Tudo começou no verão.
O sol queimava Los Angeles de maneira impiedosa, sufocando a população até o momento quando se punha definitivamente por volta das oito da noite. E a autoestrada para Santa Monica ficava entupida por carros e mais carros, enfileirados em antecipação para chegarem até o mar. Rodeo Drive se enchia de turistas com câmeras penduradas no pescoço, posando junto a fonte e as lojas de grife, e comer no In'n'Out se tornava mais um jogo de conseguir uma mesa do que uma simples refeição.
Tudo começou no verão porque era assim que as coisas começavam naquela parte da Califórnia. A estação do nascimento não era a primavera, mas sim a que carregava o quatro de julho dentro de sua duração. Essa era a verdade. E por isso fazia perfeito sentido que essa tivesse sido a época em que eu conhecera Brianna Whitman.
Havia sido numa festa ─ era algo relacionado a uma revista de moda então todos vestiam coisas excessivamente brilhantes e caras, bebiam champanhe de taças de cristal, sorriam para fotógrafos intrometidos e empurravam cocaína para dentro das narinas com notas de cem dólares. O epítome da vida inconsequente e luxuosa, a pintura do sonho americano. Eu era um simples produto dessa indústria: modelo italiana de alta costura com um vício por cigarros mentolados e com uma habilidade extraordinária na arte do fingimento, conhecida especialmente pelas minhas clavículas proeminentes e nariz perfeito. Por essa razão acabei me misturando facilmente entre as pessoas, encaixando-me no ambiente como um lustre acima da mesa de jantar de uma mansão.
Brianna Whitman, ao contrário de mim, se sobressaía. Casada com um estilista ascendente de personalidade detestável, era uma incógnita para todos os convidados.
Era uma das mulheres mais lindas que eu havia visto na vida e, considerando a minha área de trabalho, essa era uma afirmação surpreendente. Um vestido branco com um decote fundo acentuava seus seios fartos e as curvas de seu corpo magro, destacando também sua pele bronzeada, seus cabelos dourados pálidos e seus olhos azuis oceano. Observá-la bebericar champanhe com aqueles lábios cheios pintados de batom vermelho havia me transformado em uma bagunça de ondas de calor.
Quando me pegou encarando, abriu um sorriso cheio de dentes retos e brancos. Pediu licença para o grupo que a cercava como planetas na órbita do sol e caminhou até mim graciosamente.
— E quem é você? — Perguntou-me com a voz suave como cetim após me analisar dos pés à cabeça, interesse brilhando em tons mais escuros nos seus olhos.
— Carmel Ferrara. — Em meus saltos Louboutin, ficava bons centímetros mais alta do que ela, o que me possibilitava apreciar as formas sinuosas de seu corpo de um ângulo favorecido.
— Bem, Carmel, você é modelo?
— Sim, de alta costura. — Suguei meu drink pelo canudo alaranjado e não pude deixar de notar sua atenção focada em meus lábios por alguns segundos. — Desfilei para o seu marido na última coleção primavera-verão.
Frank Whitman me cumprimentara assim que colocara os pés no chão de mármore do salão, todo sorrisos e cheiro de colônia cara. Ele era extremamente asqueroso e possuía o dom de fazer os outros se sentirem desconfortáveis. Ainda me lembrava de seus olhos castanhos fitando o meu corpo de maneira invasiva, como o homem heterossexual privilegiado com complexo de superioridade que era, em uma das provas de suas peças.
Brianna torceu o nariz. Fora um ato rápido e discreto, mas consegui captá-lo devido à nossa proximidade.
— Aquela foi realmente uma bela coleção. — O tom que usou era raso, assim como o sorrisinho que decorava suas feições. — Acha que desfilará na próxima? — Ela mudou o peso de um pé para o outro. — Nós teremos o nosso primeiro desfile na Fashion Week de Paris, não é incrível?
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RomanceTudo começou no verão. Tudo começou no verão porque era assim que as coisas começavam naquela parte da Califórnia.