1. Backstage

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O barulho de dois toques na porta de vidro foi o que fez Benjamin Elliot retirar os olhos da tela do computador a sua frente, vendo Theodore Carter entrar com uma pasta de papel embaixo do braço na única sala que ainda tinha as luzes acesas no edifício.

Os carros já não mais buzinavam do lado de fora e metade dos prédios estavam completamente apagados na quinta avenida, mostrando que a fama que Nova Iorque carregava de ser a cidade que nunca dormia era falha quando se passavam das três da manhã.

— Achei que você tivesse ido embora horas atrás — Ben comentou, relaxando os ombros e passando uma das mãos pelos próprios cabelos, bagunçando-os ainda mais. — Nunca vi você depois das duas aqui.

Confirmou que eram mais de três horas da manhã pelo relógio prateado que tinha no pulso, assistindo o sócio sentar relaxadamente na cadeira que havia do outro lado da mesa de madeira escura.

— Eu fui — Theo concordou, arqueando uma sobrancelha. — Fui para casa, saí para jantar e dormi por três horas. Acordei sem sono e percebi que tinha deixado a pasta das finanças aqui, voltei para pegar e te encontrei na exata mesma posição de oito horas atrás. Você vai acabar com um problema de coluna ou uma gastrite pesada, Ben.

Ou os dois — Ben falou enquanto sorria, verificando que sua caneca de café estava novamente vazia. — Vou para casa em um segundo, só preciso terminar mais algumas tabelas.

— Você disse isso doze horas atrás — o outro o cortou, arqueando as duas sobrancelhas. — Quando foi a última vez que você dormiu? Esqueça, vou te dar uma carona para casa.

Ben pensou em retrucar, mas já sentia dor nas suas mãos de tantas coisas que tinha digitado nos últimos dias e suas pálpebras já pesavam de uma forma que café não era mais suficiente para mantê-lo acordado. Queria um banho gelado, sua cama e uma comida decente que não fosse entregue de qualquer restaurante da quinta avenida.

— Você precisa relaxar — Theo o aconselhou, vendo-o desligar o monitor do computador. — A inauguração é em dois dias e tudo está se saindo melhor do que o esperado. Vai ser a nossa melhor festa nos últimos três anos e você precisa estar vivo para ver isso.

— Café não vai me matar.

Não de imediato — corrigiu, levantando-se da cadeira. — Só um pouco a cada dia.

Se fossem pensar quantas vezes tiveram aquela mesma discussão desde que se conheceram na faculdade, Ben e Theo passariam mais dez horas presos no escritório do décimo oitavo andar do luxuoso prédio espelhado da quinta avenida.

E aquela era só uma das inúmeras coisas do que os dois discordavam.

Theodore Carter era relaxado, priorizava suas oito horas de sono e sempre andava impecavelmente pelo escritório com ternos caríssimos e gravatas de marca. O cabelo loiro escuro sempre estava arrumado em um topete que não deixava um fio desalinhado, com um sorriso irresistível nos lábios e um brinco prateado na orelha esquerda que ele usava desde quando ainda era um universitário sem grandes planos para o futuro.

Benjamin era seu oposto, com uma paciência eterna, um vício por trabalho e uma adoração inexplicável por café. Não gastava mais de dois minutos para pentear seu cabelo molhado toda manhã, achava que gravatas o sufocavam apesar de ter que usá-las rotineiramente e era dono de feições duras que escondiam qualquer reação por trás dos seus olhos azuis, exatamente como os da sua mãe.

A única coisa que os dois tinham em comum era o diploma em International Event Management pela University of Surrey e a E!vents, conhecida como a melhor empresa de eventos de Nova Iorque, fundada cinco anos antes pelos dois recém-formados futuristas e empenhados em fazer seus nomes.

Theo achou que sua carreira seria exatamente como sua faculdade fora, resumida em fazer listas de convidados e de bebidas, sua especialidade. Descobriu, na marra, que ser um promoter ia muito além de postar fotos do banner das festas que promoveria e contratar bandas falidas de fundo de quintal.

Tornaram-se grandes quando foram convidados, graças a contatos externos, a promover um show de Taio Cruz na virada do ano na Times Square. Em três anos, E!vents era uma das empresas responsáveis pela organização do Coachella e metade dos shows que enchiam o Madison Square Garden, com a agenda mais lotada do que eles sequer sonharam um dia.

Em 2018, o pequeno escritório da empresa que começara em um canto esquecido da cidade já ocupava dois andares de um dos mais bonitos prédios comerciais da quinta avenida, prestes a seguir para o terceiro.

E eles haviam se tornado mais que dois universitários sem futuro que carregavam sobrenomes conhecidos que os definiam mais que qualquer outra coisa no mundo.

— Essa inauguração está me matando — Benjamin confessou assim que se levantou, colocando o notebook embaixo do braço e guardando o celular no bolso da calça que vestia. — Eu quero que todo pequeno detalhe esteja perfeito, Theo. Eu sei que nós já fizemos coisas maiores, mas isso é importante para mim.

— Eu sei que é — Theo respondeu andando ao lado do sócio, empurrando a porta de vidro para que os dois pudessem passar. — Mas acredite quando eu te digo que James Marlowe vai ficar de quatro assim que ver o que nós preparamos para amanhã, Ben. Ele não vai poder reclamar de nada.

Apenas a menção do nome de James fez com que um arrepio corresse pela espinha de Ben e seu maxilar travasse, tendo a visão daquele homem como seu pior pesadelo não só nos últimos anos da sua vida.

No fundo, sabia que tudo estava perfeito assim como Theo já o tinha dito outras milhares de vezes. Mas era a pressão de estar fazendo algo para o dono da maior rede de hotéis do mundo que o perseguia, acreditando que iria ver suas feições todas as vezes que fechasse os olhos para tentar dormir.

Queria provar a ele que era capaz, mais até do que a si mesmo.

— Você sabe que ele vai reclamar de algo — Ben murmurou assim que os dois entraram no elevador, encostando suas costas no fundo espelhado.

— Bom, você sempre pode mandá-lo para o inferno se isso acontecer — Theo respondeu, dando de ombros. — Não é como se você nunca tivesse feito isso antes.

Uma risada seca escapou dos lábios de Ben assim que ouviu o que o sócio tinha dito, no momento em que as portas de ferro se fecharam e o elevador começou a se movimentar para baixo.

Theo tinha razão.

Não era como se ele nunca tivesse feito isso antes.

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