Capítulo 3

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- Ei, Catharina. Acorde.
- Aonde eu est... Ah.
- Você deve estar com fome, não é? - perguntou Francesca.
- Não. Estou apenas com vontade de morrer.
- Não diga isso! - ordenou, de braços cruzados.
- Francesca, você quer que eu me sinta bem nesta situação? Impossível. Sou forte, mas não de pedra.

Ela ia falar alguma coisa, mas recuou, e disse:

- Só pense que você teve o privilégio de viver na realeza por 18 anos.
- Para depois me tirarem de lá de um dia para o outro? - a interrompi. - Seria mais fácil ter vivido a vida toda na miséria do que sair de um castelo e ir para uma barraca.

Francesca fechou os olhos e contou até dez, com clara impaciência.

- Em primeiro lugar, não vamos para uma barraca. Em segundo lugar, você prefere que eu te deixe dormindo na rua? Você tem duas opções. - ameaçou, logo em seguida indo para o outro lado do caminhão.

Aquela viagem estava ficando mais cansativa a cada segundo.
Até que paramos em uma casa.

- É aqui que vamos ficar? - perguntei, com desgosto. A casa até prestava, mas não tinha comparação com o palácio real.

- Sim. Várias pessoas dividem esta casa, então acho melhor você se comportar bem, Srta. Catharina. - indicou ela, enquanto pagava o motorista do caminhão.
- De que adianta eu me comportar, Francesca? Nada mais importa. Ninguém liga se eu for mal educada.

Francesca me olhou com um mesmo olhar que minha mãe fazia quando brigava comigo.

- Eu ligo. O que pensarão de mim? Que eu te eduquei de forma errada.

Como assim?

- Espere aí. Você vai dizer aos plebeus que é minha mãe? - perguntei, enquanto entrávamos na casa.
- Não! Irei dizer que sou sua tia, e que você ficou órfã muito cedo. Ah, e pare de chamá-los de plebeus. Você está na mesma condição que eles, agora.

Acenei com a cabeça, e me lembrei de uma coisa importante.

- Onde estão minhas roupas, Francesca?
- Compraremos algumas normais com um dinheiro que sua mãe me deu.

Bufei. Agora, o único vestido que eu tinha era aquele verde sem graça.

- E como os plebeus vão reagir ao meu sumiço do castelo?

Ela parou e me puxou para um lado. Assim como tinha feito antes de eu saber da fuga.

- Fale baixo! Ninguém pode saber disso. E, quanto a sua pergunta, isso não é problema nosso. Só tenho que fazer com que você seja vista o mínimo possível.

Finalmente uma coisa que eu não teria que mudar: Meu estilo de vida. Continuaria presa em um edifício. Nesse caso, uma casa comum.

- Está bem.

Entramos na casa, aonde havia uma moça num balcão e um rapaz sentado em um sofá.

- Boa tarde. Somos Francesca e Catharina - sussurrou minha "tia" para a mulher.
- FRANCESCA! - berrei, sem querer. - Isso é confidencial!

- Menos para as pessoas que morarão conosco. - ela sorriu para a recepcionista.

Revirei os olhos e me sentei ao lado do jovem no sofá.

Olhei para ele. Estava lendo um livro, coisa que nunca gostei de fazer, mas sempre fui obrigada.

Como alguém fazia aquilo por diversão?

Tive que perguntá-lo.

- Olá, com licença. - Apontei para o livro. - Você está lendo isso por conta própria?

Acho que ele me achou idiota, pois fez uma expressão estranha e respondeu:

- Ora, realmente não há nenhuma alfabetizadora lendo para mim.

Grosso.

- Eu quis dizer se você lê por diversão, Senhor...

Só depois de alguns segundos ele percebeu que eu queria saber o nome dele.

Além de tudo, era lerdo.

- Ah, sou o Andrew. E, sim, leio por diversão.
- Sou a Catharina.
- Você também lê por diversão, Catherine?

Agora eu simplesmente odiava ele.

- CathArina! - bufei, me levantando e indo em direção a Francesca.
Antes de chegar até ela, virei-me e berrei a Andrew:

- E não, não leio por diversão!

Depois de alguns passos, cheguei ao lado de minha suposta tia.

- Vamos para o quarto, Francesca. Preciso descansar.

Ela me olhou com um ar vingativo, não sei por quê.

- Não pode mais mandar em mim, Srta. Catharina. - sussurrou ela, sorrindo.

Apenas revirei os olhos (de novo) e perguntei à recepcionista qual era o meu quarto.

Ao chegar nele, me deparei com uma cama de casal e uma TV, ambas bem pequenas em comparação às minhas antigas.

Bufei (Sim, de novo. Sou previsível). Teria que dormir com Francesca.

- Ninguém merece - resmunguei para mim mesma, segundos antes dela chegar no quarto.

- Ninguém o quê, Catharina?
- Nada, Frances... tia. Nada.

Ela riu.

- Do que está rindo?

Deu de ombros.

- Nunca imaginei que você me chamaria de tia algum dia.

Ah, como se eu imaginasse.

- Entendi.

Naquele mesmo instante, Andrew abriu nossa porta.

- Que é isso! Nem privacidade podemos ter aqui, Francesca?

Ela me ignorou.

- Desculpe, eu me perdi. Não sei aonde fica o meu quarto. É o 501, mas pensei que fosse aqui. Afinal, aqui é o 401 e...

- ESTÁ BEM, GAROTO, ESTÁ BEM. Pelo amor de Deus, pare de falar. - irritei-me.

Francesca esbugalhou seus olhos para mim, e disse:

- Por que em vez de reclamar você não o ajuda a achar o quarto, Catharina?

Como eu não tinha nada para fazer, não recusei.

- Você não consegue nem achar o seu quarto, garoto?

Ele não respondeu.

- Ah, está bem. Vou me redimir. Desculpe, OK? Sou grossa em excesso às vezes. - puxei-o para fora do quarto, e entramos no elevador.
- Andrew. - chamei, tentando ser paciente. - Você não supôs que, se aqui é o 401, era só subir um andar?
Ele pigarreou.
Ninguém merece.
Chegamos ao 5° andar, e deixei-o na porta do quarto.
- Por favor, por favor, por favor, que ele não esqueça esse caminho - pensei.

- Acho que em algumas semanas eu aprendo - ironizou, rindo.
Eu sabia que era sarcasmo, mas mesmo assim quase chorei.




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