Desilusões

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Em vez de seguir o conselho do Mestre, Raquel manteve-se acordada durante toda a noite. Nunca iria conseguir "pregar olho" naquelas circunstâncias. Até ao aparecer do primeiro raio de sol, as memórias com Bernardo iam passando-lhe pela cabeça, quase como se tivesse a ver um filme. Isso fazia com que se sentisse um pouco melhor, pois sabia que, em princípio, o seu namorado iria compreender todos aqueles mal entendidos.

A rapariga estava muito cansada e precisava de um pouco de paz. Então, decidiu ir até ao ribeiro que passava junto ao templo, de uma água tão cristalina que até era possível observar o reflexo do nosso próprio rosto. Vestiu um dos uniformes de treino e seguiu até ao seu destino.

Já se observava a magnífica Sakura do templo, uma árvore centenária, que, supostamente, enchia de alegria a quem lhe tocasse ou apenas observasse as suas estonteantes folhas. Rezava a lenda que o Mestre Kotinuá, o inventor do Kotu, treinava ali a sua técnica sagrada, ajudado por aquela espécie vegetal, que o auxiliava a manter a concentração.

Um pequeno sorriso, mas significativo, naquela altura, já se encontrava na cara de Raquel. Era incrível o facto de como tudo aquilo era capaz de transmitir toda aquela energia positiva.

No entanto, a felicidade não iria durar muito mais tempo. À medida que se ia aproximando das águas, que corriam com alguma intensidade por ter chovido nas últimas quatro noites, era cada vez mais fácil, para quem ali caminhava, observar uns pés no meio daqueles ramos. O pânico apoderou-se do corpo de Raquel. Teria alguém acabado com a sua vida ali mesmo?

Correu até à árvore e infiltrou-se na mesma para que conseguisse saber quem era a personagem que tinha armado aquele "espetáculo" horroroso.

Mal viu a cara, Raquel quase caía para trás. Afastava-se cada vez mais, estupefacta, até que tropeçou numa pedra, que provocou uma queda para dentro do ribeiro. Ficou sentada durante alguns segundos, até que decide ganhar coragem, levantar-se e procurar o Mestre Konitchiuá. Por sua sorte, o velho encontrava-se a meio da sua meditação diária, na varanda do edifício.

-Mestre, Mestre! – interviu Raquel, assustada. – O Gonçalo, o Gonçalo!... enforcou-se na Sakura Kotuana! – exclamou Raquel, aos soluços.

O Mestre apressou-se a sair da sua varanda e, depois de chamar os guardas, foram todos até ao local indicado por Raquel.

-Não acredito nisto. Um miúdo tão talentoso, que, por causa de um erro, arruinou a sua vida... Talvez eu tenha sido demasiado rude com ele. Talvez ele não tenha feito com intenção. No entanto, as regras têm de ser cumpridas à risca. Que a sua alma descanse em paz. – proferiu.

Raquel não os tinha acompanhado, mas, no dia seguinte, compareceu no funeral, onde as cinzas de Gonçalo foram lançadas ao vento, num penhasco ali perto, tal como todos os outros que outrora se sacrificaram pelo Kotu ou tiveram alguma relação com ele.

Muitos choravam descontroladamente. Era uma situação, de facto, triste para muitos alunos, uma vez que quem tinha partido era conhecido e apreciado por uma grande quantidade de pessoas.

Raquel já quase que nem tinha lágrimas para deitar cá para fora... Tinham sido desilusões atrás de desilusões.

Estão todos a passar por um período bastante dramático, chocante e com um grande impacto. Só podemos acreditar que Raquel e a sua equipa consigam ultrapassar tudo isto o mais rápido possível, já que, como todos sabemos, ainda existe trabalho a fazer. 

Som FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora