Diferenças

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Num tempo muito remoto, na cidade de Torres Novas, em Portugal, viviam Raquel e Tomás Cordeiro, dois empresários muito bem sucedidos e, por isso, muito ricos e poderosos. Habitavam numa mansão com quatro suites, três quartos, uma sala de estar enorme e uma cozinha, onde trabalhava habitualmente Mariana Borges, a empregada.

Na mansão Cordeiro, viviam ainda os dois filhos do casal: Raquel e Ricardo. A primeira citada era a filha perfeita, muito inteligente e bem sucedida, trabalhando como directora chefe num laboratório muito prestigiado e conhecido mundialmente, o Laboratório Citocinese. Já Ricardo, tornou-se mecânico na sua própria oficina, de nome "Estrôncio". Os pais tinham uma certa preferência pela Raquel, excluindo sempre o seu irmão. Isto criava uma grande revolta por parte do filho do casal, que a tentava controlar o melhor que podia.

No outro lado da cidade, existia um mercado, onde Mariana costumava abastecer a despensa da mansão. Neste local, as bancas mais requisitadas eram a da carne, que pertencia à irmã da empregada, Carolina Borges e as bancas do pão e do peixe, pertencentes aos irmãos Francisco e Henrique Alves, respetivamente.

Os irmãos criticavam constantemente Carolina e vice-versa, insultando-a e insinuando que os seus produtos não eram de qualidade.

Tal como Mariana, existiam outras frequentadoras habituais do mercado. Uma delas era Catarina Alves, uma mulher de Deus, vizinha de Joana Carola. Esta última pertencia a uma família pobre e era mãe de um rapaz com um excelente coração, Bernardo Lopes. Desde a morte do seu pai, o frágil adolescente vivia para a sua livraria, que se situava no centro da cidade. Trabalhava arduamente para sustentar a sua família e, nomeadamente, as suas duas irmãs: Madalena e Inês Lopes.

Com o passar do tempo, Raquel ganhava cada vez mais prémios de mérito a nível mundial, sendo bastante elogiada por esses feitos em casa. Ricardo, por outro lado, era tratado como uma espécie de segunda opção.

Numa noite de lua cheia, dia 4 de fevereiro de 2017, começou a pensar em como iria executar o seu plano para tirar a vida a seus pais, pois não aguentava mais que pensassem que ele não tinha qualquer valor. Provavelmente, não era bem essa a ideia que os pais tinham de um filho seu, mas, como Ricardo não conseguia manter durante mais tempo a sua raiva acumulada, que "gritava" dentro de si, decidiu colocar em prática o plano que engendrou. Na sua ótica, só se eles desaparecessem é que ele conseguiria viver em paz.

Acordou às 04:44h da manhã, certificou-se de que a irmã estava a dormir e foi até ao quarto dos pais. Pegou numa almofada e bloqueou-lhes momentaneamente as entradas de oxigénio para o corpo, provocando-lhes um desmaio. Lançou-os, posteriormente, pela janela para dentro de uma carrinha que um contacto seu tinha trazido. Pagou ao seu amigo e o mesmo levou os seus progenitores para uma cave na sua oficina. Era uma divisão secreta que serviria de cativeiro dos pais até Ricardo querer. De seguida, foi rapidamente à cozinha fazer um pequeno corte na mão para fingir que tinham sido alguns ladrões quaisquer e não ele que tinha feito aquilo. Dirigiu-se, seguidamente, ao quarto da Raquel. Acordou-a louca e repentinamente, fingindo estar assustado.

- Raquel!!! Não... Não pode ser... Nem sabes o que aconteceu! Meu Deus. Não sei o que dizer. Porque é que não fui capaz de fazer nada? Sou mesmo um inútil...- exclamou Ricardo, fingindo estar perturbado e espalhando sangue pelo quarto.

- O que é que se passou de tão grave assim, Ricardo? Desembucha, vá! – retorquiu Raquel, começando a ficar preocupada.

-Os pais, os pais... Alguém entrou cá em casa e os levou! Eu tentei impedi-los, mas eu estava em minoria. Até me cortaram. Vês? – continuou o rapaz, mostrando o golpe falso – E também te chamei, mas parece que não ouviste nada. Estavas a dormir, como se costuma dizer, que nem uma pedra!

- O quê? Os pais? Mas porquê eles? – exaltou-se a filha de Tomás, já chorando.

- Devem querer pedir um resgate... Eu não sei, não me perguntes! Já estou alterado o suficiente.

Raquel virou-se para pegar no telemóvel e o seu irmão sorriu maliciosamente, sem ela dar conta. 

Os ciúmes que Ricardo sentia acabaram por o levar a fazer algo pelo qual ninguém esperava. Como é que alguém pode ter maldade suficiente para sequestrar os próprios pais? Agora, só nos resta torcer para que Raquel descubra que foi ele quem encenou todo aquele "espetáculo" e remedeie a situação. 

Som FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora