Os latidos começaram, seguido do choro de uma criança. Acontecia todas as noites. Era sempre nessa sequência.
Ela começou a sentir sua pulsação acelerar. Sabia bem o que viria a partir daquele momento. Sua respiração sempre ficava irregular quando ele estava chegando. Não era aquela alegria que ela deveria sentir. Ela sentia tudo, menos entusiasmo ao vê-lo se aproximar do seu quarto. O rosto deformado e a mão com garras enormes foram as únicas coisas que ela conseguiu ver. E só aquilo já bastava. Aquilo era o necessário para deixá-la sem ar. Podia sentir o cheiro, podia ouvir seus passos rangendo no chão de madeira. Ela se encolheu na cama, puxou o cobertor até o topo da cabeça, mas ficou observando a sombra dele no quarto quase escuro, a única claridade era a luz do corredor, sua única salvação era aquela luz, mas também era assim que ele conseguia enxergá-la, da última vez ela se escondeu e ele não gostou daquilo. Ele estava cada vez mais perto e ela já não sentia o cobertor a protegendo. Ela estava sem proteção, sem seu escudo contra ele. Ele sorriu. Suas presas e dentes podres a deixavam repugnada. Sentiu vontade de vomitar e chutá-lo. Queria desesperadamente fugir. Mas era tarde demais, ele a pegou e a carregou até o porão enquanto ela tentava gritar, ele apertava seu ombro e ela sentia as unhas lhe atravessando até o osso. Ela não conseguia pedir socorro, não tinha para quem ela gritar.
O porão era muito escuro e dessa vez não haveria jeito de ela escapar, suas garras a seguravam pelos pulsos em suas costas, a apertando, seus olhos se encheram de lágrimas, embaçando-os e a tornando incapaz de se acostumar com a escuridão. Sentiu seu cabelo sendo puxado e sabia qual seria o próximo ato dele, mas ela não tinha força para se soltar ou para revidar. Não conseguia lutar contra ele nem quando sabia seu próximo movimento. Ele ficou de frente para ela e a estrangulou. Seu rosto deformado foi a última coisa que ela viu antes de fechar os olhos.
Quando ela abriu os olhos novamente voltou a encarar seu reflexo no espelho.