Breno acordou com uma mensagem no celular. Deixou escapar um suspiro cansado e ao mesmo tempo um pequeno sorriso torto. Ele sabia quem era. Óbvio. Ela era a única pessoa que ligava ou mandava mensagem pra ele. Não, não exatamente, ele não era tão zero à esquerda assim. Tinha o Fipo e o Leco. E o Pelé. Ah... e sua mãe, não podia esquecer da sua mãe. Afinal, ela ligava assim que ele botava os pés fora de casa e seguia ligando até ele estar seguro no seu quarto com ela bem próxima no quarto ao lado. Mas ela era a única que ligava no meio da madrugada. Que o chamava pra ficar na varanda às duas da manhã. Que o tirava de casa nos dias que ele não estava afim de sair. Ela também era a única pessoa que entrava pela sua varanda sem ser convidada. Inclusive quando ainda nem se conheciam. Aquele primeiro encontro tinha sido, hum.. inusitado. Pra não dizer insano, inesperado e bastante assustador. Não, depois de ele ter se acalmado, não, não havia nada de assustador em uma menina falante e bonita entrando pela sua janela. Mas quando você acabou de se mudar de uma cidade pequena para o Rio de Janeiro, ainda não conhece a cidade, o bairro e nem a sua nova casa direito e no meio da primeira noite você escuta um barulho e alguém desconhecido entrando pela porta da varanda, isso é assustador sim. E não adiantava tentarem convencê-lo do contrário. Mesmo esse alguém sendo ela, ainda havia uma pequena palpitação sempre que ela entrava pela porta. Nunca se sabe. Mas talvez Breno já estivesse muito confuso àquela altura, cinco anos depois do fatídico primeiro encontro, sobre suas palpitações. Já era meio incerto se era receio de ser alguém perigoso ou se o coração acelerava justamente por saber que era ela.
- Quanto tempo você pretende demorar pra me responder? - Ele ouviu a voz dela de um canto do seu quarto escuro, seguido de um pequeno palavrão quando ela pisou em alguma coisa que não esperava encontrar no seu caminho já memorizado e aperfeiçoado em tantas visitas noturnas. A palpitação foi um pouco mais aguçada desta vez, visto que, por estar perdido em pensamentos, não havia escutado ela entrando. Sentiu o lado direito da cama afundando levemente quando ela se deitou.
- E adiantava responder? Você viria de qualquer jeito. - Breno respondeu docemente enquanto ambos observavam as luzes da rua refletindo no teto. Ele sabia que não adiantava dizer que estava dormindo. Ou que ela sequer havia dado tempo de ele responder. Ela viria de qualquer jeito. Porque ela sempre fazia a mesma coisa. Não todo dia. Todo dia não, mas com frequência. E muitas dessas vezes ele preferia que ela não o fizesse. Alguma coisa o dizia que hoje era um desses dias.
- Acabei de chegar, estava com o Pedro. - Diana falou, quase sussurrando. Breno fechou os olhos e evitou bufar ou demonstrar insatisfação ao ouvir àquelas palavras. Ele não entendia porque ela sussurrava sempre que chegava com esse tipo de notícia. Claro, era madrugada, mas ele já a conhecia... ela não se importava muito com a hora, logo após a confissão, continuaria falando em tom normal. Mas a cada visita após encontros, era um padrão repetido, ela confidenciava em sussurros como se estivesse com vergonha, ou se não quisesse que mais ninguém ouvisse. Mas todo mundo sabia que ela saía com vários caras diferentes. E ela nunca, nunca escondeu ou sentiu vergonha disso. Mas Breno era sempre o primeiro a saber e ela sempre contava da mesma maneira e esperava a reação dele. E ele nunca reagia. Ele sempre perguntava educadamente como havia sido e ouvia com o coração dando nós, os detalhes que ela tinha pra contar. Ele classificava como verdadeira tortura. Ela também. Quanto menos reação recebia da parte de Breno, mais frustrada ela ficava e mais detalhes ela acrescentava. Mas com o objetivo de despertar qualquer coisa nele, nem que fosse raiva dela, era ela mesma quem ficava mais machucada. As visitas à Breno que sucediam seus encontros com garotos eram sempre desgastantes para ambos. Como se tivessem disputado uma maratona de 25km para a qual haviam treinado por meses à fio, mas sempre chegando em último lugar.
***
- Você anotou a placa do caminhão que te atropelou? - Leco perguntou assim que Breno jogou a mochila no banco ao seu lado e sentou apoiando a cabeça nos braços, cansado.
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Cala a Boca & Me Beija [CONTO COMPLETO]
Teen Fiction''Breno e Diana eram tudo um para o outro. E a localização de suas varandas, frente a frente, tornavam a dependência mútua quase inevitável. Breno ficava satisfeito com a dose diária da amiga que insistia em fazer visitas noturnas várias vezes por...