeito em sua área. Sem sombra de dúvidas, uma conta alta ali não era o problema, nem tampouco preocupações com medicamentos que poderiam conter um preço elevado. O que realmente tirou o chão desses pais foi justamente o diagnóstico do pediatra, que pareceu ter pensado diversas vezes antes de dizer o que tinha que dizer. O Doutor Otávio passou a mão em seus cabelos grisalhos e bem penteados duas vezes antes de sentar em frente à família para abrir o envelope com os resultados dos exames. Era outro fator estranho, já que em onze anos(que era justamente a idade de Allan), o pediatra nunca havia demonstrado sinal algum de ansiedade na presença de Antônio e Olívia. Foi a mãe a primeira a quebrar o silêncio ensurdecedor no consultório:
- Doutor Otávio, o que acusaram os exames? O que realmente o Allan tem? É muito grave?
O médico respirou fundo, como se quisesse encontrar as palavras certas para dar a notícia. Também não conseguindo se conter, Antônio insistiu, quase não conseguindo proferir sua voz:
- Doutor, o que está havendo? Por favor, nos conte! Precisamos saber o que o Allan tem... faremos tudo o que o senhor nos orientar!
O pequeno Allan, assustado com a reação de seus pais, ainda não consegue entender o cenário ao seu redor. Percebeu que o coração do seu pai começava a pulsar de forma muito acelerada, já que estava em seu colo. As mãos de Antônio tremiam e ele já quase não conseguia segurar o filho em uma posição fixa. Allan tinha os cabelos lisos e loiros, herdou os olhos azuis da mãe e era fascinado por cinema, assim como seu pai. Tinha em seu quarto bonecos de diversos personagens da ficção e também muitos livros. Ler era o seu hobbie predileto e Antônio, sabendo disso, sempre presenteava o garoto com coleções inteiras de obras literárias. Estava acostumado a ver os pais descontraídos, brincalhões e sorridentes. Mas naquele momento, que mais parecia um pesadelo, o que Allan via fugia totalmente do cotidiano. O que ele não suspeitava era que tudo iria ficar ainda mais estranho depois das amargas palavras do Doutor Otávio:
- Senhor Antônio e Senhora Olívia... a notícia que eu vou dar a vocês neste exato momento com certeza vai mexer com a estrutura de toda a família! Eu peço encarecidamente que vocês sejam muito fortes!
Olívia já estava envolta em lágrimas, como se naquele momento, pudesse presenciar todo o cenário futuro:
- Por favor, Doutor! Nos conte... o que realmente o nosso filho tem?
- Eu os conheço há exatos onze anos! Sempre trabalhei junto a vocês para que Allan pudesse desfrutar de plena saúde e nunca tivesse problemas... é um menino que, para ser sincero, já não é apenas um paciente... é um amigo! E para mim é extremamente difícil dar uma notícia dessas a vocês...
Olívia não aguentava mais esperar:
- Doutor, o senhor está nos torturando! Por tudo o que é mais sagrado, nos conte de uma vez o que o Allan tem!
O doutor respirou fundo, ajeitou os óculos e voltou a olhar para os exames:
- Meus amigos, a realidade é que o Allan vem carregando ao longo dos anos uma doença silenciosa, que poderia ser facilmente confundida com uma gripe ou uma leve oscilação de pressão... no entanto, é uma doença gravíssima e se espalha pelo organismo com uma velocidade catastrófica.
- E de que doença exatamente estamos falando, doutor? - pergunta Antônio, tentando manter a calma.
- Infelizmente, o que o Allan tem é um poderoso câncer no fígado e sinto muito lhes dizer, mas já se encontra em um estado muito avançado!
Aquelas palavras entraram pelos ouvidos do casal como se estivessem repletas de espinhos. O impacto foi violentíssimo. Allan agora presenciava sua mãe chorar como nunca havia visto. Seu pai agora tremia muito mais e o apertava com muita força em seu colo. Os dois soluçavam desesperados e o médico tirou seus óculos e também levou as mãos aos olhos. Allan se sentia perdido, olhava para os quatro cantos do consultório, como se procurasse algum motivo concreto que estaria fazendo com que todos chorassem. O primeiro a conseguir se conter foi Antônio, que juntou forças, encarou o doutor Otávio e perguntou, com a voz extremamente embargada:
- E o que podemos fazer, doutor? Como vamos poder ajudar nosso filho?
- É importante que vocês saibam que posso considerar a doença de Allan como uma situação terminal, mas tenho uns medicamentos que posso dar a vocês para que isso seja controlado.
Olívia finalmente conseguiu se acalmar:
- Diga logo que medicamento é esse, doutor! Não importa o quanto ele custe, vou compra-lo assim que sairmos daqui!
- Não precisa se preocupar com isso agora! - respondeu o pediatra - Tenho comigo amostras desse medicamento e vou dar uma boa quantidade a vocês. Devem aplicar uma pequena dose a cada doze horas e é importante que não percam o horário da injeção. O câncer poderá ser controlado, mas ainda assim, não sei por quanto tempo Allan irá resistir!
Então, o doutor Otávio entrega nas mãos de Olívia uma maleta contendo seringas da medicação. Era um total de quinhentas seringas, o que daria uma relativa segurança à família. No entanto, parecia que nada naquele momento poderia consolar a dor de Antônio e Olívia. Dentro do carro, no caminho para casa, o silêncio começou a incomodar Allan, que estava no banco de trás. Sua mãe segurava com força a maleta e ficou durante toda a viagem olhando pela janela do veículo, provavelmente para esconder suas lágrimas.
Ajeitando-se um pouco para frente, quase também entrando em desespero, Allan pergunta:
- Papai, o médico disse que eu estou morrendo? Foi isso o que eu ouvi?
Juntando toda a sua força e prendendo ao máximo suas lágrimas, Antônio responde:
Filho, foi mais ou menos algo assim! Mas não se preocupe, pois sua mãe e eu faremos de tudo para que sua vida seja vivida de uma forma muito especial!

YOU ARE READING
O Ponto Final da Vida
Fiction généraleAllan Barreto é o único filho de um casal bem-sucedido e de vida confortável. Com 11 anos de idade, é portador de uma incrível inteligência e de muito amor para com todos ao seu redor. Sempre foi uma criança criativa, saudável e motivo de muito org...