O relato de Harley

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"Eu ouvi a história da casa fantasma de Ludlow (uma cidadezinha nos arredores do Maine) que tinha sido contada por um menino da minha escola, na hora do intervalo. Ele disse que havia uma casa na cidade de Ludlow que, a cem anos atrás, quatro pessoas foram brutalmente assassinadas na casa, e mantidas no porão da mesma pelo assassino até este cometer suicídio na floresta próxima á cidade. Ele disse que foi só depois de muito tempo que os corpos do porão foram descobertos, quando os vizinhos começaram a reclamar do cheiro ruim, e o assassino, como ninguém sabia do que havia acontecido, foi procurado por todo o país, até ser descoberto estar se decompondo no fundo de um lago da floresta perto de Ludlow, por mais de seis meses.
Eu tomei aquela história como sempre tomaria qualquer uma: uma mentira. Eu gostava de terror, aliás. Gostava de filmes, ouvir histórias, pesquisar sobre coisas assustadoras. Quando eu e meus pais... íamos ao parque de diversões, eu fazia questão de ir no trem fantasma, ou o que fosse, queria ir no brinquedo que desse medo. Nem que fosse sozinho: Mas sempre meu pai ia comigo, por causa daquele negócio de idade e tal, mas ele sempre ficava com mais medo do que eu.
Enfim, quando cheguei em casa não conseguia parar de pensar naquela história. Eu sabia que já tinha ouvido o nome Ludlow em algum lugar e decidi fazer uma pesquisa sobre o assunto.
E descobri de onde me lembrava do nome da cidade: Tinha ouvido no canal de notícias, e que a cidade estava sendo fechada... porque um número grandes de residentes do local estavam sofrendo de depressão, passando a ter tendências á acabarem se tornando assassinos e alguns até se suicidaram.
E acabei lendo uns relatos dos parentes das pessoas que foram internadas ou cometeram suicídio que elas (as pessoas dos quais seus parentes relataram) não eram desse jeito até antes de entrar em uma casa...
E foi aí que caiu a ficha.
Porque aqueles relatos eram iguais á história que meu amigo havia me comtado.
Comecei a pesquisar mais sobre o assunto. Sim, agora tinha certeza que aquela históriazinha de terror tinha realmente acontecido. Mas isso não me deixou com medo.
Eu fiquei foi curioso.
Acho que fiquei quase uma hora e meia sentado na cadeira e mexendo no computador coletando informações e mais informações sobre Ludlow e a casa. Descobri que Ludlow era uma cidade á beira da estrada e muitos acidentes já haviam acontecido, especialmente com animais de estimação. Era uma cidade evidentemente trágica e não era de se esperar que ia acabar se fechando.
Quando acabei minha pesquisa, me decidi do que iria fazer: Viajar para Ludlow e investigar a tal casa assombrada.
Comprei uma passagem para o local mais perto da cidade, que ficava á duas horas daqui de Chester's Mill. Falei pra minha mãe que estava indo no sítio do meu amigo, e só voltaria á noite. Ela disse que ia comemorar uma promoção que meu pai tinha conseguido no trabalho. Ela falou isso com muito entusiasmo, e eu demonstrei surpresa, mas não realmente estava ligando muito. Ela disse que eles iam "passar o dia na estrada", mas eu sabia que eles iam passar o dia em algum motel. Deixei ela me dar um beijo de despedida, e fiz o mesmo com ela, ainda falando para dar os parabéns para o papai.
Estava levando uma mochila com todo meu equipamento: uma lanterna (podia ser escuro), uma câmera (Queria gravar toda a experiência e mostrar aos meus amigos depois), um sanduíche e uma barra de chocolate (eu ia ficar lá a tarde inteira e com certeza ia sentir fome), uma bússola (caso me perdesse, já que era uma cidade-fantasma a qual eu estava indo), uma garrafa de água (eu ia, com certeza sentir sede) e uma faca (em caso de emergência).
A cidade mais perto de Ludlow ficava a um quilômetro da mesma. Aproveitei para fazer uma pequena gravação, falando para a câmera o que estava fazendo ali e aonde estava indo.
Foi uma caminhada cansativa, porque estava muito ensolarado. Uma placa de "Mantenha Distância" estava logo na entrada da cidade mas eu apenas a filmei e entrei sem me preocupar. Quer dizer, é só uma placa, não um policial, e não vai fazer nada comigo a não ser me avisar para manter a distância.
Fui caminhado pela rua em direção a casa, com muita calma, filmando tudo. As casas estavam com um aspecto fantasmagórico, com as madeiras apodrecendo e plantas crescendo nos telhados.
A casa era uma mansão, com todas as janelas fechadas com tábuas de madeira, de forma que nenhuma delas poderia ser aberta.
Valeu a pena trazer a lanterna.
Entrei na casa, com um certo esforço porque a porta estava emperrada.
Acendi a lanterna e liguei novamente a câmera, filmando o hall de entrada.
Era um local escuro, com tapetes empoeirados e sujos, algumas mesinhas e alguns quadros, bem antigos. Andei um pouco mais, iluminando tudo com a lanterna e captando o máximo que conseguia com a câmera.
