Lembranças

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Eu caminhava ao longo de um campo florido. As borboletas dançavam ao meu redor. Até conseguia sentir o cheiro da grama fresca que cercava a minha visão.

A luz aquecia minha pele pálida como a amiga querida e protetora. Foi quando olhei para o chão e vi algo que não vira há muito tempo: uma cobra gigantesca que se arrastava até onde eu estava.

Seus olhos reptilianos se fixavam nos meus, como se tentasse engolir-los. Dei três passos para trás.

A cobra não parou, estava muito próxima agora. Fechei meus olhos e tornei a abrir-los.

Voltei a olhar para o chão: onde estava a cobra? Ela simplesmente sumira por uma fração de segundos.

Automaticamente, como se meu próprio corpo tentasse falar comigo, olhei minhas mãos: elas estavam cobertas com um vermelho rubro. O cheiro do sangue fresco invadiu minhas narinas. Comecei a tremer.

Foi quando ouvi um sussurro, como se alguém estivesse encostado em meu ouvido, pronunciar meu nome:

- Aura... Aura... - sua voz arrastada fez com que meu corpo inteiro tremesse. Eu conhecia aquela voz fria que parecia me chamar, ao mesmo tempo, tão perto e tão distante.

- Não! - exclamo com todas as forças. - Não! Sai daqui! - Volto a gritar e fecho os olhos. Sinto que lentamente uma lágrima escorre por minha face.

Eu queria me livrar daquele sentimento. Uma mistura de medo e raiva que tomou conta do meu corpo.

Não queria mais ver cobras nem escuridão, desejava ardentemente que meus olhos encontrassem a luz.

Foi o que aconteceu quando abri novamente meus olhos. Estava na cama, minha face mais molhada de lágrimas do que nunca.

Porém, ainda não tinha me livrado por completo daquela sensação horrível. Eu sentia, eu podia sentir.

Ele estava vivo. Fora ele quem me chamara no sonho. Você-sabe-quem, Voldemort, ou simplesmente como o conheci há anos atrás: Tom Marvolo Riddle.

***

20 anos atrás...

***

- Tem certeza disso, pai? - perguntei fitando o homem por detrás daqueles oclinhos de meia lua. - Eu posso ir para a escola?

- O prof. Dippet não viu maiores problemas em não permitir que começasse a estudar aqui em Hogwarts. - me responde com seu sorriso bondoso de sempre.

Alvo Dumbledore me salvou da morte, quando eu estava prestes a desistir de mim mesma. Ele acreditou em uma garotinha estranha de 11 anos; cabelos longos e brancos, rosto choroso e olhar vazio. Eu era assim quando ele me encontrou em uma de suas inúmeras viagens.

Fora a primeira pessoa que não me achou um monstro, mesmo estando coberta de sangue pelo corpo todo.

Eu era apenas uma criança que nem sabia o que ser uma fada significava em um mundo repleto de bruxos. Não apenas uma fada, a última fada.

Dumbledore sorriu para mim e me estendeu a mão. Ele nunca mais soltou e, ao ser abraçada disse aquela palavra pelo primeira vez:

-Pai... - Ele volta a me fitar, enquanto andamos pelo corredor do castelo. - Eu estive treinando o que o senhor me ensinou... - decidi mostrar a ele todo o meu esforço de 2 meses de treinamento árduo.

Fechei meus olhos, concentrando-me. Quando tornei a abrí-los, puxei uma mecha de meu longo cabelo para conferir o resultado: consegui mudar sua cor, um loiro trocou de lugar com o branco original.

Meu pai dizera para esconder minha identidade, mesmo estando aqui em Hogwarts. Apenas ele e o professor Dippet sabiam que eu era uma fada.

Com a magia fluindo em mim, conseguia executar com perfeição praticamente todos os feitiços básicos do primeiro ano que Dumbledore havia me passado. Mesmo assim, fui presenteada com uma varinha e devia praticar os feitiços utilizando-a, ao invés apenas da pronúncia como estava fazendo.

Meu pai deixou que eu ficasse em seu escritório até o dia seguinte, o dia em que os novos alunos seriam selecionados para suas casas.

Com o amanhecer, Hogwarts começou a ficar cheia. Conseguia ouvir vozes de todos os tipos pelos corredores: entusiasmadas, saudosas, cansadas...

Alvo Dumbledore naquela época ainda era apenas um professor. Ele lecionava Transfiguração e era reconhecido por todos como um dos bruxos mais inteligentes que já passaram pela escola.

O dia estava nublado, mas isso não tirou o brilho do início de mais um ano. No meu caso, aos 11 anos, meu primeiro ano em Hogwarts.

A seleção pelo Chapéu Seletor seria tradicionalmente realizada durante o banquete daquela noite.

Meu pai me deu instruções para que eu descesse e permanecesse junto aos outros alunos novatos, foi o que fiz.

Chegando lá, a maioria já estava organizada em grupos e conversavam animadamente, comentando entre si seus anseios e temores. Decidi permanecer um tanto quanto afastada até que a hora de entrar no Salão Principal. Foi então que percebi que havia outro aluno isolado como eu. Ao invés de parecer ansioso como todos, seu semblante era de uma calma tremenda.

Em determinado momento, seus olhos verdes, muitos escuros, acharam os meus. Um sensação estranha percorreu meu corpo. Eu jamais esqueceria aquele momento e ele me atormentaria por muitos anos ainda em minha mente.

Com 11 anos, eu não imaginava que aquela simples e aparentemente inocente, troca de olhares seria marcada com amor, raiva, decepção e sangue. Se eu conseguisse prever o futuro, jamais teria trocado olhares com Tom Riddle.

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Olá, leitores!

Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Tentarei postar,no mínimo, dois capítulos por semana.
Até mais ❤


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