Silent

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Havia uma cafeteria, descendo a rua onde eu morava.

Sabe, as tardes eram sempre tão monótonas naquela região que, para qualquer transeunte que passasse, pensaria estar sozinho num raio de cem metros. Porém não estava. É de certo que as pessoas dali preferem um bom café feito por elas mesmas, seu programa favorito da TV, visto de seu próprio sofá, no aconchego de suas casas; á saírem delas para irem a qualquer lugar, tomarem um café qualquer e, ainda por cima, perderem seu programa.

Mas eu não me encaixava nesta parcela de pessoas daquele lugar. Como havia dito anteriormente, havia uma cafeteria no final da rua em que eu morava, e todas as tardes, passando pela rua deserta, porém não menos bonita, lá estava eu, no café chamado Silent. No começo, logo que me mudei, questionava o nome do estabelecimento, mas logo entendi. Era extremamente quieto, devido ao pouco movimento.

Eram cinco e meia da tarde, o sol sumia no horizonte mais uma vez. Meu período preferido do dia. Tudo é tão calmo naquela rua e, aflorando meu lado antissocial, eu preferia o silêncio acolhedor ao barulho de conversas e murmurinhos de vizinhas conversadeiras, carros transitando e cães latindo para seus semelhantes. Trazia-me tal paz de espírito descer todas as tardes aquela singular e íngreme rua.

O céu era tão lindo quanto as primaveras vermelhas que pendiam no muro que se estendia por toda a lateral direita da rua. O vermelho mesclava-se com o laranja, que por sua vez mesclava-se com o amarelo, e assim tecia o maravilhoso entardecer que tanto me agradava, lembrando-me a obra de Edvard Munch.

Enfim chegando ao Silent, fito sua fachada de tijolos, já maltratados pelo tempo. Era adornada por muitas flores. No parapeito das janelas, penduradas em vasos ao lado da porta, em cima das mesas externas, em tudo. Entro e logo ouço o tilintar do sininho da porta. O ambiente era extremamente organizado e aconchegante. Sentei-me á mesa perto das estantes de livros, como de costume.

Os detalhes me prendiam a atenção e, embora os visse todos os dias, para mim era como estar vendo e surpreendendo-me pela primeira vez. A iluminação era feita em parte pelo restante de luz solar e, em parte por lâmpadas incandescentes suspensas em estruturas de cobre simplesmente lindas e algumas luminárias de parede em partes menos iluminadas do lugar.

As paredes pintadas de um rosa envelhecido eram cheias de molduras e quadros de paisagens desconhecidas e prateleiras com mais vasos de flores. Voltei minha atenção à mesa de madeira escura, onde uma cestinha de vime aconchegava os saches de açúcar e adoçante e outra, colherinhas de plástico.

。Down The Street   。Where stories live. Discover now