Rafael

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Estava sentado na varanda da casa do meu melhor amigo Diego - que adorava dar festas e me obrigava a ir em todas mesmo sabendo que não era a minha vibe.

Um garoto surgiu pela porta, era um total estranho, mas me senti completamente conectado. Acho que tinha a ver com minha alma de artista. Acho que me apaixonei à primeira vista.

-Oi – eu disse

-Oi – respondeu com um sorriso de canto de boca.

- Também fugindo da festa?

Ele apenas sorriu demonstrando descaso pela conversa o que me deixou ainda mais interessado.

- É mudo? – Perguntei sarcástico.

- Sim –respondeu com ironia.

Levantei e fiquei em sua frente, precisava chegar mais perto.

- Meu nome é Rafael, mas pode me chamar de Rafa – estendi minha mão.

- Gabriel – disse depois de hesitar um pouco.

Depois de alguns minutos de conversa consegui levá-lo para uma lanchonete ali perto que eu havia visto na vinda para a festa, mas disse a ele que conhecia. Conversamos e pude perceber o quão inseguro ele era, mas também percebi que ele era bastante especial. Precisava chegar ainda mais perto.

- Vamos, tenho que lhe mostrar meu lugar favorito, onde eu vou pra ganhar inspiração.

O levei para um banco que ficava em uma praça no centro da cidade.

- Aqui é o seu lugar favorito? – perguntou, e eu concordei com a cabeça – Por quê?

- Gosto de sentar aqui, ver as pessoas passando, as crianças correndo e brincando, e imaginar quem são aquelas pessoas de verdade, o que fazem quando estão sozinhas, quem são quando não tem ninguém olhando.

Olhei para Gabriel e ele me fitava com um sorriso de orelha a orelha.

- O que foi? – perguntei assustado.

- Você fica muito fofo quando fala essas coisas – eu ri – mas então, qual sua verdadeira história?

- Bom, tive depressão aos 13 por não entender por que era diferente dos outros meninos. Meus pais me encontraram no quarto depois de beber todos os calmantes da minha mãe, e me levaram a uma psicóloga que me fez entender minha sexualidade. Quando eles descobriram, ficaram putos da vida e me mandaram pra um colégio militar durante dois anos, o que só fez minha depressão piorar. Assim que eu completei 16 anos fugi de casa, mas me encontraram, e para os meus pais "eu não tinha mais jeito", então decidiram me emancipar e me colocaram pra fora de casa. Sorte que uma tia me acolheu e morei com ela até entrar na faculdade. Meu pai me manda uma mesada todo mês, mas não vejo ele nem a minha mãe há mais de um ano.

Olhei para o Gabriel e percebi que ele estava em prantos, chocado com tudo que eu falei. Ele me abraçou assim que eu terminei de falar. Foi o melhor abraço que já recebi na vida.

- Ei, calma. – disse a ele – Eu superei tudo isso já faz mais de dois anos. Hoje em dia eu sei quem eu sou de verdade e estou muito feliz com isso, nem meus pais podem me deixar mal.

- Conheci você hoje e já sei o quão especial você é – sorriu.

- 9 – eu disse abrindo minha mochila e pegando meu caderno – eu agora vou desenhar você.

Gabriel era negro, tinha lábios grossos e carnudos que me enchiam de desejo toda vez que ele os mordia, tinha um cabelo crespo e uma barba muito bem feita que dava forma ao seu rosto quadrado. Seu sorriso era extremamente cativante e único, o que me fazia querer beijá-lo cada vez mais.

- É o desenho mais lindo que já fiz em toda minha vida – disse virando o caderno para ele.

- Nossa, você desenha muito bem – disse chegando mais perto de mim.

- O modelo ajudou bastante – levantei minha cabeça ao mesmo tempo que ele e me deparei com seus olhos pretos centímetros dos meus.

- É errado querer beijar alguém que você acabou de conhecer? – ele olhava os meus lábios e eu inevitavelmente olhava os dele.

- Espero que não.

Coloquei minhas mãos em seu rosto e o trouxe pra perto, nossos lábios se tocaram em um encaixe perfeito. Sentia seu coração batendo na mesma frequência que o meu. Senti as famosas borboletas na barriga e tenho certeza que elas voavam em harmonia.

Era certeza, por mais doido que fosse, eu estava apaixonado.

1 semana depois...

Estava decidido, eu ia pedir o Gabriel em namoro hoje, nos vimos a semana toda e estávamos bastante conectados.

Acabara de comprar um buquê de flores para fazer o pedido em grande estilo, já que ele assim como eu era um romântico "à moda antiga". Era sete da noite e eu estava indo por um atalho que o Gabriel dizia ser mais rápido pra casa dele. Estava um pouco deserta, mas já era de costume não ter ninguém por ali aquele horário.

- Ei, viadinho – gritou um estranho atrás de mim.

Senti uma pancada em minha cabeça que me fez cair no chão, seguida de várias outras por todo o meu corpo. Meus olhos embaçaram e eu não via nada além da escuridão.

ÂmagoWhere stories live. Discover now