Capítulo Único

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Capítulo Único

No mundo existem incógnitas, umas maior que outras, existem fórmulas químicas que fazem os nossos neurónios faiscar e pedinchar por um momento de descanso. Existem mil e uma problemáticas que nos fazem questionar a nossa existência, uma e outra vez numa batalha sucessiva contra o relógio. Existem noticiários a passar a toda a hora, revelando notícias trágicas, noticias que nos fazem questionar se realmente estamos seguros neste planeta, o planeta que dizem ser o único com condições biológicas para adotar a humanidade. E no meio de toda esta algazarra está o amor, escondido no coração de quem ama e no de quem é amado.

Mas, por alguma razão desconhecida pelo pobre rapaz sentado no chão do seu quarto, ele sentia o amor de maneira angustiada. Era até complicado para ele definir o amor, para alguns é tão simples e para outros tão complexo. Talvez se houvesse uma fórmula matemática avançada o suficiente para definir o amor as coisas fossem mais simples, ou talvez tudo se tornasse mais complexo e o amor perdesse a sua verdadeira identidade.

Hoseok passava as mãos pelos cabelos finos e laranjas desbotados pelas muitas lavagens feitas. A sua cabeça estava uma confusão, pelas suas bochechas escorriam lágrimas carregadas de dor, ironicamente o seu peito doía mas no fundo da sua alma era como se não sentisse nada, era um vazio enorme sem uma cor exata, sem um nome. Ele tentava definir o amor lentamente enquanto brincava com os seus dedos suados e molhados pela quantidade de vezes que tentava limpar as lágrimas. O amor para ele não tinha uma definição concreta, mas sim um rosto, um cheiro, um toque. O amor tinha olhos puxados de um negro obscuro e misterioso, cabelos secos e escuros, lábios rosados e uma pele branca como neve. Tinha um sorriso gengival com pequenos dentes certinhos, tinha dedos delgados e uma gargalhada quase inaudível. O amor cheirava a uma colónia masculina extremamente suave que lhe causava borboletas na barriga e o fazia levitar. O amor tinha pele macia, lembrava-lhe cetim, um cetim requintado tão macio como a pétala de uma rosa que acabara de florescer. Amor para ele era o sexo masculino, o abraço confortante e as pernas finas entrelaçadas com as dele numa manhã de inverno. O amor para ele era Min Yoongi.

Pensar no rapaz por quem era tolamente apaixonado fazia as lágrimas aumentarem, estas caíam quase tão velozmente quanto a chuva lá fora que batia contra a janela do seu quarto causando uma melodia relaxante, mas ou mesmo tempo, bastante aterradora. Hoseok estava quebrado, as memórias do seu amado eram uma tortura, tudo o que ele queria era ter amnesia, queria tomar uma poção mágica que o fizesse esquecer de Yoongi. O jovem chegava a pensar em acabar com a própria vida para que assim pudesse tirar o rapaz de cabelos negros da sua cabeça, para não sentir nada. Era tudo o que mais desejava.
Hoseok gritava, esperneava, contorcia-se no chão frio do quarto e tudo continuava na mesma. Puxava os seus próprios cabelos num ato desesperado, arranhava o seu coro cabeludo. O relógio branco pendurado na parede do seu quarto fazia um tic tac irritante que fazia a sua cabeça latejar, e num ato imprudente e rebelde Hoseok levantou-se do chão para alcançar o relógio e o arremessar contra o chão vendo o vidro protetor a partir e os ponteiros a saltar para fora do círculo ficando algures perdidos no seu quarto.

- Maldito. – Resmungou entre dentes ao observar o relógio parado no chão do quarto, partido e sem ponteiros.

Hoseok achou aquele ato libertador, partir um relógio era ver o tempo parar, era perder toda a noção da realidade. O simples ato de partir algo fazia a sua raiva interior acalmar e o seu coração bombear sangue repleto de adrenalina. Hoseok necessitava daquilo, necessitava de despejar a dor absurda que lhe preenchia o peito e ao mesmo tempo, necessitava de sentir alguma coisa que lhe pudesse preencher o vazio que Yoongi lhe havia deixado após o ter abandonado. Num ato rápido e certamente pouco pensado, Hoseok agarrou o perfume que Yoongi lhe oferecera no aniversário e atirou-o para o chão saltando ligeiramente ou ver os cacos a espalharem-se por todos os lados, rapidamente o cheiro intenso da fragância dispersou-se pelo quarto e Hoseok arrependeu-se do seu ato ou perceber o quão semelhante aquele perfume era ao de Yoongi.

O moreno praguejou entre dentes enquanto atirava todas as molduras na sua comoda para o chão. Com elas caíam memórias de vários momentos felizes que agora eram encarados como recordações melancólicas e angustiantes. A seguir, foram os lençóis da sua cama arrancados com tremenda força, Hoseok tentava rasgá-los, queria esquecer que fora naquela cama, com Yoongi, que tivera a sua primeira vez há um ano. Era como se ainda sentisse o toque delicado do coreano na sua pele, era como se ainda ouvisse os sussurros carinhosos no seu ouvido, era perturbador. Ele caiu de joelhos no chão sobre os lençóis brancos, o seu peito subia e descia a uma velocidade impressionante, Hoseok deitou o seu corpo no chão enrolando-se em forma de concha. Ficou ali, naquela posição por segundos, minutos, talvez até horas até as suas lágrimas secarem completamente e deixarem apenas uma cara inchada e uns olhos avolumados e encarnados.

E então ele percebeu que o seu fraco amor havia quebrado, e não existia nada que ele pudesse fazer. Não existiam lágrimas suficientes, ou mobília para quebrar, nada faria aquele comboio regressar e trazer consigo o amor que ele pensara um dia que pudesse durar para o resto da sua vida. Yoongi já se encontrava na sua cidade natal, a quilómetros de si, e tudo o que Hoseok podia fazer era respirar ar puro e aceitar a sua nova vida. Uma vida sem amor, uma vida sem Yoongi.

***

Mais um one shot tristinho, só sei escrever tristezas.

processem-me

beijo,

lena

Skinny Love | jhs + mygOnde histórias criam vida. Descubra agora