Escrito por: LouiseAkaboshi
— Olá, Rodrigo.Não é possível.
Diante dos meus olhos embaçados e sonolentos está uma Ana bem diferente do usual. Com um vestido simples e casual, que não chega aos seus joelhos, alças finas, deixando seus braços e parte do colo descobertos.
Reforço minha atenção sobre ela, como forma de ter certeza que a minha ressaca não está me fazendo ver coisas. Mas para a minha grande infelicidade não há dúvida alguma. De um jeito como nunca a imaginei ver antes, natural e serena, está a mulher que tem sido ultimamente uma das grandes razões de todo o meu conflito e noites mal dormidas.
— Ana...
Digo mais para mim do que para ela. Poderia prometer ali não beber tanto como fiz na noite passada, mas será apenas mais uma promessa que não posso cumprir.
— Está tudo bem? — doce e melodiosa a voz que adentra meus ouvidos, naquele timbre que te faz ter a certeza que não há mentiras ou más intenções, somente uma profunda e verdadeira preocupação. Preocupação essa que rompe a barreira das palavras e chega até seu rosto delicado. Noto um pequeno vinco entre suas sobrancelhas, suas feições levemente encucadas com o meu estado.
E não seria para menos. Considerando que dormi no sofá da sala, vestindo a mesma roupa a mais horas do que o recomendado e certamente com uma cara que não é das melhores, Ana está mais do que certa em estar intrigada.
— Sim, estou... — piscando repetidas vezes, tentando me acostumar com a luz forte e extremamente clara que vem do corredor, coço o rosto, sentindo a barba crescente devido à minha desmotivação exarcebada pinicar a ponta dos meus dedos.
— Não parece estar tudo bem, suas olheiras e a sua cara amassada dizem exatamente o contrário — seus olhos são curiosos e atentos demais, gerando um leve incômodo em mim que luta por manter uma distância confortável.
— Uma noite mal dormida apenas, nada que um banho e um dia de descanso não ajude — dando de ombros, soo o mais natural que o reflexo de todo o álcool em minhas veias permite, o que não a convence, caso contrário, não teria cruzados os braços na altura dos seios e jogado o peso para uma perna só, na pose que com certeza faz mais sentindo com o que estou acostumado no dia a dia.
— Precisa fazer melhor do que isso — engenhosa e confiante não chegam nem perto de descrevê-la, a mulher exprime em tudo o que faz uma autossuficiência e segurança que colocam qualquer um no chinelo. De todos os homens que trabalhei na vida, nenhum se equipara com a dedicação, conhecimento e entrega que Ana tem.
Fato esse que alimenta ainda mais o peso sobre mim. Caso ela fosse apenas alguém que se baseasse apenas nas palavras, eu não sentiria tanta curiosidade sobre tudo que a envolve. Mas a questão dela beirar a perfeição em tudo é enlouquecedor.
Tirando o destempero momentâneo na primeira vez que nos vimos, nunca mais a vi sendo grossa ou arrogante, pelo menos não comigo. Claro que alguns desavisados do trabalho que não cumprem prazos e são desleixados não têm a mesma sorte.
— Não vou sair daqui enquanto não disser a verdade, e acredite ou não, sou muito boa nisso — acrescenta sem medo algum, deixando claro que não moverá um músculo enquanto a minha resposta não lhe parecer verídica. Solto um leve resmungo com a sua postura, ô mulher que não larga o osso por nada.
— Qual verdade? A sua ou a minha?
Minha réplica a faz menear as sobrancelhas e exprimir um sorrissinho de lado. Mesmo figurativamente, posso sentir as setas inflamadas que seus olhos mandam diretamente para mim.
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De Volta ao Passado
RomanceRodrigo ainda convive com os fantasmas da culpa pelo fatídico dia que perdeu sua amada esposa. Anos depois, ele ainda não conseguiu esquecer, até conhecer Ana. Agora ele terá de escolher entre continuar vivendo no passado ou se permitirá um novo amo...