Nos olhos da infância tudo é mais fantasiado. Um homem vestido de palhaço é motivo para as rizadas mais gostosas e verdadeiras possíveis, qualquer objeto se torna algo que nos tirava da realidade, seja um carrinho, um boneco, até mesmo uma caixa de papelão. O que posso exprimir sobre a infância, é que ela tem gosto de saudade, cheiro de terra e marcas de felicidade. É nela que existem os mais inocentes querubins pousados na terra, o canto são suas barulhentas rizadas, e suas asas a imaginação. Uma grande nostalgia nos invade quando pensamos nela, e nos dá aquela ânsia de voltar só por mais um dia para sentir cada momento limpo e sincero, nos deixando entarnecidos e dominados pelo prazer da inocência. No vai e vem da vida houve um tempo em que tínhamos a liberdade de nos imaginar sendo quaquer coisa: um super-herói; um personagem de desenho; um lutador; um médico ou um jogador de futebol. Houve um tempo em que podíamos ficar descalços e nos aventurar pelas ruas, só voltando para casa quando as trevas reclamava. Cartinhas de amor, namoro fictício, profissões honestas sem receber nada em troca, nenhuma preocupação pesando nas costas ou responsabilidades nos sufocando; atos tão simplórios que quando crescemos eles se perdem no meio das ambições e injúrias do mundo adulto. A infância nos tira a malícia e o desejo pelo próximo, só nos importava a companhia em grupo, as brincadeiras e o tempo corrido antes de nossas mães nos obrigar a tirar a sujeira do dia. Nossas histórias cheias de personagens e cores nos transformavam nos seres mais belos, nos olhos mais serenos e viajantes, na mente mais confusa e brilhante. Infância tem a preguiça no sofá da vó, tem o tio que fala gritando e os presentes de natal. Tem as reuniões de família em que você não sabia o motivo, só entendia que era uma vantagem para brincar sem ser observado, até seu cansaço e suas roupas molhadas de suor desmascarar o quando você foi feliz. Há cheiro de tinta e barulho de papel sendo rabiscado, há olhos cheios de ternura e os dedinhos agitados por ter um animalzinho peludo e delicado em suas mãozinhas. E claro, o tão conhecido medo do escuro e do bixo-papão debaixo da cama, os fazendo rezar para o dia amanhecer e os monstros irem embora. Coisas criadas pela própria imaginação dos pequeninos, que ainda não tem a noção de que a vida é mais complexa e temível do que seus pavores pequenos. E sim, a infância é uma saudade e uma realidade que nos seguirá até o desfecho de nossos dias, insistindo em nos fazer infantis mais uma vez, tentando fazermos dar nosso último sorriso inocente.
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Aquela infância
Short StoryNostalgia e lembranças do tempo de criança, um tempo que não voltará, mas nos seguirá de alguma forma.