O Xadrez Vulgar

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Eu ganhava alguns tantos pontos na luta para a conquista da donzela do bairro, contra o Ricaço. Ele tinha um pequeníssimo defeito: estudou demasiado.

Todos nós sabemos que esses finórios que estudaram muito, na exibição oral de seu diploma ou mestrado ou doutoramento às vezes estragam muitos encontros falando coisas com lógica demais, falam já logo de Yuri Gargari, Descartes, Amstrong, Platão, Sócrates, Anaxmandro, Tales de Mileto, Pitágoras, Éuler , etc. É qual miúda do bairro então que vá suportar essa bagagem toda, "mô" irmão? A miúda só está ainda algures no médio, oh génio... para quê falar de astrologia se ela reside em Viana e mal conhece Cazenga ou Rangel aos detalhes?

Eu ganhava dele nestes interválos de chatices que o cara deixava na tão aborrecida conversa entre eles, eu também só estava algures no médio e eu divertia ela, pela forma que eu me enrolava na oratória, espulsava o sentido da minha mandibula às vezes, isso deixava ela um pouco confusa talvez, mas ganhava sempre um sorriso dela.

Era muito nostalgico seus encontros, mas percebi uma coisa, no meio de todo aque respeito entre eles, diante aquela toda aproximação era só por consideração que suas famílias tinham uma pela a outra, era mais parecido com amizade por caridade, me irritava na mesma.

- Quando é que vais reagir como uma pessoa noramal, oh estupido? – questionou no gozo soberbo daquela gargalhada meu caríssimo amigo, o idiota do Daniel Secombe.

- Mas vocês têm sempre que me complicar, deixa-me ainda um pouco em paz, oh cães de merda – respondi agindo na defenssíva.

- Não é te complicar, você é muito burro pá – continou o Dany me esculachando perante aqueles pacôvios todos.

Não era meu dia de sorte!

- Burro é você, vá para o inferno e vê se tiras o lugar do diabo, imbecil – respondi em sorrisos de boca aberta.

Eles até me divertiam...

- Você vai morrer solteiro, oh camarada – acrescentou também no gozo e em gargalhadas meu exmo amigo, o alto, o sem noção do Geovane Chivas.

- Xé, Chivalucas, és o menos indicado para esse comentário você nem tem namorada, que exista na Terra, ainda mais eu tenho apenas uma tenra e jovem idade cronológica, porém, não morro solteiro só porque essa dama aí não me aceita, comé então – respondi mudando de lado com ele e me juntando à gargalhada com os demais.

- Eu...? eu tenho mais namoradas do que vizinhas, cassule – respondeu o Chivas, cruzando os seus longos braços.

Depois de alguns rostos esclamantes me apercebi de que sem seber e sem querer já me tinha afundado um pouquinho mais, no meu próprio discurso...

- Oh, afinal não te aceitaram mesmo? – questionou o Wallace, o que não deixa passar nada, dando um sinal de olhos para o Leo.

- Ah, cala lá a boca! – respondi mandando a cabeça para trás.

O que me metia muito ideciso era o facto de que o Wallace também falava de Amstrong ou Pitágoras com as garotas, mas de uma forma bem estranha, é que ele era "burramente inteligente", acabei de enventar esta frase. O Leo também só falava de computadores, programações e essas coisas electrônicas com elas, ele tinha geito para as duas coisas ao mesmo tempo, as garotas e os computadores, é raro ver essa combinação, noutras tribos se calhar, mas na minha é tudo novo e tinha muitas "elas" por perto. O Chivas ídem, se não fossem tão "burramente inteligentes" seriam gênios, lei da vida. Já o Secombe, aproveitava-se do escutismo de Lord Baden Powell, nós éramos escuteiros na altura, para falar abertamente com elas, e dava certo mesmo essa tática.

Mas como é que esse gajo do ricaço letrado aborrecia tanto a minha donzela... esse gajo era mesmo parvo yah!

O segredo estava na diverção. Ele era muito formal, não é que não se devemos o ser mas em casos de romances apertados, não tanto.

Ele era mesmo muito fino, muito elegante, vestia mesmo atoa, como outros ricaços que vestem marcas ao invés de roupas, era mesmo daqueles que jogava até xadrez clássico com os tios ricaços como ele, esse daí era mesmo triste.

Um dia de azar bateu minha vida, um encontro com o ricaço sem mais nem meno...

- Olá, boa tarde, como está?... – chegou o ricaço cheio de elegância.

- Estás bom? – rspondí criando uma barreira bem visível entre nós.

- Olha, só vim até cá para fazer com que se entendesse uma coisa: eu estou com ela e tu estás sem, então não venhas vazer aqueles teus joguinhos de piadas e olhares que tens feito. – atacou o senhor finório mostrando impaciência apesar de sua voz tão fina.

- Desculpa, estás a falar comigo? – debochei do indivíduo com face estupefacta olhando para as laterais e com o indicador direito apontado ao peito.

- Não sejais inconsciênte sem perspicácia alguma – respondeu o senhor dos vocábulos.

- Falaste o quê? – provoquei impacto no jovem.

- O lha é o seguinte: as mulheres esbeltas de hoje querem futuro, futuro que não podes dar, elas querem proteção, que nem tens para ti próprio, elas gostão de clássicos como jogos de xadrez, golf, gostam de ouvir Djavan, etc. Tu és o contrário dissi tudo então afasta-te dela – respondeu o ricaço mostrando a tal classe e desconforto me insultando.

- Eu, sinceramente, pensei que tinhas estudado muito lá na Tuga, oh fino, afinal ficaste mais boelo ainda. Isso tudo que tu falaste aí, essas sitações todas não coadunam, yah também conheço algumas palavras, não coadunam com a pessoa de que se fala, esses teus jogos de xadrez clássico e Djavan de exibicionista ela reprova na totalidade, eu sei. Assim tu és o xadrez clássico o vulgar sou eu já, né? – respondí na defenciva arregalando os olhos.

Mas eu tremia na alma, patia frio na espinha, quer dizer eu estou a gritar com um ricaço júnior de Angola, isso aqui pode dar uns tantos anos na grelha, mas não demostrei o medo.

- Xadrez vulgar, quem, tu? faz-me rir, claro que não. A palavra "xadrez" não entra na tua mísera vida, esta palavra em sí já é muita clásse para esta tua "laia". Tu não passas do mal uso do tabuleiro, a famosa "dama" – disse ele ofencivamente, eu senti no osso essa no osso.

Esse indivíduo ainda agora já sabe da "dama"? daqui a pouco vai me falar de" não te enrrite" ou quê...

- Sobe já letra, yah. Passar bem, senhor clássico. – respondí dando um ligeiro empurrão nele caminhando deixando ele para trás...

Rico bem pobre de analogias, que lhe disse que mulher do bairro, símples e natural como ela iria gostar de xadrez ainda por cima clássico ou Djava, tantos clássicos meio vulgares com Andrea Botteli ele foi logo escolher Djavan, esse cara é mesmo parvo, oh Deus.

Burro de merda pá!

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