Amnésia

PRÓLOGO

"Todo anseio humano é, na verdade um anseio por Deus."

Goethe.

Eu podia sentir cada pedacinho dos meus pulmões sendo invadidos pela água, o que tornava ainda mais angustiante a minha busca por ar. Meus braços e pernas se debatiam, lutando em vão, tentando de alguma forma me livrar daquela tortura enquanto eu tentava com todas minhas forças não ceder, não fechar os olhos e me entregar à escuridão que cercava minha mente.

Não. Eu não podia me render, eu precisava continuar lutando, eu precisava avisar ele do perigo que estava correndo. Que todos nós estávamos correndo.

"Ele precisa saber." gritou o pedaço de minha mente que ainda parecia estar consciente. "Ele..." A mínima lembrança de seus olhos castanhos escuros me fitando fizeram com que a falta de ar parecesse algo mínimo perto da falta que aquele olhar me fazia agora. Ou ao menos pareceu algo mínimo até eu sentir a pressão em meu peito novamente. Eram meus pulmões estavam cansando de lutar contra a falta de ar. Bem como minha mente estava cansada de lutar contra a escuridão que teimava em me sondar, tentando insistentemente me tomar para si com seus vários tentáculos. Era tarde demais.

Fechei meus olhos, orando uma última vez para que ele aparecesse, para que alguma coisa acontecesse e me salvasse, mas nada aconteceu. Nada.

"Onde você está?" pensei, clamando por aquele que eu amava segundos antes de finalmente deslizar até a escuridão. No final ela foi mais forte que eu. Quanto mais ela preenchia minha mente, menos eu sentia meu peito arder em chamas pela falta de ar, menos eu lutava contra o destino inevitável que se aproximava. Era realmente tarde demais. "Por que morrer precisava ser tão doloroso?"

Os olhos castanhos intensos me fitando foram as últimas coisas eu vi, ou pensei ver, antes de finalmente me perder na escuridão. "Onde você está, meu anjo?".

...