O telefone está fora de área ou desligado.
Era a décima vez que ligava e a única coisa que ouvia era a mensagem da operadora.
Desolada, me joguei na cama e esperei. Por que ele não me atendia? Por que não me dizia pelo menos que estava bem? Perguntas atordoavam minha cabeça e a angustia o meu peito. Rolei para o lado e peguei o porta-retratos na mesinha de cabeceira.
Lembro-me que tirei aquela foto no dia em que comemorávamos nosso primeiro aniversário de casamento. Na foto, ele sorria de olhos fechados, logo antes de gargalhar por causa de alguma graça que as crianças fizeram. Não prestei atenção, todo o meu foco era ele.
Olhando para a fotografia, derramei silenciosas lágrimas. Não aguentava mais chorar, mas era a única coisa que conseguia fazer.
Com a boca seca e o rosto lavado pelas lágrimas, pedi, com real esperança de que fosse atendida: Querido, pelo menos diga alguma coisa...
Decidida, resolvi ir atrás de alguém que pudesse encontrá-lo. Levantei-me apressada, enxuguei as lágrimas e fui até o guarda-roupa. Quando empurrei a porta de correr, não quis acreditar no que meus olhos viam e no significado de tal visão.
Olhando em volta, me desesperei, e soluçando, desabei no chão. Afinal, ele nunca me deixaria esperando...
Suas roupas não estavam mais ali. Seu cheiro não estava mais ali. Sua presença não mais ali. O que preenchia todo o cômodo era minha tristeza. Meu luto.
A lembrança me atingiu com violência. O carro, a neve, o deslizar os pneus e finalmente a escuridão.
Há semanas o mesmo cenário se repetia. A mesma dor, a mesma descoberta aterradora.
Ainda lutando contra toda inexorabilidade da morte, disquei novamente o tão familiar número, e segurando a respiração esperei.
Quando já estava sem esperança e resolvi desligar, ouvi uma palavra que fez meu coração parar: Alô?