Meu quarto transfigurou-se me um cativeiro, um antro de terror e medo propenso à dor e tristeza. Começou me uma noite comum, primeiro com um simples ranger suave da porta sendo aberta, um sussurro amistoso e um murmúrio contente, observo vultos sombrios instalados no fundo do quarto, olhos atentos sobre mim, esbanjando sorrisos maliciosos, criaturas vis com línguas afiadas e sem rostos eles caminhavam de um canto a outro, como um predador atiçado pelo cheiro do medo da suas vítimas, suas auras penumbrais erguiam-se mesmo no escuro e a cada noite eles aproximava-se sorrateiramente de minha cama.
Em uma noite, imóvel sobre meus lençóis, sinto o peso da criatura sobre mim, sua presença impregnava o ar, um cheiro misto de amônia e ureia invadem o ambiente para sobrepor o oxigênio em meus pulmões, um grito abafado morre no fundo de minha garganta, lágrimas que brotam dos meus olhos são tão inúteis quanto as tentativas de me libertar. As criaturas sussurram em meus ouvidos, mordem meu corpo e gelam minha barriga. Vejo as sombras rastejando no teto como moscas, algumas delas lançando gracejos e risos ao léu enquanto outras choram em um canto do quarto, seus sussurros sobre minha índole aumentam com o passar das horas.
Noite após noite as sombras caminham em meu quarto, seus sussurros tornaram-se longas lamúrias de horror, seus sorrisos e minhas lágrimas misturam-se no local. O peso sobre meu peito dificulta minha respiração, minhas mãos geladas e suadas arranham o lençol em um intento desesperado por socorro, o medo toma conta e transborda pelos olhos, minhas pernas tremem e meu coração acelera, entre soluços imploro que a tormenta acabe, que deixem-me em paz.
Na penumbra de uma noite qualquer, os sussurros de lamento tornaram-se gritos de ameaças, as sombras agora caminham pelo teto e paredes e de quatro elas rastejam como vermes, suas cabeças giram em 180º para sorrir ao meu tormento, um sorriso longo e branco para entrar em contraste com suas faces negras. Uma silhueta sombria de olhos pálidos estava sobre mim, puxar o ar com todo esse peso no peito era uma tarefa quase impossível, a sombra sussurrava ameaças, eu tentava gritar, mas não havia ninguém para ouvir, queria correr, mas não havia lugar para onde ir. Mais uma vezes ouço o som das gargalhadas dos espectros que estão no fundo do meu quarto.
As noites jamais voltaram a ser como eram antes, dormir tornou-se impossível com as visitas noturnas dos sussurros. Os vultos tornaram-se agressivos e possessivos, cantarolavam insultos enquanto devoravam minha carne. A dor sempre está presente, mas fez-se suportável com o passar do tempo, imagino que sou responsável por meu tormento, é isso que as sombras dizem, minha punição está sendo bem aplicada elas dizem. Já não tenho medo do meu quarto, meu único temor é estar acostumando-me com as moscas sussurrantes.
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O Sussurrar das Moscas
Short Story[Conto de Terror] Esse é bem curtinho para leitura rápida e reflexão. Espero que aproveitem.