Limbo

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Olhei através da janela a minha frente. O entardecer agora tomava a tonalidade quase azul por completo. Era-me incrível como os momentos mais bonitos passam tão depressa, como se a natureza proporcionasse tal beleza apenas aos mais atentos ao horário, ou aqueles que saem de suas casas para tomar um café qualquer, descendo a rua. Pensei nas pessoas enfurnadas em suas casas e senti pena. Talvez nunca houvessem visto aquele céu, aquelas cores.

Passado menos de um minuto talvez, um garçom parou frente a minha mesa e pedi um cappuccino, como também de costume. Chegado meu pedido, agradeci ao atendente e tomei um generoso gole, sentindo a suavidade do leite, a leve amargura do café e o gosto inconfundível da canela. Uma bebida tão simples que pode fazer-te sentir sensações demasiadas complexas.

Foi no longo período de tempo entre o primeiro e o último gole que divaguei por meus pensamentos, seguidos pela sutil música ambiente.

Alguns julgariam futilidade minha estar pensando nos mínimos e mais rebuscados detalhes que me agradam neste estabelecimento, visto que muitos não poderiam estar num ambiente como este. No entanto, tenho certo apreço pela beleza, onde quer que esteja, seja, ou o quanto seja.

Certo dia vi em um filme qualquer, que a vida passa rápido e se não pararmos algumas vezes nossas vidas atarefadas e cinzas para apreciarmos a paisagem ou até mesmo os mínimos detalhes que o cotidiano nos proporciona, acabaremos não aproveitando o curto período de passagem na Terra.
Não se sabe o que ocorre após o fim, afinal ninguém nunca voltou para nos contar como é.
Pode haver um extenso campo verde, muitas flores, um grande lago e uma linda cachoeira. Mas também pode haver apenas o escuro. O limbo eterno.
Pode haver aquilo que todos dizem, aquilo que alguns dizem, ou aquilo que alguém jamais pensou.

Quando dei-me conta, olhando pela janela vi o quase breu da noite, aos poucos dissipando-se pelas lamparinas dos postes da rua que eram acendidas uma á uma. Os pensamentos renderam-me um bom tempo. Era uma época do ano a qual a noite caía mais cedo e mais rápido, e eu mal saberia dizer que horas eram.
Ponderei entre ficar mais um tempo, pedir quem sabe algo para comer e talvez um café para acompanhar; ou sair na noite gélida rumo a minha casa no topo da ladeira.

Visto que meus joelhos doíam, meu casaco encontrava-se em casa - o que me deixava, no momento, com apenas um suéter fino de lã -,  e o delicioso aroma de bolo de fubá recém-assado que adentrava minhas vias nasais; demasiada óbvia foi minha escolha.

。Down The Street   。Where stories live. Discover now