A correria dos meninos descalços, por sob varais suspensos, pelos quintais de terra vermelha por entre touceiras de bambus, onde roupas e fraldas de algodão secam ao sol.
Com suas pernas cinzentas e canelas trazendo cicatrizes recentes, feridas ainda sem casca, com os olhos fixos do céu, tropeçam aqui e ali em meio algazarra, apontam com os dedos para o canto da praia, enquanto correm morro abaixo, onde a figura de um imenso balão colorido pousa tranquilamente sobre a areia quente,
a tripulação da curiosa aeronave, apenas um homem de cabelos acinzentados, nariz comprido e sorriso largo, sua bagagem uma grande mala de couro, na qual trazia roupas, novidades e bugigangas, que faziam os brilhar os inocentes e ignorante olhos, ávidos pelas das novidades do mundo.-Oh o Samuca... oh o mascate!
Ao abrir a mala em uma das compridas varandas das casas, que pendiam sobre os barrancos íngremes a beira dos caminhos que seguiam morro acima, por entre jabuticabeiras, enormes jaqueiras, passando por entre os quintais.
Era sempre bem-vindo o Samuca, em qualquer casa que chegasse era sempre bem chegado, e o efeito era sempre o mesmo, Mulheres e crianças alvoroçadas, seus sentidos sucumbiam ao fascínio da macies do toque dos cortes de seda de cores intensas, colchas e lençóis de 100000 fios de algodão egípcio, acostumadas ao algodão cru áspero ao toque tingidos de urucum, pau d,arco, ou a extravagância do colorido dos das chitas, marcavam na caderneta e pagavam a prazo a perder de vista, mas nunca deixavam de pagar.
Os meninos atraídos invariavelmente pelo colorido de plástico dos carrinhos ainda rescindindo a fábrica, borracha, tripa de mico, chinelos de dedo viseiras coloridas, reloginhos imprestáveis.
As meninas por laçarotes de cetim, brincos de metal ordinário dourado encrustados com pequenas pedras sem valor, mas que a seus olhos pareciam ornamentos de uma princesa.
O Samuca tão bem-visto, tão bem quisto entre os moradores, depois de certo dia não apareceu mais. Correu o boato de sua morte, mas nunca como havia morrido.
Uns diziam que certa vez após vender toda sua mercadoria, inclusive a mala, esqueceu-se de colocar lastro em seu balão e foi parar na estratosfera, ou que seu balão se incendiara sob o mar, ou ainda que fugira com a mulher do pastor evangélico, a verdade, talvez nunca saibamos.
Mas em um lugar onde correio não chegava a dias de qualquer lugar era reconfortante ouvir pela janela ou por uma porta entreaberta em um dia de chuva ou mesmo numa quente tarde de sol, a voz do Samuca a chamar com suas novidades, hoje nenhum daqueles moradores ao entrar em um loja de shoopping se lembra do velho Samuca, de suas novidades, seus cortes de tecido suas joias de princesa, nenhum se lembra da sua voz através dos quintais a anunciar... Oh o Samuca.
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O Mascate
Short Storyconto curto, narra a historia do mascate Samuca a bordo de um balão.