Lila não é o tipo de garota que tem medo do escuro. Na verdade, ela até gosta de coisas sombrias e histórias de terror. Por isso mesmo, aceitou o desafio para uma aventura assustadora no casarão abandonado. Era uma espécie de rito de passagem para os novos colegas que entravam na escola no começo do ano.
Após a separação dos pais, a jovem se mudou para Garopaba, uma pequena cidade no litoral sul de Santa Catarina. Famosa por suas praias paradisíacas, também é permeada de lendas e histórias fantásticas, o que aguçou muito a sua curiosidade. Mas nenhuma das histórias chamou mais a sua atenção do que a do casarão mal assombrado no topo do morro da Vigia. Um casarão que já fora uma senzala de escravos e que há muitos anos estava em ruínas.
No começo, Lila achou graça da história quando os garotos lhe contaram coisas sombrias sobre o lugar:
- O velho pescador da praia sempre diz que ainda se pode ouvir as correntes arrastando e os gemidos dos escravos que morreram na senzala, no porão da velha casa.
- Como ele sabe disso? Já esteve lá pra ouvir?
- É sério! Duvido que você vá lá sozinha, à meia-noite.
- Por acaso, vai aparecer algum fantasma pra me devorar? - desdenhou, sorrindo.
- Sempre que alguém entra no velho casarão, depois da meia noite, nunca mais retorna!
- Até parece.
- É verdade! Um menino do nono ano fugiu de casa, no ano passado, e foi se esconder no casarão. O vigário viu ele correr pra lá depois da missa e o menino nunca mais foi visto!
Todos que estavam na roda concordaram com a cabeça, com olhares crédulos, e a garota não soube identificar se aquilo era mesmo verdade ou pura dissimulação. O fato é que ficou curiosa em conhecer o tal casarão, nem que para isso tivesse que se aventurar num desafio louco e perigoso.
- Se tu é mesmo tão corajosa - disse o garoto de cabelos ruivos - quero ver tu passar uma noite inteira sozinha dentro do casarão.
- Isso é moleza!
- Tem que gravar tudo no celular! - completou. - Se sobreviver, vai virar mito!
Estava tudo calculado. Lila juntou suas coisas na mochila, sem esquecer a lanterna, um casaco e o celular. Ela queria provar aos novos colegas que era uma garota corajosa, que não acreditava naquelas histórias de fantasma. Queria mostrar que não tinha medo de lendas e histórias de pescador.
Quando chegou perto da praça do Centro Histórico, os garotos já estavam esperando:
- Pensei que você não vinha mais!
- Pensou errado. - respondeu secamente, tentando transparecer confiança e orgulho.
O pequeno grupo atravessou a praça de ladrilhos portugueses até o outro lado, parando em frente à grande escadaria da Igreja. Era uma antiga Igreja Matriz em cima de uma colina, voltada para o norte, de frente ao mar. O velho casarão assombrado ficava na rua ao lado, subindo o morro até o topo da colina.
Um vento gelado soprou do litoral e a luz do poste da praça se apagou. Os garotos se assustaram e um deles se apavorou de medo, agarrando-se ao braço de Lila:
- Não vai lá, isso é mau presságio!
- Não dê ouvidos a esse maricas! - atravessou o garoto ruivo. - Vai lá e mostra a esses fantasmas quem é a durona!
Lila, naquele momento, não se sentia tão durona quanto no dia em que aceitou aquele desafio idiota. Mas agora não podia mais voltar atrás. Na verdade, ela não queria. Tinha que provar aos outros que não era uma covarde.
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A CASA NA COLINA
HorrorVencedor do Melhor Susto no concurso Golden Pumpking! Um casarão no topo da colina. Uma garota disposta a aceitar o desafio de passar a noite em um lugar rodeado de lendas assustadoras e histórias macabras. A Casa na Colina é um conto de terror e su...