Capítulo I

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  Geralmente uma história de amor começa em uma cena clichê, toda bonitinha, com flores, etc. O garoto esbarra na garota e ambos vão ao chão, onde os olhares se cruzam e eles se apaixonam a primeira vista. Bom... A minha história de amor começou quase assim. Foi em uma floricultura, e ele caiu no chão, por causa de um tiro, da arma de meu pai.

  Era um simples assalto, meu pai queria mostrar como ele ganhava dinheiro pra mim. Mas a polícia insistiu em dar um tiro na cabeça dele. Morreu na hora. Naquele dia, eu tinha sete anos, mas mesmo assim, não derrubei uma única lágrima ao ver meu pai morto. Tudo o que eu fiz foi ir até o pequeno garoto de cabelos negros e olhos azuis escuros. O mesmo garoto que tinha sido baleado por meu pai. Lembro de ter ajoelhado do lado dele, mas não sei de onde as palavras vieram, talvez nunca vá saber, mas elas simplesmente saíram:
  -Meu anjo, salve- me.

  Depois daquele pequeno incidente, fui morar com minha mãe. Uma prostituta conhecida por toda a vizinhança. Casou- se com um milionário e nós duas fomos morar com ele. Mas parece que ele não gostou de ser traído e deu um tiro na cabeça dela. Morreu da mesma forma que meu pai. E foi no meio de repórteres, polícias e pessoas curiosas que eu o vi novamente. Eu já tinha doze anos e ele aparentemente quinze, mas mesmo tendo a certeza de que ele não se lembrava de mim, me abaixei no meio de toda aquela gente e fui até ele, parando em frente a ele. Não sei dizer exatamente porque, mas repeti as mesmas palavras daquele dia:
  -Meu anjo, salve- me.

  Depois daquele dia, fui morar com minha tia. Uma traficante de drogas onde ela me forçava a ajuda- lá no "trabalho". Desnecessário dizer que ela foi presa, certo?

  E foi assim que, com meus quinze anos, fui parar na polícia pela terceira vez. Mas dessa vez, eu não tinha ninguém para morar comigo. Todos estavam mortos... Ou presos.

  E foi ali, naquele tribunal, que um policial levantou- se. Devia ter uns quarenta e cinco anos, cabelos loiros e olhos azuis. Mas não qualquer azul, era a mesma cor dos olhos de meu anjo. A mesma cor que não saia de minha cabeça desde os sete anos.
  -Meu filho já está na faculdade, eu e minha esposa nos sentimos muito sozinhos. Por isso, eu me disponibilizo para cuidar dela.

  E foi depois dessa frase que eu não me lembro de quase nada, apenas o barulho do martelo. Aquele maldito martelo

  O casal foi legal comigo... Na primeira semana. Depois se revelaram ser dois psicopatas, e por causa disso, a cor dos olhos que eu tanto admiráva, se tornaram motivos para meus pesadelos. Passado um mês, fui vendida a um velho senhor de oitenta e poucos anos, que era aquele típico cientista maluco. Ele amava animais, principalmente gatos. Não sei dizer exatamente o que ele fazia comigo, mas tudo que conseguiu foi fazer eu ficar baixinha. Um metro e quarenta e oito centímetros, ninguém merece.

  Aparentemente o que ele fazia era fora da lei, e a polícia prendeu ele. Eu já tinha dezoito anos, e foi assim que eu fui morar na rua. E foi debaixo daquele papelão, que eu o vi novamente.

  Estava chovendo e frio. Lembro que assim que o vi... Desmaiei de fome. Sim, foi muito romântico.

  Acordei em uma cama fofa, bom um pouco de comida ao lado, numa espécie de mesinha. Comi aqueles pães e tomei o suco de forma tão rápida que não lembro o sabor que tinha. E foi bebendo o último copo de suco que escutei uma risada. Uma risada brincalhona e doce. Mas eu não olhei. Sabia quem era. Como? Nem eu sei dizer ao certo:
  -Você me salvou.

  Com isso o silêncio bateu. Levantei o olhar e observei os olhos azuis que tanto me encantaram e ao mesmo tempo me artomentaram.
  -Depois de onze anos, mas sim, eu te salvei. Desculpe pelo atraso.
  -Você sempre foi o meu anjo.

  Disse aquilo em um sussurro, mas ele escutou. Ele sempre escuta:
  - Se sou um anjo, sou um dos asas negras.

  Nisso eu pude ver. Marcas de gilete em seus braços e um sorriso triste em seus lábios.

  Ele dizia que eu era seu anjo também. Seu pequeno anjo que ele devia cuidar.

  Meu garoto sempre foi um anjo, um anjo que sempre tentou retornar aos céus. Mas hoje, ele conseguiu. Voltou pra casa. Seja você quem for que estiver lendo esta carta, saiba que no momento estou morta.

  Mas não fique triste, eu apenas fui reencontrar o meu anjo. Meu doce anjo de asas negras.

Somos dois anjos que retornaram aos céus.

Ass: Um Anjo Aleatório

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⏰ Última atualização: May 03, 2018 ⏰

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