A chuva pesa sobre corações feridos, assim como o dela, com o pai que possuia.
---Você poderia fazer isso para mim, mãe? - a garota pediu para sua mãe preparar a janta para seu pai - Tenho que mandar o trabalho antes das onze horas.
---Faço - sua mãe como sempre compreensiva.
---NÃO. Quero que ela faça - seu pai interviu - Teve tempo de fazer esse trabalho antes - Na verdade não, o professor passara havia um dia e encurtou o prazo.
---É só uma janta, preciso entregar em menos de 30 minutos - disse implorando a seu pai.
---Não, ficou assim quando fugiu de casa. Você nem se importava com a faculdade, agora se importa com tempo - sorriu com ironia.
---Manoel! - sua mãe chamou atenção.
---Isso é entre mim e ela...
---Eu não fugi!
---Então onde estava!? Agora não tem direito de reclamar! - seu pai ergueu a vós severamente. Seu irmão saiu do quarto para espiar o que havia acontecido, mas voltou para dentro ao notar o clima pesado.
---OK! Você nunca acredita em mim mesmo! - ficou ansiosa, agora faltava dez minutos e estava com vontade de chorar - Daqui dez minutos faço a comida.
---NÃO! Quero agora, Elira! - ele bateu no sofá. Seu pai sempre teve o pavio curto, mas nunca confiou nela, nunca teve uma ligação com ela. Há uma semana atrás ela desaparecera por quatro dias, mas tirando flashes de pesadelos depois do ocorrido, não sabe onde esteve e como apareceu num beco com uma marca no braço. Foi o que bastou para seu pai ficar totalmente contra ela.
Olhou para o relógio na tela de seu computador, o prazo havia acabado. Todo seu esforço, todo o tempo perdido com seu sumiço tudo havia sido em vão... Teria de fazer Exame final. Não se engane, não fora por esse o motivo de suas mãos tremerem e lágrimas quentes se formarem atrás de seus olhos. Esquentou a comida, com raiva, jogando toda sua raiva em cima dela, quando deu a seu pai, ele nem notara suas mãos tremendo e as lágrimas prestes a cair. Só depois notara como a comida requentada estava ruim, com um gosto amargo, como se seguisse o sabor do humor dela, algo que nunca entenderam como conseguia.
Não aguentava ficar ali, não entendia porque não acreditavam nela, porque não a defendiam. Como poderia erguer a cabeça e enfrentar a todos se nem sequer ela sabia o que havia ocorrido! Tudo a sua volta não passava de uma mancha de sua memória, algo falso. Faltava-lhe algo. Saiu correndo, para fora. Sua mãe tentou impedi-la.
"Só vou dar uma volta"
Foi a única coisa que disse antes de pegar a bicicleta e sair em disparada. Antes da chuva cair. Antes da tempestade a perseguir. Antes de tudo começar... Naquele penhasco, com cheiro de mar e calcário.
****
A tempestade a jogava para o desfiladeiro, em meio a luta com sua bicicleta para se distanciar da beirada e a dor que escorria em seus olhos, uma teve que vencer. Caiu do penhasco nas águas inquietas, o repuxo das ondas fortes a arrastou para alto mar. Então, a tempestade cessou, deixando apenas uma garoa para dizer que ainda estava lá. Por sorte, "pensou" , nadava bem. Já que a chuva havia acabado, só precisaria de um baita fôlego para chegar na praia.
Quando pensa que conseguiria, a tempestade retorna. Nem mesmo o melhor nadador sobreviveria a uma tempestade destas. Seus músculos estavam exaustos, somente sua mente persistia. Precisava descansar, mas como? Um segundo sem esforço e morreria afogada. Uma onda a fez mergulhar, abriu o olho debaixo d'água, viu dois peixes ao longe brigando, deviam ser enormes para vê-los debaixo d'água. Subiu um frio na barriga, emergiu para a superfície desesperada, agora com a onda longe pode avistar a praia do cabo. Sem pensar duas vezes, nadou com todas suas forças em direção a ela.