A casa tinha dois andares. Uma porta á direita levava á um imenso corredor que acabava na grande e luxuosa, porém empoeirada, sala de estar, uma á esquera levava á um outro longo corredor, porém mais curto, que terminava na enorme cozinha, bem empoeirada e mal-iluminada. Decidi que iria no andar de cima primeiro, e investigar todos os quartos.
Meu nervosismo, junto com a minha curiosidade, foram crescendo cada vez mais á medida que eu subia as escadas. Meus passos ecoavam por todo o hall á medida que eu avançava, e isso contribuía para meu nervosismo, mas a curiosidade sempre falava mais alto.
Entrei na primeira porta que vi. Ela dava para um quarto, mal-iluminado por causa das tábuas na janela, com cheiro forte de mofo, chegava até a sair lágrimas dos olhos.
O quarto tinha uma cama de casal no canto do quarto, sem cobertor, colchão e travesseiro, um criado mudo bem empoeirado e com as gavetas removidas, e um armário com uma das portas escancaradas.
Vasculhei o armário. Encontrei um boneco de pano daqueles antigos, com botões nos lugares dos olhos.
Me virei para sair do quarto, quando de repente, ouvi alguém chorando. Parecia um homem. Me assustei, pois pensei que estava sozinho naquela casa esse tempo todo, e não pensei duas vezes em pegar minha faca.
Fui me aproximando da porta, bem devagar, e estranhamente, enquanto o fazia e conforme o choro ficava mais alto, eu ia ficando mais triste. Por alguma razão, eu comecei a pensar nos piores momentos da minha vida, e também da possibilidade dos meus pais morrerem na viagem que estavam fazendo.
Cheguei a agachar no chão e encolher a cabeça para chorar, e, de um momento para outro, pareceu-se que a voz que estava chorando estava mais perto, e logo já parecia um grito.
Olhei para cima.
E juro, juro que ví um vulto, muito distânte, parecendo usar uma capa preta e um capuz, tampando o rosto.
Fechei os olhos mais uma vez e gritei. Quando abri os olhos novamente, não tinha nada lá.
Me levantei e me acalmei. Então, olhei para o relógio. Duas e meia da tarde.
Me assustei quando ví o horário. Quer dizer, não havia nem dez minutos que eu havia entrado naquela casa.
Minha câmera estava no chão, e notei que ela ainda estava ligada. Ela devia ter pegado alguma coisa, mas não ia olhar isso agora. A lanterna estava lá também, mas decidi que ia deixar ela lá mesmo, já que meus olhos já haviam se acostumado com a escuridão. Sai do quarto e deixei ela lá, ligada e tudo.
Nem olhei os outros quartos. Ia sair daquela casa. Se era pra sofrer o que tinha acabado de sofrer, preferia ficar longe dalí.
Quando retornei ao hall, notei um lustre no teto.
Achei estranho. Primeiro porque o lustre não estava todo empoeirado como o resto da casa.
E segundo porque eu não tinha notado aquele lustre no teto quando cheguei.
Fiquei adimirando o lustre por um tempo, até ele, de repente, despencar do teto de onde estava preso.
Pulei bem a tempo de me salvar e fiquei um pouco no chão, me recuperando do susto.
E notei uma porta no canto da cozinha. Fui até ela. Dava para o porão.
Eu senti que não devia entrar lá, mas a curiosidade falou mais alto.
O lugar era mais vazio do que o resto da casa. No fundo do mesmo, havia uma porta parcialmente aberta, ao lado da única janela da casa que não estava fechada com tábuas.
E meu corpo gelou quando olhei para a janela.
Porque lá fora estava...
Lá fora estava escuro. De noite.
Olhei para o relógio. Marcavam nove e meia. Não acreditei. Quer dizer, não tinham só cinco minutos que eu tinha olhado no relógio, e lembro que eram duas e meia da tarde.
Senti vontade de vomitar, então me virei... E ví o vulto que havia visto no quarto, que de repente começou a correr na minha direção.
Corri em direção á porta. Deixei a câmera cair no chão, mas não ia voltar para buscá-la.
Só queria dar o fora dalí.
Só parei de correr quando cheguei na cidade perto, um quilômetro. Depois sentei em um banco e comecei a chorar. Chorei por uns cinco minutos.
Depois, fui para o ponto de ônibus mais próximo e esperei, até o ônibus chegar e me levar de volta para Chester's Mill.
Durante a uma hora da viagem, eu durmi e sonhei que meus pais haviam morrido, assim como na casa. Que eles haviam morrido num acidente de carro.
Quando eu finalmente cheguei em casa, meus pais ainda não haviam chegado. Tentei voltar ao meu pensamento normal, tentei pensar que eles estavam tendo uma "noitada" daquelas, mas não consegui parar de pensar na possibilidade de eles estarem mortos.
Quando fui tomar um banho, pensei em por quê tinha feito aquilo. Por quê tinha ido na porcaria daquela casa, achando que ia ganhar alguma reputação com isso. O que ganhei foi simples:
Merda nenhuma.
Quando acabei o banho, deitei na cama, mas não comsegui dormir. Estava com medo de dormir e ter pesadelos de novo.
Passados alguns minutos, a campainha tocou. Pensei ser os meus pais, mas era o meu tio...
Ele disse que meus pais haviam sofrido um acidente na estrada e não tinham sobrevivido.
E o resto você já sabe."

A Casa AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora