Umas lembranças e um vinho.

Ca estou eu, sentada diante de uma videira que se localizava perante minha varanda, já fazia alguns anos que eu cuidava da mesma. Eu apreciava o sabor incrível que uma minúscula fruta depois de alguns processos se transformava em algo maravilhoso, o vinho.

Sendo um negócio de família, meu avô que começou tudo, a videira passava de geração em geração, e como eu era a única herdeira de meus pais, a plantação havia sido passada para mim. Meu pai acreditava que algum dia eu me casaria com algum homem, mas após sua morte eu tinha ficado desolada e me embriagava em um bar qualquer, até que uma moça sentou do meu lado e desde então tudo mudou. Lembro que seu sorriso era contagiante e tão lindo quanto um por do sol, eu me perdi em seu sorriso de uma forma única, que eu decidi conhece - la melhor e te garanto foi uma das melhores coisas que havia acontecido comigo. Seus olhos negros como uma noite sem lua e estrelas, o batom vermelho que usava destacava em sua pele branca com umas linhas de expressões que deixava meu coração mole só de ver. Resumindo ela era perfeita em todos os sentidos. Lembro que nossa primeiro encontro foi de baixo dessas videiras que a muito produziam. Aquela noite foi única e memorável. Ela havia se entregado a mim e eu a ela de uma forma avassaladora, que eu nunca se quer pensei em me entregar a alguém assim. Depois deitamos a luz da lua e observamos sua perfeição, lembro também que ventava uma brisa refrescante, quase gélida, que no dia havia servido de motivo para poder abraça - la e cobri - la com meu corpo. Havia sido magnífico a forma como nossos corpos se chocavam e se conectavam. Se alguém hoje me perguntasse se eu tinha algum arrependimento eu diria que foi de não te - la conhecido antes. Se fizéssemos uma metáfora, eu antes de saber sua existência eu era uma uva em sua forma mais simples e crua, depois dela eu me tornei um vinho em sua forma mais complexa. Nunca sabemos quando uma pessoa dessa chega em nossas vidas, mas a única coisa e que eu desejo, é que todas as pessoas encontre uma igual a ela, para poderem saber o que é o amor em sua forma mais pura. Depois de nos conhecermos, reformamos a sede da fazenda e com o seu projeto a casa havia ficado uma, não tenho uma palavra para definir de tão maravilhosa que ela ficou. Ela é uma arquiteta sensacional e cada detalhe da casa tinha levado algumas horas de suas noites, após todos os dias que chegava de seu trabalho, lembro que eu havia criado mil e uma ideias numa tentativa frustrada de ajuda - la, mas seu perfeccionismo e sua mente brilhante havia de certa forma rejeitado e melhorado minhas sugestões. Depois de um tempo eu tinha tentado convence - la a larga seu trabalho e passar o dia inteiro comigo, mas ela não tinha aceito dizendo amar o que fazia.

Depois de alguns anos morando na mesma casa, havíamos em uma decisão unânime, decidido que eu geraria uma criança. E assim se passaram nove meses de muita ânsia. Após esse tempo ela nasceu, uma menina linda, dona dos olhos azuis que quando crescesse arrancaria muitos suspiros por onde passasse. Não sei se estou olhando com os olhos de observadora ou de uma mãe, mas ela era linda. Na verdade ainda é. Seu nome depois de muitas tentativas de achar o nome perfeito, escolhemos Francesca. E assim os dias se passavam e ela crescia.

Cada dia se tornava grande demais, já que eu contava os segundos para poder vê - la. Tinha dias que eu não aguentava de saudade e ia até seu trabalho surpreende la. Sua flor favorita era lírios amarelos, sua justificativa era que lembrava da cor do cabelo de nossa filha, por ele ser loiro. Meus dias eram incríveis, pois cada minuto ao seu lado, me proporcionava um misto diferente de sensações que não podem ser descritas em palavras. Talvez pode ser até cliché demais o jeito como eu me refiro a ela, mas e que é impossível conhece - la e não ter a mesma opinião. Lógico que tinha dias que brigávamos, como todo casal, pois seu caráter forte as vezes a deixava insensível à algumas escolhas e decisões causando nossa divergência. Mas de todas as nossa discussões a maioria terminava em nós abraçadas depois de uns momentos mais quentes.

Nossa filha a cada dia que passava ficava mais bonita, talvez puxando um pouco a mãe. Acho que sou meio suspeita em ter essa opinião. Bem a minha criança amava ler e desenhar, era uma criança muito inteligente para a sua idade. Ela nos dava muitos motivos para termos orgulho dela. Era quase que divino a família que eu tinha, talvez um pouco polémica para uma sociedade onde o patriarquismos ainda faz parte da índole de algumas pessoas. Mas o que o amor não nos faz suportar, não é mesmo? Na minha família sempre teve esse tipo de opinião em relação ao novo, um pensamento preconceituoso, mas toda vez que algum comentário me magoava, ela estava la para ser o ombro amigo para eu poder despejar minha angústia.

Tinha dia que ela falava que ia cozinhar, preparar o nosso almoço. As vezes assumimos personagens que não sabíamos que dávamos conta de interpretar até ser necessário. E sim eu interpretava um todas as vezes que ela dizia que ia cozinhar, sim eu era uma ninja. Não que ela não soubesse cozinhar, mas ela era melhor como arquiteta, pois eu tinha de ser sorrateira e ir la adicionar alguns temperos para poder ficar comível, só que o que vale e a intenção e ela fazia com muito amor. Sabe as vezes algumas memórias boas enriquecem nosso dia, por exemplo esses que eu citei a cima. E depois de tanto tempo eu estava aqui sentada, apreciando um vinho, lembrando de todos nossos momentos maravilhosos que tivemos. Talvez eu esteja ficando na flor da idade, pois já faz tempo que esses fatos aconteceram, o sol estava se pondo e uma brisa do entardecer percorria a área, me deixando com leves tremores, mas nada que as sensações que o vinho proporciona, para podermos ignorar esses tremores. E como eu disse cá estou eu contando os minutos e os segundo para poder ser contemplada com a sua presença. E alias essa mulher incrível se chama Ana Paula Padrão a mulher que roubou a meu coração.