Fake | Mark Tuan

1st: She was fake

Okay, respire, você pode fazer isso.
Eles são apenas pessoas normais, não vão te fazer mal.
Respire, eles não vão te fazer mal.
Respire.

Porque é tão difícil socializar? Eu queria ter um manual de como fazer amigos. Nunca consegui conversar normalmente com as pessoas. Uma vez ou outra alguma pessoa corajosa e bondosa vinha tentar falar comigo, é, tentar, por que conseguir é outra história. Eu sempre fui muito estranha, e o meu problema é achar que o problema sou eu. Eu sempre me culpo por tudo, e agora não é diferente.

Minha irmã desapareceu a pouco tempo, a mais ou menos uma semana. Eu e ela nunca tivemos um bom relacionamento. Ela era muito diferente de mim, e ao mesmo tempo muito igual, você deve estar entendendo o que eu estou falando. Nós somos gêmeas, é, bem clichê talvez, mas isso é um acontecimento normal.

Ao contrário do que muita gente pensa, meus pais ainda são casados, mesmo durante toda essa desavença. Eu moro com eles, assim como minha irmã morava a um ano atrás. Ela decidiu sair de casa aos "finalmente 18" e ir para Coréia do Sul seguir o sonho dela.

Qual o sonho? Também não sei. Talvez tivesse haver com ser youtuber. Ela realmente gostava de coisas asiáticas e também queria ser "famosa".

Então meus pais deixaram, compraram a passagem para ela ir e pagaram uma faculdade para que ela pudesse aprender a falar coreano. Eu nunca comentei, mas também gostava um pouco da cultura asiática. Também nunca comentei, mas eu sabia falar inglês, meus pais me colocaram num curso de dois anos e eu gostava da língua, por isso me foquei e aprendi.

Eu não era a filha perfeita, mas passava de ano. Minhas notas sempre foram do sete para cima, meu comportamento na escola era impecável já que eu não tinha amizades e muito menos colegas. Minha vida sempre se resumiu a escola, casa, livros, filmes, séries e coisas que não envolvesse pessoas.

Deixe-me resumir o que está acontecendo. Minha mãe está sentada no sofá com as mãos na cabeça, suas olheiras indicam como e quanto tempo ela não dorme. Meu pai está sentado no braço do sofá, com o telefone no ouvido falando com alguém.

Me aproximo sutilmente de onde minha mãe está e sento ao seu lado. Ponho minha mão direita em suas costas e aliso um pouco o local.

- Mamãe? - Chamo, com a voz baixa.

Ela levanta a cabeça, deixando seus braços e fios de cabelos finalmente livres. Ela olha para mim, e eu apenas sinto meu coração quebrar ainda mais. Os cabelos bagunçados, seus olhos fundos vermelhos pelo tanto que ela vem chorando, sua boca seca e eu não sei como, mas ela está mais magra. E nada disso é bom.

- Mamãe...

Sussurro e abro meus braços para que ela pudesse se encaixar entre eles. Ela me abraça e apenas soluça, ela não tinha mais lágrimas para derramar mesmo ainda estando quebrada. Eu agora ponho minha mão direita em sua cabeça, fazendo carinho em seus fios rebeldes, acompanhando esses movimentos eu ponho minha mão esquerda em suas costas. Tento deixa-la o mais confortável possível.

- Filha...

Sua voz sai tão fraca que eu pude sentir como se fosse quebrar realmente a qualquer momento. Eu a apertei em meus braços e dei um beijo em sua bochecha, eu a segurei forte para tentar juntar seus pedaços. Mas eu sabia que isso não adiantaria, nada disso adiantaria.

- Mamãe, vamos conversar, eu posso ir atrás dela, você sabe que sim.

Ela se afasta balançando a cabeça tão freneticamente que chega a me assustar. Ela põe as mãos em meus ombros e puxa o ar fortemente se recompondo.

- Não, Nataly, você também não.

- Mãe, eu prometo que voltarei! Eu só preciso ir lá, buscar as coisas dela, falar com a polícia. Eu preciso fazer algo, e preciso estar lá. Por favor mãe.