Capítulo 1 - Fuga Pelas Sombras

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- "Ali está ele! Não o deixe escapar!"

Gritos nervosos e agitados em meio de uma tropa de homens armados, seguidos por tiros de revólveres, que abafavam quaisquer outros sons em sua volta. As balas que saíam pelo bosque tinham um brilho ofuscante, parecendo até fogos de artifício, voando e acertando árvores em seus caminhos.

Qualquer pessoa que visse uma cena daquelas de longe iria pensar que o grupo militar tinha perdido sua sanidade, correndo e atirando desesperadamente, sem nem mesmo um alvo à vista. Mas o que essa pessoa não saberia era que eles tinham, de fato, um alvo. Um alvo muito pequeno e ágil, que se misturava nas sombras de modo imperceptível. Uma criatura que, pelo bem da raça humana, não poderia ser deixada viva de jeito algum.

- "Huff, huff, huff..." Ofegou a criatura, que tinha conseguido se esconder dentro de uma árvore oca.

Pensaria-se ser mais fácil se esconder em um bosque tão grande, mas os soldados que a caçavam foram preparados especialmente para essa situação, e possuíam todo o equipamento necessário para identificá-la e exterminá-la. E mesmo tendo os despistando temporariamente, a criatura sabia que teria de agir, e rápido, antes que eles a alcançassem.

- "Nnngh... E agora, como vai ser?" Ela ponderou. Realmente, as opções pareciam escassas. O batalhão caçando-a estava equipado com a mais alta tecnologia, desenvolvida especificamente para lutar contra qualquer truque que ela teria em seu arsenal. Seria necessitada muita criatividade e astúcia para sair dessa enrascada.

- "... E se... Talvez..." E foi então que dita criatura teve uma ideia. Uma ideia muito arriscada que podia facilmente custar-lhe a vida se executada erradamente. Mas mesmo assim, mesmo com todos os riscos à mostra, mesmo com o fato de que um truque como esse não é utilizado a tempos, ela ainda assim estava pronta para tomar o risco. Afinal, não é como se ela tivesse muitas escolhas além de 'fazer ou morrer'. Um ultimato, e apenas alguns instantes antes de poder tê-lo em efeito. Alguns instantes mortais.

- "Bem... Aí vou eu!" Estufando seu peito com uma determinação forçada, a criatura alada estendeu suas asas, e em um piscar de olhos, lançou-se para fora da árvore e tomou voo pela folhagem do bosque. Mas ela não passou despercebida pelos homens, que logo soltaram fogo em direção do vulto voador.

Os tiros trabalhavam em união para cercar o ser voador, uns indo diretamente em direção dele, passando de raspão com alta frequência, enquanto os outros tentavam guiá-lo a uma zona mais aberta, ou em direção das outras balas. Cada tiro era cuidadosamente planejado. Porém, mesmo com a precisão incrível dos militantes, o ser continuava voando, firme e forte. Era sua vida em jogo, e um erro poderia ser fatal. Então mesmo com as balas que raspavam o seu rosto, e mesmo com um medo mortal o pesando, ele seguiu por um caminho inexplorado por si, mas um do qual ele estava bem ciente da existência.

De alguma forma, ele conseguiu despistar as tropas, e seguia grudado às sombras, com a maior cautela que seu estado de pânico e adrenalina permitiria. Engolindo seu cansaço, o ser seguiu ao longo de uma extensa estrada, a caminho de um lugar do qual ele só havia ouvido histórias. Era o único lugar onde ele tinha alguma chance de sobreviver.

Enfim, depois de muito tempo, e muito stress, checando cada canto para ter certeza de que não estava sendo seguido, ele pôde avistar luzes vindas do que pareciam ser montanhas retangulares de concreto, que refletiam seu forte brilho sobre os céus e rios cercantes, anteriormente iluminados apenas pelo brilho da lua. E quanto mais o ser se aproximava, mais ele podia ouvir um barulho desorganizado, vindo de vários sons se misturando por lá. O barulho de uma multidão, vivendo em conjunto.

Não havia dúvidas, essa era a terra prometida que a criatura ouvia tanto sobre. "Canaã" enfim estava em seu alcance.

- "Huff, huff... É aqui... Heh, heheheh..."

Tão perto de seu destino, de sua *salvação*, tudo que ela conseguia fazer era rir. Risadas que traziam dor e exaustão, mas também alegria.

- "Eheheheh... Ahahahahaha!"

Voando alto, mas não tão alto para não ser avistada facilmente, a criatura da noite solta uma risada que, embora quieta, estava carregada de emoções. Emoções que transbordavam sem controle enquanto ela olhava para seu destino.

Lá estava ela enfim, tão perto de onde sua salvação a aguardava.

- "... Haaaan, certo..."

Um lugar do qual ela conhecia como 'a cidade grande'.

- "... Hora de por a mão na massa!"

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