Duas correntezas fortes a desequilibraram, afundando-a novamente. Ficou imóvel, o que antes pensara ser peixes grandes descobriu que eram criaturas próximas a ela. Tentou emergir novamente e viu uma pedra há alguns metros, foi atrás dela, não pareciam se importar com sua presença, mesmo que tão perto. No caminho, algo viscoso puxou-a para o fundo do mar, mal pode segurar a respiração, engoliu água. Abriu os olhos e desesperou-se mais, pois pode ver melhor uma criatura metade homem e metade peixe, com um corpo masculino.
Debateu-se, mas não conseguiu se soltar, as mãos deles que possuíam barbatanas entre os dedos eram fortes demais, mais fortes que o normal. Infelizmente esquecera do outro, não que fosse importar, pois lembraria dele logo. A criatura colocou-a em sua frente, como escudo, e quase sem ar foi ferida pelo outro, por uma espécie de lança que não pode ver direito. O pouco ar que lhe restara foi solto naquele instante e o sangue manchou o mar, fora em seu ombro. A criatura não a soltava de maneira alguma e permanecia em sua frente.
Como sua última tentativa, começou a chutá-lo, ela o estava atrabalhando e a outra criatura aproveitou a situação. Irritado a joga para frente e lhe dá uma rabada, seu abdome ficou muito machucado, a fez ter vontade de vomitar. Por um instante, fica desorientada. Seu corpo se debatia de dor, enquanto o que a feriu consegue ferir o outro. Volta o sentido ou o instinto de sobrevivência e nadou até a pedra quase afogando com a água. Conseguiu emergir e respirar desesperadamente, com dor, cuspindo sangue. Subiu mais na pedra, fixou seus olhos na praia a desejando mais do que tudo naquele momento.
Não podia chegar até ela, se entrasse em alto mar de novo morreria. Uma mancha de sangue surgiu na água, suas mãos seguraram mais forte a pedra. Sabia que um deles haviam vencido:
---Socorro... - disse sussurrando em apelo a Deus, sem esperança. Olhando a praia ao longe sem poder tocar na areia.
Uma onda forte bateu nela e foi jogada de volta para seu pior pesadelo. Procurou a seu redor com o coração a mil e respiração falha. Havia um rastro de sangue ainda. Podia atrair tubarões. Não importava para onde nadasse deixaria um rastro. Morreria de qualquer jeito. Mergulhou para ver, mas não havia mais nenhuma criatura. Subiu novamente para respirar e atrás de si, lá estava. Não virou, permaneceu imóvel, com dificuldades de permanecer na superfície, estava ficando zonza. Então ele foi para sua frente. O corpo dele não possuía feridas, então não era o que a puxara. Só pensou que ele a mataria, mas não conseguia fazer mais nada... Estava perto o bastante dela para ver detalhes. Olhos grandes, muitas características humanas, pena estar desnorteada para ver.
A criatura virou-se para o quadro do Alto-mar, atrás deles, agora mais quieto, pois a tempestade parou. Antes de entender ele a pegou pela cintura e deu um salto no ar, assim pode respirar antes do mergulho cortante. Nadou rapidamente, ela fechou os olhos e prendeu a respiração assustada. Nesse intervalo, abriu os olhos e pode ver uma mancha branca no azul escuro, vindo na direção deles: um grande tubarão branco. Ela apertou o braço dele, encravando a unha sem perceber. Sentia que ia morrer. Então foi arremessada para fora d'água!
Caiu na areia, ficou desnorteada e se arranhou. Poucos instantes depois, olhando para a beira viu pernas andando em sua direção. A sua volta havia uma poça de sangue, dela mesma, sendo absorvida pela areia. Enfim, desmaiou sem saber onde estava e o que eram aquelas coisas. Sem saber como pôde cair de um penhasco...
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Profundezas turvas
FantasyElira, uma garota costeira sofre um acidente caindo de um penhasco logo após sumir por dias de casa e não saber o que ocorrera ou onde esteve. Ninguém acreditou nela. Os acontecimentos estranhos se iniciaram muito antes do penhasco e não parou por...